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Fernando Pessoa – No túmulo de Christian Rosenkreuz
IQuando, despertos deste sono, a vida ,Soubermos o que somos, e o que foiConheceremos pois toda a escondidaNão: nem na Alma livre é conhecida...Nem Deus , que nos criou, em Si a inclui.Deus é o Homem de outro Deus maior:Adam Supremo, também teve Queda;Também, como foi nosso Criador,Foi criado, e a Verdade lhe morre...De além o Abismo, Siprito Seu Lha veda;Aquém não a há no Mundo , Corpo Seu.IIMas antes era o Verbo, aqui perdidoQuando a Infinita Luz , já apagada,Do Caos, chão do Ser , for levantadaEm Sombra, e o Verbo ausente escurecido.Mas se a Alma sente a sua forma errada,Em si, que é Sombra, vê enfim luzidoO Verbo deste Mundo, humano e ungido,Rosa Perfeita, em Deus crucificada.Então, senhores do limiar dos Céus,Podemos ir buscar além de DeusNão só de aqui, mas já de nós, despertos,Do a Deus que morre a geração do Mundo.
CENTENO, Y. K.. Fernando Pessoa e a filosofia hermética. Fragmentos do espólio. Lisboa: Editorial Presença, 1985.