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Tournier (Célébrations) – Papai Noel é um Rei Mago?
sábado 28 de junho de 2025
A festa do Natal, tal como se apresenta em nosso imaginário, contém um paradoxo que nasceu da progressão geográfica do cristianismo. Partindo do Oriente mediterrâneo, a nova religião avançou em direção noroeste, alcançando a Grécia, a Itália e depois toda a Europa Ocidental. Paul Valéry perguntava-se qual poderia ser seu futuro em países onde o pão e o vinho são desconhecidos, exceto como produtos exóticos. Pode-se fazer a mesma pergunta sobre o clima e as estações. Lembro-me da estranheza de uma ceia de Natal nos trópicos. Serviram-nos em uma sala refrigerada, cujas paredes exibiam paisagens de neve com pinheiros, chalés, esquiadores e trenós. Ao avançar para o norte ao longo dos séculos, o cristianismo inevitavelmente sofreu metamorfoses e até rupturas. A Rússia e os países anglo-saxões não podiam acomodar-se indefinidamente ao espírito e ao centralismo católico romano. Os cismas ortodoxo e protestante marcam o nascimento de um cristianismo não mediterrâneo, ora oceânico, ora continental.
Cada etnia e mesmo cada indivíduo é livre para identificar-se mais profundamente com esta ou aquela passagem dos Evangelhos. Enquanto o gênio espanhol, inclinado ao dolorismo com todas as nuances sádicas que isso implica, privilegiava o suplício da cruz, os países nórdicos sentiram-se mais inspirados pela natividade. O Natal é, portanto, antes de tudo, uma festa nórdica, e sua importância só cresceu à medida que a evangelização avançava para regiões de forte contraste entre verão e inverno. Para nós, o Natal não está no coração do inverno, mas em seu limiar, como uma inauguração solene, e raramente o celebramos sob a neve. Mas ele ocorre no momento dos dias mais curtos e das noites mais longas, e isso é ainda mais significativo. O Natal deve ser uma festa noturna. Foi sob influência dos países nórdicos que o nascimento do Salvador foi situado no solstício de inverno, primeiro porque marca a morte e o imediato renascimento do sol. A Igreja também pretendia substituir o culto ao sol pelo de Jesus, e quase conseguiu, embora o antigo espírito pagão ainda transpareça em muitos pontos sob a iluminura evangélica, ameaçando distorcê-la. Ainda assim, a associação entre a ideia do Salvador e a do sol é explícita, tanto nos Evangelhos (Mateus diz que, no monte Tabor, a transfiguração fez o rosto de Jesus "brilhar como o sol") quanto na forma do ostensório, onde a hóstia consagrada é oferecida à adoração dos fiéis.
No entanto, a iconografia da natividade — o presépio, o boi e o burro, os pastores, depois a fuga para o Egito diante da ameaça de Herodes — e a do Natal nórdico — o velho de barba branca em seu traje vermelho, conduzindo um trenó puxado por renas e carregado de presentes — pareceriam, à primeira vista, profundamente distintas, até irreconciliáveis. Uso o condicional porque existe uma ponte entre esses dois cenários igualmente mágicos: os Reis Magos. Sim, a pergunta deve ser feita, pois sua implicação é vasta: o Papai Noel seria um Rei Mago?
Os Reis Magos são mencionados apenas no Evangelho de Mateus. Seu sucesso na história da pintura foi imenso. De Jean Fouquet a Botticelli, de Dürer a Rubens ou Poussin, a adoração dos Magos tornou-se quase um exercício acadêmico. Nada mais "pictórico" que o contraste entre a pompa oriental dos reis vindos da Arábia Feliz e a simplicidade da Sagrada Família, o poder temporal prostrado diante da fragilidade iluminada pelo Espírito. Esse episódio tocante e magnífico da natividade traz duas lições tradicionais.
A primeira lição é ecumênica. O ecúmeno é o conjunto das terras habitadas, uma palavra bela e terna que mereceria entrar no uso cotidiano. Os Reis Magos são estrangeiros. Vêm de horizontes distantes. Tradicionalmente, há um africano entre eles. Após a conquista do Novo Mundo, surgiram representações da "adoração" com um chefe indígena. Isso mostra que o cristianismo está aberto a todos, independentemente de raça ou origem. O batismo basta para fazer um cristão, contrastando com o judaísmo, visto como uma seita fechada.
A segunda lição da adoração dos Magos condena o miserabilismo atribuído ao cristianismo por certa tradição. Jesus nasceu num estábulo, e seus pais viajavam como vagabundos, mas príncipes orientais acorreram. "Abriram seus tesouros e ofereceram ouro, incenso e mirra." Os pastores talvez tenham trazido alimentos ou utensílios, mas com os Magos chegou o luxo mais puro. Para que serviriam ouro, incenso e mirra? Para nada, exatamente, mas um presente de Natal não deve ser inútil? Há algo mais triste para uma criança do que ganhar meias, um cachecol ou um caderno escolar? Jesus jamais esqueceria essa lição de luxo desinteressado. Quando Maria Madalena ungiu seus pés com perfume caro, os discípulos protestaram: não seria melhor dar aos pobres? Jesus os repreendeu: os pobres sempre existirão, mas ele não estaria sempre entre eles. O verdadeiro cristão, como diz Mateus, não se preocupa com suas vestes, mas é vestido esplendidamente pela Providência.
Quantos eram os Reis Magos? Mateus não diz. A tradição que fala em três baseia-se nos três presentes — ouro, incenso e mirra. Mas o texto não afirma que cada rei trouxe um presente. Seu número varia em diferentes representações. O romancista alemão Edzard Schaper escreveu O Quarto Rei Mago. Perguntei-lhe se se baseava em uma lenda conhecida. "Uma lenda russa", respondeu. A Igreja Ortodoxa sentia-se humilhada por não ter um representante em Belém. A lenda conta que um príncipe russo partiu com presentes, mas, vindo de mais longe e atrasado pelas esmolas que distribuía no caminho, chegou tarde — e de mãos vazias. Vagou por 33 anos até encontrar Jesus na Sexta-Feira Santa, aos pés da cruz, oferecendo apenas sua alma. Antes de Schaper, essa história foi contada pelo pastor americano Henry L. Van Dyke (1852-1933). Inspirei-me nela para meu romance Gaspar, Melchior & Baltasar.
Um homem atravessando a estepe russa coberta de neve, com um trenó puxado por renas e carregado de presentes que distribui pelo caminho... Esse retrato do quarto Rei Mago, criado pela mitologia ortodoxa, não seria o Papai Noel que buscamos? Para completar a identificação, basta dizer que ele desistiu de encontrar o menino Jesus há dois mil anos e contenta-se em presentear todas as crianças que encontra. Quanto à barba branca, lembra sua longa busca, anos de generosa jornada. Assim, talvez se restaure o fio de ouro entre as duas iconografias igualmente queridas por nossos corações infantis.


TOURNIER, Michel. Célébrations. Paris: Mercure de France, 1999