##### A Leitura do Romance e a Experiência Vicária da Existência
* O romance moderno, ao interrogar a totalidade da experiência humana, inevitavelmente perscruta o próprio ato de ler romances, convidando à meditação sobre como a leitura ou a ausência dela moldam a vida, o pensamento e os atos das personagens, tal como exemplificado fundacionalmente por Dom Quixote, cuja trama gira em torno da leitura de obras de cavalaria, e desdobra-se subsequentemente em obras de Stendhal, onde a (…)
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Chrétien
Jean-Louis Chrétien (1952)
Matérias
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Jean-Louis Chrétien – A exposição do íntimo no romance moderno
28 de novembro, por Murilo Cardoso de Castro -
Jean-Louis Chrétien – Stendhal e o "coração humano a nu"
28 de novembro, por Murilo Cardoso de Castro##### A Natureza da Ficção e a Cardiognosia Stendhaliana
* Estabelece-se uma distinção ontológica fundamental entre o interesse histórico e o interesse romanesco, tal como Stendhal anotara nas margens das *Crônicas italianas*, onde a história, apoiada em documentos, difere radicalmente do romance, o qual detém a prerrogativa da possibilidade do impossível, ou seja, a penetração na intimidade de uma consciência alheia e o conhecimento do que se passa no coração dos heróis, uma (…) -
Jean-Louis Chrétien – Samuel Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA trilogia formada por Molloy, Malone Morre e O Inominável, era aos olhos de Beckett uma obra única, para a qual ele desejava um único contrato de edição, e que foi, em inglês, conforme seu desejo, reunida em um só volume. Conforme as últimas palavras de O Inominável, “é preciso continuar, não posso continuar, vou continuar” (I, 213), ela prosseguiu apesar de tudo uma vez terminada, já que houve o doloroso e dificultoso trabalho de sua tradução, em colaboração para Molloy e sozinho para as (…)
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Jean-Louis Chrétien – monólogos na trilogia de Samuel Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA segunda objeção [ à trilogia de Beckett ] é formal. A presente obra concentra-se no monólogo interior e deixou de lado as narrativas em primeira pessoa. Ora, se a trilogia é de fato uma série de monólogos, estes se apresentam eles mesmos como escritos (um escrito encomendado e remunerado para Molloy (M, 7), um "relatório" para Moran (M, 142)), e não poderiam ser formalmente qualificados como monólogos interiores. No máximo, pode-se dizer que eles têm origem no monólogo interior, como (…)
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Jean-Louis Chrétien – "consciência" na trilogia de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO quarto ponto a ser abordado é o da consciência e seu status. Em sua busca incessante, O Inominável apresenta diversos modelos da consciência ou da subjetividade, sem se fixar em nenhum. O "sujeito" não aparece como suporte, como fundamento subjacente (hupokeimenon), mas como aquilo que detém um processo:
"(...) preciso dizer, quando falo, Quem fala, e procurar, e quando procuro, Quem procura, e procurar, e assim por diante e o mesmo para todas as outras coisas que me acontecem e para as (…) -
Daniélou: Le culte chrétien.
13 de novembro de 2008Extrait d’Origène, par Jean Daniélou. La Table Ronde, 1948.
Origène n’était pas spécialement orienté vers les fonctions liturgiques. D’une part, son ministère propre est celui de la parole. Par ailleurs, son esprit le portait à ne voir dans les signes sensibles que les ombres des réalités spirituelles et à ne pas s’y attacher. Il n’en est que plus précieux de relever les textes où il nous décrit les usages de l’Eglise de son temps et où il nous en explique la signification. Nous pouvons (…) -
Jean-Louis Chrétien – inversão de valores em Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO que está em jogo, como em muitos outros lugares, é uma Umwertung, uma inversão de valores: a descrição que Beckett faz é de um rigor perfeito, está em perfeito acordo com a fenomenologia da linguagem contemporânea de sua obra, mas seu sentido se inverte completamente. Não há, e não poderia haver, idioleto, linguagem que seria apenas minha. Tenho minha dicção, meu fraseado, meu estilo, mas não minha própria língua. A fala, de fato, assina a pertença à humanidade e a uma comunidade (…)
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Jean-Louis Chrétien – reflexão sobre os pronomes pessoais
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA reflexão sobre a subjetividade toma a forma de uma reflexão sobre a fala, sobre a voz, e sobre o que permite seu uso, os pronomes, os pronomes pessoais. O tema reaparece frequentemente: "Depois chega dessa maldita primeira pessoa, já é demais no final, não se trata dela, vou arrumar problemas. Mas também não se trata de Mahood, ainda não. De Worm então menos ainda. Bah, pouco importa o pronome, desde que não sejamos enganados. Depois o preço está pago (sic). Mais veremos mais tarde" (I, (…)
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Jean-Louis Chrétien – "monólogo interior" na trilogia de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO modelo seguinte é para nós da mais alta importância, pois enuncia a possibilidade do monólogo interior como emanando de um eu consistente. Apresenta-se como um programa metódico, fundado em "resoluções" e "decisões". Perdoe-se a longa citação, necessária:
"Supor doravante, nomeadamente, que o que é dito e o que é ouvido tenham a mesma proveniência, evitando duvidar da possibilidade de supor o que quer que seja. Situar essa proveniência em mim, sem especificar onde, sem retoques, tudo (…) -
Jean-Louis Chrétien – Balzac, abstração e especialidade
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNão se trata aqui de expor todas as teses de Louis Lambert, mas apenas de destacar o que é esclarecedor para o presente propósito. Louis Lambert distingue três "esferas", cada vez mais elevadas, no "mundo das Ideias", o único real para ele, três esferas que correspondem a tantas maneiras humanas de viver e pensar, e portanto a tantas categorias de homens, mesmo que existam entre cada esfera e a seguinte formas mistas, onde se participa das duas, em graus diversos e com resultados diversos, (…)
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Jean-Louis Chrétien (2014) – lembrança só é possível a partir do esquecimento
24 de novembro de 2024[...] Levinas retoma a ideia platônica de um tempo perdido que nunca será encontrado enquanto tal, e que só ele nos envia e nos destina, só ele nos dá o ser por vir. Este imemorial do envio, onde o que nos envia nos precede, é uma perda que funda o dom. Este esquecimento antes do esquecimento é profundamente diferente do esquecimento de si mesmo tal como Heidegger o medita, embora este último tenha também um carácter inicial. Tanto em Ser e Tempo como na sua conferência sobre os Problemas (…)
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Rahner: LE MYSTÈRE CHRÉTIEN ET LES MYSTÈRES PAÏENS (II)
10 de novembro de 2008Extrait de Hugo Rahner, Mythes grecs et mystère chrétien. Payot, 1954
PREMIÈRE PARTIE MYSTERION
CHAPITRE PREMIER
LE MYSTÈRE CHRÉTIEN ET LES MYSTÈRES PAÏENS
II
Si maintenant nous serrons de plus près la question de savoir comment, sur le plan concret, l’opposition entre Mystères et christianisme s’est accomplie — et l’exposé en sera fait essentiellement à l’aide des principes déjà esquissés du troisième groupe — il est indispensable de jeter un coup d’œil général sur la nature et (…) -
Jean-Louis Chrétien – personagens na trilogia de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPassemos aos personagens. Desde o início de O Inominável, o "eu" se coloca como sua origem. São "fantoches" (I, 8), "meus delegados" (I, 17), "minhas criaturas" (I, 22), "esses bodes expiatórios" (I, 28), "meu rebanho de excitados" (I, 35), "esses sacos de serragem" (I, 173), etc. É impressionante que os nomes mencionados não pertençam apenas aos dois primeiros volumes da trilogia, mas também a obras anteriores (Murphy), incluindo aquelas que permanecerão inéditas por muito tempo ainda, como (…)
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Jean-Louis Chrétien – Balzac, capacidade de ler nos corações
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNão só, para ele, a cardiognose, a escrutinação do segredo dos corações, é possível, e ele põe em cena situações e personagens onde ela se exerce, seja para o bem ou para o mal, mas ainda faz disso objeto de uma meditação, esforça-se por extrair, em um de seus Estudos filosóficos, as leis e as condições de possibilidade, e chega mesmo a formar um conceito e uma designação próprios. Ilustremos isso brevemente, sem pretensão de exaustividade, tamanha a forma como essa questão percorre a obra (…)
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Jean-Louis Chrétien – maniqueísmo de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEm Beckett, primeiramente a gente se desloca, depois tem dificuldades, e finalmente não consegue mais se mover, o corpo perde sucessivamente o uso de um ou outro membro até que se torne problemático que ainda se tenha um corpo, não estamos mais no mundo, não há mais nem coisas nem pessoas: resta apenas a voz e as palavras, e a crença incerta, vacilante de que, apesar de tudo, apesar do roubo de tudo, eu falo. “Tudo se resume a uma questão de palavras, não se deve esquecer, eu não esqueci.” (…)
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Jean-Louis Chrétien – o eu que fala em Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA essa dimensão transcendental e a essa temática gnóstica soma-se o incessante movimento da fala: este movimento, tendo se desvencilhado do mundo e de qualquer situação definida nele, é apenas um movimento interior, fazendo de L’Innommable um puro romance da consciência sob o modo do monólogo, uma consciência despida que não é mais uma consciência singular e definida, mas uma forma pura do relato. Esse movimento tem duas dimensões, das quais a segunda é pouco enfatizada pelos intérpretes, (…)
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Rahner: LE MYSTÈRE CHRÉTIEN ET LES MYSTÈRES PAÏENS (I)
9 de novembro de 2008Extrait de Hugo Rahner, Mythes grecs et mystère chrétien. Payot, 1954
PREMIÈRE PARTIE MYSTERION
CHAPITRE PREMIER
LE MYSTÈRE CHRÉTIEN ET LES MYSTÈRES PAÏENS
« Viens, je vais te montrer le Logos et les mystères du Logos, et je vais te les expliquer en images qui te sont familières (Protreptique XII, 119, 1.) ».
Dans ces mots, extraits du Protreptique de Clément d’Alexandrie, que nous plaçons comme un leit-motiv en tête de nos exposés, s’exprime l’ensemble du problème qui va (…) -
Rahner: LE MYSTÈRE CHRÉTIEN ET LES MYSTÈRES PAÏENS (III)
10 de novembro de 2008Extrait de Hugo Rahner, Mythes grecs et mystère chrétien. Payot, 1954
PREMIÈRE PARTIE MYSTERION
CHAPITRE PREMIER
LE MYSTÈRE CHRÉTIEN ET LES MYSTÈRES PAÏENS
III
Si nous recherchons un mot d’empreinte grecque qui permette d’exprimer brièvement et profondément le profond problème des rapports entre mystère antique et chrétien, j’aimerais utiliser, en en détournant le sens, la Tessera christologique du concile de Chalcédoine : asygkytos kai adiairetos « sans mélange, mais sans (…) -
Jean-Louis Chrétien – Henry James
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroRomancista por excelência da consciência, Henry James deveria, para as gerações seguintes, aparecer a muitos, não sem que isso suscitasse em alguns sentimentos mistos, como a própria consciência do romance moderno. Ele é o único dos grandes romancistas do século XIX e do nascente século XX a ter deixado uma obra crítica tão abundante e variada: o conjunto de seus ensaios nessa área soma mais de 2.700 páginas densas. Encontram-se ali estudos ou resenhas não apenas sobre romancistas, pequenos (…)