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Tournier (Célébrations) – Desaparecer

sábado 28 de junho de 2025

Todos os anos na França, cerca de duas mil e quinhentas pessoas são reportadas como desaparecidas à polícia. Esse número sempre me fez sonhar. Pode-se admitir que a grande maioria desses supostos desaparecidos simplesmente quis se subtrair a uma esposa, credores, o fisco, enfim, a um meio opressor e restritivo. Para ir aonde? Alguns terão "refeito a vida" acumulando novamente sujeições semelhantes às que quiseram fugir. Quanto tempo levará para seu passado alcançá-los? Quanto mais a sociedade se organiza e se informatiza, mais difícil e efêmero se torna o desaparecimento. São sem dúvida os mais jovens, os que possuem menos raízes, que têm mais chances de sumir de forma eficaz na natureza. Conheço duas famílias cujos filhos desapareceram antes dos vinte anos, para sempre. Frequentei os mendigos das margens do Sena durante meus anos na Île Saint-Louis. A maioria se calava obstinadamente quando alguém fingia se interessar por seu passado. Mendigos são quase todos "desaparecidos" de um tipo particular.

Mas há os outros, quero dizer os mortos. Primeiro os perfeitamente assassinados, vítimas de um crime cujo autor conseguiu fazer desaparecer o "corpo do delito". Evoca-se o fogão de Landru, onde terminavam suas belas herdeiras. Só que o fogão soltava fumaça, e Landru foi pego. Será realmente muito difícil fazer desaparecer um corpo humano? Receio que a resposta seja não e que o número de casos de assassinato que chegam aos tribunais - os crimes malogrados, em suma - seja ínfimo em comparação com os assassinatos dos quais nunca se ouve falar. A esse respeito, não se pode deixar de destacar a revolução trazida à arte do crime pelo surgimento do saco de lixo. Chega de malas ensanguentadas ou fogões fuliginosos.

E depois há os suicídios. Raramente são discretos. Na maioria dos casos, o candidato ao suicídio, ulcerado pela indiferença da sociedade, sonha com um fim espetacular que estampe as manchetes dos jornais e envenene a vida do maior número possível de parentes. O número de "usuários" que se jogam todos os anos sob as rodas do metrô parisiense gira em torno de cento e cinquenta. E nada se parece menos com um "desaparecimento" que essa carnificina macabra e espetacular.

No entanto, quem nunca sonhou pelo menos uma vez em desaparecer de verdade, evaporar-se sem explicação nem retorno? Sente-se seduzido pela elegância e humor desses adeus enigmáticos. Empédocles atirou-se no Etna, mas suas sandálias, deixadas à beira da cratera, como ao pé de uma cama ou banheira, o traíram. O rei Sebastião de Portugal desapareceu em 1578 na batalha de Alcácer-Quibir, de modo que durante décadas impostores apresentaram-se em seu nome, alegando retornar de um longo cativeiro entre os mouros. O pseudo-Sebastião era cada vez longamente examinado e interrogado por uma comissão ad hoc, e, quando a impostura era descoberta, supliciado com grande pompa para divertir o bom povo de Lisboa. Mais perto de nós, não se sabe bem o que aconteceu com Maurice Sachs, guindasteiro em Hamburgo em 1944.

É verdade que a tentação assume um sentido particular para os escritores. Um escritor pode sonhar com uma glória espetacular para sua obra e uma obscuridade próxima do anonimato para sua pessoa. Não se sabe muito sobre Shakespeare Shakespeare William Shakespeare (?-1616) . Ninguém jamais viu um retrato de Margaret Mitchell. O enorme sucesso da "continuação" de E o Vento Levou mostrou até que ponto a heroína imaginária Scarlett ocupava mais espaço no espírito do público que a própria autora do romance. Portanto, o autor pode "desaparecer" atrás de sua obra. É o que visa a escolha de um pseudônimo. Romain Gary realizou perfeitamente a operação ao fazer o imaginário Émile Ajar assumir uma obra breve, mas maravilhosa de frescor e ternura. O escândalo é que esse sucesso não tenha sido suficiente para afastá-lo do suicídio. Sem dúvida julgou não ter desaparecido suficientemente atrás de Émile Ajar?

Pois essa é a verdadeira questão. Pode-se desaparecer suficientemente sem chegar ao suicídio? No filme de Marcel Carné Hôtel du Nord, Louis Jouvet interpreta um personagem que mudou não só de nome e aparência, mas de gostos e hábitos. "É duro deixar-se a tal ponto", faz dizer-lhe o dialoguista Henri Jeanson. Tão duro que acaba se suicidando por intermédio de um assassino. A morte de Lawrence da Arábia de moto concluiu normalmente a empresa de renegação de seu passado, de sua obra e de si mesmo à qual se dedicava havia anos.

E tu, M.T.? Quando te decidirás a desaparecer, deixando para trás um ou dois livros, como Empédocles suas sandálias? Conheço alguns a quem isso daria tanto prazer! Responderei com estas linhas de Marcel Jouhandeau escritas à margem de um de seus últimos retratos:

"A velhice suscita uma máscara atrás da qual nos esquivamos pouco a pouco antes de nos apagarmos por completo."


TOURNIER, Michel. Célébrations. Paris: Mercure de France, 1999