Página inicial > Ditados > Fernando Pessoa – No túmulo de Christian Rosenkreuz
Fernando Pessoa – No túmulo de Christian Rosenkreuz
domingo 29 de junho de 2025
IQuando, despertos deste sono, a vida,Soubermos o que somos, e o que foiEssa queda até Corpo, essa descidaAté à Noite que nos a Alma obstrui,Conheceremos pois toda a escondidaVerdade do que é tudo que há ou flui?Não: nem na Alma livre é conhecida...Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui.Deus é o Homem de outro Deus maior:Adam Supremo, também teve Queda;Também, como foi nosso Criador,Foi criado, e a Verdade lhe morre...De além o Abismo, Siprito Seu Lha veda;Aquém não a há no Mundo, Corpo Seu.IIMas antes era o Verbo, aqui perdidoQuando a Infinita Luz, já apagada,Do Caos, chão do Ser, for levantadaEm Sombra, e o Verbo ausente escurecido.Mas se a Alma sente a sua forma errada,Em si, que é Sombra, vê enfim luzidoO Verbo deste Mundo, humano e ungido,Rosa Perfeita, em Deus crucificada.Então, senhores do limiar dos Céus,Podemos ir buscar além de DeusO Segredo do Mestre e o Bem profundo;Não só de aqui, mas já de nós, despertos,No sangue atual de Cristo enfim libertosDo a Deus que morre a geração do Mundo.


CENTENO, Y. K.. Fernando Pessoa e a filosofia hermética. Fragmentos do espólio. Lisboa: Editorial Presença, 1985.