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Tournier (Célébrations) – Portar uma criança

sábado 28 de junho de 2025

Guiados pela estrela, os Reis Magos dirigiram-se primeiro à corte de Jerusalém. Imprudentemente, revelaram ao rei Herodes que buscavam o novo rei dos judeus, cujo nascimento lhes fora anunciado. Muito interessado, Herodes lhes disse: "Ide e informai-vos com exatidão sobre a criança, e quando a tiverdes encontrado, avisai-me, para que eu também vá adorá-la." No entanto, mandava afiar as grandes facas do massacre dos Inocentes.

A estrela os conduz a Belém. Tendo encontrado o estábulo natal, abrem seus tesouros e oferecem ouro, incenso e mirra. Mas um anjo os dissuade de informar Herodes, e eles retornam a seus países por outros caminhos.

O mesmo anjo aparece em sonhos a José e lhe diz: "Toma a mãe e a criança e foge para o Egito, pois Herodes procurará o menino para o matar."

Essa fuga a cavalo ou a burro diante de um tirano que busca arrancar uma criança de seus pais para matá-la repete-se ponto por ponto na célebre balada de Goethe Goethe Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) O Rei dos Álamos. O pai foge na noite e no vento, carregando seu filho pequeno nos braços. A criança é perseguida por uma espécie de ogro aéreo que lhe faz promessas e acaba por ameaçá-la: "E se não fores consentido, usarei a violência." Por fim, a criança morre nos braços do pai.

Há, portanto, dois tipos de portadores de crianças: os bons, que as salvam, e os maus, que as matam. O bom portador de crianças por excelência é São Cristóvão — Christophoros, o portador de Cristo. Ele carrega a criança no braço esquerdo — com o direito apoia-se numa vara —, ou sentada, ou — como em Bellini — cavalgando seu ombro esquerdo.

Segundo os eruditos, a palavra grega pedóforo (portador de crianças) foi empregada apenas uma vez. Encontra-se em Meleagro de Gadara, que viveu na Síria no século I a.C. Para Meleagro, é o vento que é pedóforo, pois as crianças, mais leves que os adultos, correm maior risco de serem levadas pela tempestade.

O tema do ogro, ladrão de crianças, é recorrente na história e muitas vezes traduz fatos reais. Gilles de Rais provavelmente inspirou O Pequeno Polegar de Perrault (e não Barba Azul, como às vezes se diz). Napoleão era chamado de "Ogro Corso". Em Berna, pode-se ver a Kindlifresserbrunnen (Fonte do Devorador de Crianças), encimada por uma estátua que devora crianças. É um protesto dos suíços contra os recrutadores de mercenários que assolavam o campo. A guerra sempre foi a grande devoradora de crianças.

Mas também existe a boa "pedoforia". Em seu livro O Homem e a Matéria, André Leroi-Gourhan dedica um capítulo ao que chama de "transporte da criança". Os europeus carregam a criança no braço esquerdo para deixar livre a mão direita. Quando não está enfaixada, o bebê senta-se de cavaleiro sobre o quadril da mãe ou da irmã mais velha (Índia e Extremo Oriente). Vê-se cada vez mais na França mães carregando a criança à frente, como numa bolsa marsupial, evocando a fêmea do canguru. Na África subsaariana, a mãe que precisa trabalhar amarra a criança às costas para maior comodidade. O bebê é sacudido com força quando ela cava a terra ou pila grãos num pilão, mas parece adaptar-se. Povos que praticam o transporte dorsal sustentado por uma tira que passa pela testa — como os Ainus do arquipélago japonês ou os Botocudos do Brasil — usam esse método para as crianças. O transporte em bandoleira, para apoiar a criança no quadril, é comum no Pacífico sudoeste, Novas Hébridas, Malásia, sul da Índia e entre os tuaregues do Saara. O berço leve no qual os bebês são amarrados, visto na Noruega, Islândia e em todo o círculo ártico, tem a vantagem de também poder ser colocado no chão.

É nisso que a pedoforia do Norte se distingue mais nitidamente da do Sul. Nos países ocidentais, transporta-se o bebê quando necessário; no resto do tempo, ele fica no berço. Nos álbuns de Bécassine, de Joseph Pinchon — que refletem os costumes da Bretanha de outrora —, vê-se um bebê enfaixado pendurado num prego na parede, como um quadro. Já na África subsaariana, no sul da Índia e na América Latina, a criança nunca perde — nem de dia, nem de noite — o contato tranquilizador com o corpo materno.

Talvez seja por isso que, nesse terceiro mundo tão desfavorecido, nunca se ouve um bebê chorar. A criança abandonada a si mesma, gritando sua angústia existencial, é uma triste especialidade ocidental.


TOURNIER, Michel. Célébrations. Paris: Mercure de France, 1999