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Le non-dualisme de Spinoza ou La dynamite philosophique
René Daumal – Não-dualismo de Espinosa (1)
terça-feira 1º de julho de 2025
Como o mundo, a Ética aparece a cada um segundo seu grau de ser, de modo diferente. Cada vez que me aprofundei nesse edifício, a planta me parecia mais vasta, a cor renovada, o sentido mais único e mais profundo.
Mas, incapaz de dizer tudo de uma vez, já proferi dois absurdos: “grau de ser” e “mais único”. É suficiente dizer que a ideia que tenho de Espinosa Espinosa , ou de qualquer outra coisa, nunca é definitiva para mim. É uma ideia conforme à minha medida.
O Ser e o Uno, sem graus, sem mais nem menos, sem segundos, tal é o ápice e o sentido supremo desta escala deslumbrante, a Ética; os graus estão para, mas não dentro do Ser e do Uno. O ponto de partida é aqui onde estamos, no erro humano. O ponto de partida é no ódio, na ignorância, no sofrimento. O ponto de partida é o número dois. A Ética narra o doloroso percurso da dualidade até a Alegria, o Conhecimento, e o Amor da Unidade.
Na obra de Espinosa Espinosa , o dualismo é a primeira aparência. O fim é o verdadeiro sentido; prefiro chamá-lo de “não-dualismo”, como fazem os pensadores vedantinos da Índia, em vez de “monismo”, palavra que sugere demais um pensamento adormecido em um sistema.
“Não-dualismo”: essas palavras, bem assimiladas, poderiam fazer ruir a velha, morta construção de nossa cultura ocidental moderna, fundada na dualidade, na separação e na contradição. A luta do um contra o dois ultrapassa a filosofia. Desenvolve-se no corpo, nas paixões, nas instituições sociais como nos conceitos. Espinosa Espinosa lutou com todo o seu ser pela verdade. Não é um simples filósofo. É um sábio. Se deu à sua obra uma moldura filosófica e até matemática, o fez porque suas atitudes particulares o levavam a lutar sobretudo nesse terreno, a falar sobretudo essa língua. Mas, assim como é, a Ética encerra os germes de uma revolução total, aquela que deve derrubar tudo em todos os homens.
Indo do abstrato ao concreto, e subdividindo artificialmente os aspectos do pensamento espinosano em metafísica, metodologia, moral, sociologia, reencontro a cada passo o mesmo esquema dialético: a dura constatação da dualidade; a afirmação intelectual da unidade; o ato espiritual de resolver a dualidade na unidade vivente. E é sempre um escândalo para a maioria dos homens.

