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Huxley – Os seres humanos podem governar-se a si próprios?

quarta-feira 2 de abril de 2025

Aldous Huxley Huxley Huxley, Aldous (1894-1963) . Admirável Mundo Novo

“As doutrinas da Europa”, escreveu Jefferson, “diziam que os homens, dentro de associações numerosas, não podiam ser confinados no interior dos limites da ordem e da justiça, a não ser por forças físicas e morais desencadeadas sobre eles por autoridades alheias ao seu querer... Nós (os fundadores da nova democracia americana) cremos que o homem é um animal racional, dotado de direitos pela natureza, e com um sentido inato de justiça, que pode ser obstado de prejudicar, e conservado no bem, através de poderes moderados, confiados a pessoas de sua própria escolha e ligadas aos seus deveres por dependência da sua própria vontade.” Para ouvidos pós-freudianos, este tipo de linguagem parece concernentemente extravagante e ingênuo. Os seres humanos são, em grande parte, menos racionais e inatamente justos do que supunham os otimistas do século XVIII. Por outro lado, nem são tão moralmente cegos nem tão incontestemente desrazoáveis como os pessimistas do século XX pretenderam fazer acreditar. A despeito do Id e do Subconsciente, a despeito da neurose endêmica e da supremacia de baixos quocientes de inteligência, a maioria dos homens e das mulheres são, talvez, suficientemente honestos e razoáveis para lhes ser entregue a direção dos seus próprios destinos. As instituições democráticas são preceitos destinados a conciliar a ordem social com a liberdade e a iniciativa individual, e submeter o poder imediato dos governantes de um país ao poder último dos governados. O fato de estes preceitos, na Europa Ocidental e na América, terem funcionado no final das contas, de forma que não foi de todo má, é prova bastante de que os otimistas do século XVIII não se enganaram completamente. Se lhes oferecem oportunidade, os seres humanos podem governar-se a si próprios, e governar-se a si próprios melhor, ainda que talvez com menos eficiência mecânica, do que podem sê-lo por “autoridades alheias à sua vontade”. Se lhes oferecem boa oportunidade, repito; porque a oportunidade é um requisito prévio indispensável.