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Abellio (H) – O tema do andrógino em Meyrink

terça-feira 23 de julho de 2024

AbellioH

O tema do andrógino — Não se trata de uma bipolaridade, mas de uma estrutura quadripolar formada pelo casal masculino-feminino. A constituição do Andrógino propriamente dito pode acontecer de duas maneiras: pela realização do casal ou pelo desenvolvimento integral de uma única e mesma pessoa. Longe de ser a procriação, o objetivo essencial do casal é a criação de um "Eu" divino por meio da integração total das forças masculinas e femininas. Como afirma G. Meyrink Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) em O Rosto Verde, "esse é o significado secreto do casamento, que a humanidade perdeu há milênios...", o meio de "atravessar a ’ponte da vida’", de ir além do mundo da separação e da morte. Mas são necessárias temperaturas muito elevadas para que essa alquimia aconteça: "Virilidade inesgotável, feminilidade insondável. O problema da ultimidade do amor reside nisso: o que acontece quando uma virilidade irresistível encontra uma feminilidade inabalável? É preciso então ir além do amor."

Para aqueles, homens ou mulheres, que são capazes disso, o Andrógino, em vez de emanar do casal, se constituirá dentro de si mesmos. Trata-se, portanto, para o homem, de desenvolver sua potencialidade feminina, ou "interiorizar a Mulher", e para a mulher, de desenvolver sua virtualidade masculina, ou "interiorizar o Homem". Assim, diz R. Abellio Abellio Raymond Abellio (1907-1986)

ABELLIO, Raymond. La structure absolue. Paris: Gallimard, 1965
: "Considero que o sentido do amor é edificar dentro de si o próprio ser do amor, isto é, esse conhecimento impessoal que tradicionalmente é a Sophia, o próprio ser da feminilidade. Para mim, para um homem, o problema é tornar patente essa parte feminina que está latente nele, e que é o Conhecimento." Daí esses processos extremamente difíceis, que podem ser chamados de "feminização do Filho", em busca de Sophia, ou de Vênus, dentro de si, e de "virilização da Filha", em busca do Logos, ou de Eros, dentro dela. O Homem verdadeiro, assim como a Mulher última, no estágio do Eu transcendental, são figuras do Andrógino eterno e, além da díade verdade-beleza, representam a essência superior do Bem e o mais alto domínio do real.