Esse processo de degeneração das elites foi admiravelmente analisado por Arnold J. Toynbee e por J. Leclercq, cujas obras mencionamos acima; e O Jogo das Contas de Vidro contém a esse respeito muitas reflexões de notável lucidez. O que é preciso destacar claramente é que uma elite sempre se corrompe por dentro, por uma grave deficiência de sua Memória, de sua Vontade, de seu Intelecto, ou de qualquer outra qualidade fundamental. Se uma só delas faltar, o colapso não tardará. Deve-se então (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
-
Dauge (Virgile) – degeneração das elites
29 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Fernando Pessoa – No túmulo de Christian Rosenkreuz
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroI Quando, despertos deste sono, a vida, Soubermos o que somos, e o que foi Essa queda até Corpo, essa descida Até à Noite que nos a Alma obstrui, Conheceremos pois toda a escondida Verdade do que é tudo que há ou flui? Não: nem na Alma livre é conhecida... Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui. Deus é o Homem de outro Deus maior: Adam Supremo, também teve Queda; Também, como foi nosso Criador, Foi criado, e a Verdade lhe morre... De além o Abismo, Siprito Seu Lha veda; Aquém não a há (…)
-
O’Flaharty – roda dentro da roda
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEzequiel viu a roda, lá no alto no meio do ar, Ezequiel viu a roda, lá no alto no meio do ar. E a rodinha girava pela fé, e a rodona girava pela graça de Deus.
É uma roda dentro da roda, lá no alto no meio do ar.
Canção tradicional afro-americana
E olhei, e eis que quatro rodas estavam junto aos querubins, uma roda junto a um querubim, e outra roda junto a outro querubim; e o aspecto das rodas era como a cor de pedra de berilo. E quanto ao seu aspecto, as quatro tinham uma mesma (…) -
O’Flaharty – Minhas joias de família e outras lorotas
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO anel, bendito homem, o anel! Eis por que ele voltou. Se não temos outros meios de apanhá-lo, podemos sempre atraí-lo com o anel.
Sherlock Holmes, em ARTHUR CONAN DOYLE, The Study in Scarlet, cap. IV
Sempre achei que o irmão de minha mãe, Harry, fosse um receptador, embora ela insistisse que ele era um "gemólogo". Todos os dias úteis de sua vida, até seus oitenta e poucos anos, ele ia de sua casa, em Nova Jersey, para a Bolsa de Diamantes de Nova York; também afirmava ter inventado um (…) -
O’Flaharty – As Leis de Manu
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroCerto e errado (dharma e adharma) não andam por aí dizendo: ’Aqui estamos’; nem deuses, centauros ou ancestrais dizem: ’Isto é certo, aquilo é errado.’ ĀPASTAMBA
Estabelecer um livro de leis como o de Manu significa conceder a um povo o direito de, a partir de então, tornar-se magistral, tornar-se perfeito – aspirar à mais alta arte de viver. Para esse fim, a lei deve ser tornada inconsciente: este é o propósito de toda mentira sagrada. NIETZSCHE
Estes dois epigramas sugerem duas visões (…) -
O’Flaharty – Serpentes
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAs serpentes são uma presença sagrada e sinistra ao longo da história do hinduísmo, e ideias sobre elas e imagens que aparecem em muitos textos antigos ressurgem mais tarde na história de Manasa. As serpentes hindus são criaturas liminares, na fronteira entre animais e as categorias antropomórficas de seres (homens, deuses e demônios). Na verdade, uma palavra geralmente traduzida como "serpente" é muito mais ambígua do que uma simples cobra; é naga, que designa qualquer uma das criaturas, (…)
-
O’Flaherty – Shastra
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEste rico turbilhão intelectual, incluindo o crescente desafio do budismo, inspirou intelectuais (principalmente, mas não apenas brâmanes) a se unirem em uma grande reunião de seus próprios sistemas de conhecimento preservados em textos sânscritos. Os dois grandes épicos sânscritos, o Mahabharata e o Ramayana, foram compostos durante esse longo período entre dois impérios, assim como os textos chamados shastras.
Shastra significa "disciplina", em ambos os sentidos da palavra: "sistema de (…) -
O’Flaharty – Redimindo o Kamasutra
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroDuas coisas mudaram minha perspectiva sobre o Kamasutra desde que escrevi alguns dos ensaios iniciais nos quais este livro se baseia.
Primeiro, comecei a reler o Arthashastra de Kautilya para um novo projeto e percebi pela primeira vez o quanto o Kamasutra de Vatsyayana se baseia nele. Essa percepção levou a um novo capítulo, mas também influenciou todas as outras interpretações que tinha do Kamasutra. É surpreendente quantos dos enigmas do Kamasutra se resolvem quando se percebe sua base (…) -
Fernando Pessoa – O caminho da serpente está fora das ordens...
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroLes événements sont des hommes. Les circonstances sont les gens. Une bataille, un dîner, un regard, un baiser - chacune de ces choses, parce que c’est une chose, c’est un être, une personne d’une certaine manière de chair et de sang.
Nous les hommes ne sommes que des événements, lents par rapport aux autres, constitués de cellules, et chaque cellule est un événement parmi les éléments qui la composent... et donc à l’infini à l’intérieur.
Tout est séparé et tout est un. Tous les (…) -
Fernando Pessoa – Fogo
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroWay of the Serpent.
A disposição mundana das coisas, que são geradas pelo Fogo, tem a figura do symbolo do Fogo, que é a Pyramide (de pyr, que em grego é Fogo). Quer dizer, as Ordens das cousas são Um em cima, Dois a meio, e Trez em baixo. São um em cima, porque o vertice é um ponto; são trez em baixo porque a pyramide real tem trez faces, cada uma composta de um triangulo equilatero; são dois em meio porque, embora nada em meio seja materialmente, ou numericamente, dois, é dois todavia o (…)