Fernando Pessoa - exibicionismo

Jean Seul – Capítulo I

Dizer que existe uma perversão sexual chamada exibicionismo não é novidade para ninguém. Hoje em dia lê-se muito sobre perversões sexuais, não porque sejam doenças, mas [simplesmente] porque são perversões sexuais. Espero portanto apenas surpreender algumas pessoas jovens com menos de 9 anos com esta declaração inicial.

Dizer, continuando, que esta perversão consiste na necessidade de expor os órgãos sexuais [-esses órgãos genitais que... -] tem pouca originalidade, pois quem sabe que existe uma perversão sexual chamada exibicionismo não pode deixar de conhecer o significado dessa palavra nos dicionários de medicina. Da mesma forma, os jovens mencionados, ao ouvirem a definição da palavra, não ficarão surpresos, pois, se por acaso desconheciam o termo, certamente têm experiência da coisa a que ele se aplica.

Ora, é mais do que nossa profunda convicção que os casos de nudez pública nos music-halls de Paris, e talvez alhures — pois para nós é o fato que importa e nada mais — não passam de casos de exibicionismo não evidente, mascarado. Esta convicção parece estranha, mas só o é para quem não estudou a doença em questão. Para demonstrar que os fatos de que falamos são apenas casos de exibicionismo, é preciso escavar esta matéria, aprofundá-la, analisar em toda sua extensão esta perversão sexual.

É isso que faremos.