Em tudo isso, olhamos sobretudo, por assim dizer, de fora a obra rabelaisiana; é hora, para tentar concluir, de penetrá-la e nos entregarmos mais a ela. É o conjunto de uma Ilíada e de uma Odisseia burlescas, entre as quais as discussões filosóficas do Tiers Livre estabelecem um elo de aparência frágil. A inspiração, qualquer que seja a hipótese que se faça sobre o sentido oculto da obra, é popular, bastante conforme nisso ao "gênero" franciscano, e em todo caso nitidamente anticavaleiresca: (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
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Mérigot (Hermès) – Rabelais e a alquimia (4)
10 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPor outro lado, ele põe em cena duas vezes, e muito amplamente, um sectário da filosofia alquímica, o que chamaríamos hoje de um ocultista. Ele zomba dele com uma violência súbita, que não é frequente nele. O personagem foi identificado com uma certeza quase completa: trata-se de Henri-Cornelius Agrippa de Nettesheim. Nascido em Colônia, em 1486, médico e cabalista, discípulo do abade Tritêmio, exerceu sua arte, de maneira bastante charlatanesca, em muitas cidades da França e da Alemanha, (…)
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Mérigot (Hermès) – Rabelais e a alquimia (3)
10 de julho, por Murilo Cardoso de CastroRabelais interessou-se pela alquimia. Teria sido bem surpreendente que fosse de outro modo. Poucos assuntos lhe permaneceram estranhos. Mas, além disso, a alquimia encerrava então todo o conhecimento dos minerais, tudo o que se tornou, evoluindo, a ciência química. Fazia parte da bagagem habitual do homem instruído, mais ainda se fosse médico, já que a terapêutica emprestava ao reino mineral bom número de suas drogas. Vemos Gargantua e seu preceptor que, quando o ar estava chuvoso, "iam ver (…)
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Mérigot (Hermès) – Rabelais e a alquimia (2)
10 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPode-se a priori presumir que uma obra emana de uma tradição esotérica quando vários autores trabalharam nela, em datas por vezes muito diferentes, com um espírito manifestamente idêntico, embora com talentos literários diversos. Essa observação vale para Le Roman de la Rose, mas também pode ser aplicada ao Pantagruel, cujo quinto livro parece claramente ser em parte de outra mão, embora proceda da mesma tendência que os outros. Além disso, a divisão em cinco livros chama a atenção do leitor (…)
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Gengoux: A Grande Obra de Rimbaud (1)
10 de julho, por Murilo Cardoso de CastroOs platonizantes lembram do renovo que a introdução do ponto de vista dialético produziu na exegese do Banquete. Brochard, no início deste século, e, mais recentemente, com maestria incomparável, Robin, negavam que os discursos anteriores ao de Sócrates representassem o pensamento de Platão. Cada conviva exprimava, à sua maneira e num estilo particular, sua concepção pessoal do amor, concepção mais parcial ou mais "bela", que "verdadeira".
Esta descoberta, que precisava a atitude real do (…) -
Chastel: Pico della Mirandola e O HEPTAPLUS (1)
10 de julho, por Murilo Cardoso de CastroSe Giovanni Pico della Mirandola foi descrito por seus contemporâneos deslumbrados como o "príncipe dos filósofos", é porque trazia à especulação uma paixão excepcional, um entusiasmo provocado pela fascinação do mistério universal, cuja prova mais manifesta é talvez esse estranho Heptaplus, raramente estudado até agora, e que hoje está acessível numa edição prática e segura .
I - « O DISCURSO SOBRE A DIGNIDADE DO HOMEM » E A « APOLOGIA » (1486)
O único texto famoso de Pico, aquele que (…) -
Mérigot (Hermès) – Rabelais e a alquimia (1)
10 de julho, por Murilo Cardoso de CastroCada vez que se relê Rabelais com o propósito preconcebido de seguir tal ou qual opinião, encontram-se sem dificuldade, em certas páginas, confirmações flagrantes, e em outras logo refutações que parecem absolutas. Daí resulta uma impressão de alternâncias da qual La Bruyère, falando em geral e num julgamento célebre, bem transmitiu o caráter contraditório e bastante desconcertante. Que haja aí, em parte, o fato de redações descontínuas, atravessadas pelos eventos de uma vida agitada, é (…)
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Philip K. Dick – Ubik, considerações
9 de julho, por Murilo Cardoso de Castro1974–1976
[4:1] Em Ubik, a força propulsora do tempo (ou a força do tempo expressa como um campo érgico) cessou. Todas as mudanças resultam disso. As formas regridem. O substrato é revelado. O resfriamento (entropia) é permitido avançar sem impedimentos. O equilíbrio é afetado pelo desaparecimento da força do tempo que move para frente. A estrutura básica, por assim dizer, do mundo, nosso mundo, é revelada. Vemos o Logos dirigindo-se às muitas entidades vivas.* Auxiliando e (…) -
Ursula K. Le Guin – Um Discurso de Formatura com a Mão Esquerda
9 de julho, por Murilo Cardoso de CastroQuero agradecer a turma de 1983 do Mills College por me oferecer essa rara oportunidade: falar alto, em público, na linguagem das mulheres.
Sei que há homens se formando e não quero exclui-los, longe disso. Há uma tragédia grega na qual o grego diz ao estrangeiro: "se você não entende grego, por favor balance a cabeça para indicar". De todo modo, cerimônias de diplomação são conduzidas sob o acordo tácito de que quem está se formando ou é homem ou deveria ser. Por isso estamos todas (…) -
Ursula K. Le Guin – Mito e arquétipo em ficção científica
9 de julho, por Murilo Cardoso de Castro"A ficção científica é a mitologia do mundo moderno." É um bom slogan e útil quando se enfrenta pessoas ignorantes e desdenhosas da ficção científica, pois as faz parar e pensar. Mas como todos os slogans, é uma meia-verdade, e quando usado descuidadamente como uma verdade completa, pode causar todo tipo de confusão.
Onde se deve ter cuidado é com aquela palavra complexa "mitologia". O que é um mito?
"Mito é uma tentativa de explicar, em termos racionais, fatos ainda não racionalmente (…)