Por todas essas razões — e algumas outras de puro capricho — nasce a tentação, para um contador de histórias profissional, de um dia compor uma coletânea de suas histórias favoritas.
Mas que histórias, que contos escolher? Como, no oceano, identificar, preferir algumas gotas? Obrigatoriamente, mesmo com pesar às vezes, é preciso selecionar, é preciso eliminar.
Assim, as histórias que reuni e contei à minha maneira (que é uma maneira entre outras, em um dado momento, em um dado lugar) não (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
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Jean-Claude Carrière – Estórias preferidas
2 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Zarader – Blanchot, doação da "noite"
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEm primeiro lugar, procurar-se-á demonstrar como Blanchot consegue assegurar a doação do que ele denomina a «noite». Mais exatamente, procurar-se-á mostrar que é possível assegurar rigorosamente essa doação — mesmo que, se for o caso, complementando as justificativas que ele propõe. O importante é que, ao afirmar o aparecimento da noite, Blanchot realiza um ato que pode (e deve) ser filosoficamente assumido, embora suponha uma crítica às filosofias anteriores.
Para demonstrar isso, convém, (…) -
Zarader – Blanchot, uma abordagem fenomenológica
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPara que esta demanda tenha alguma chance de sucesso, é preciso ainda dispor de um método apropriado. Daí a segunda decisão interpretativa: ela consiste em suspender essa avaliação filosófica da obra a um critério estritamente fenomenológico. Convém explicar-se. É evidente que Blanchot não se reivindica diretamente da fenomenologia, corrente de pensamento da qual, aliás, tem apenas um conhecimento fragmentário. Mas a questão não é essa: é antes saber se o pensamento que ele implementa se (…)
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Zarader – Blanchot: a noite, o fora, o neutro, o desastre
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA primeira decisão será submetê-lo [a Blanchot] a uma leitura filosófica. Isso supõe, primeiramente, que os vocábulos que usa (principalmente os quatro grandes vocábulos diretores: a noite, o fora, o neutro, o desastre) sejam esclarecidos em sua especificidade, claramente diferenciados de conceitos vizinhos dos quais emprestam alguns de seus traços sem, contudo, se reduzir a eles; única forma de circunscrever o que, por eles, é proposto ao pensamento. Isso supõe, em seguida, que essas (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroComo as minhocas que, diz-se, fecundam a terra que atravessam cegamente, as histórias passaram de boca em boca e dizem, há muito, o que nada mais pode dizer. Algumas giram e se enrolam dentro de um mesmo povo. Outras, como que feitas de uma matéria sutil, furam as paredes invisíveis que nos separam, ignoram o tempo e o espaço e simplesmente se perpetuam. Assim, esta conhecida entrada circense, onde alguém procura um objeto perdido em um círculo luminoso, não porque o objeto se perdeu naquele (…)
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Blanchot – O "desconhecido" na pesquisa
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroDas observações anteriores, retenhamos duas indicações. O desconhecido que está em jogo na pesquisa não é nem objeto nem sujeito. A relação de palavra onde se articula o desconhecido é uma relação de infinitude; donde se segue que a forma em que se realizará essa relação deve de alguma maneira ter um índice de "curvatura" tal que as relações de A para B nunca serão diretas, nem simétricas, nem reversíveis, não formarão um conjunto e não tomarão lugar num mesmo tempo, não serão portanto nem (…)
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Blanchot – A linguagem da pesquisa
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroUma das questões que se colocam à linguagem da pesquisa está, portanto, ligada a essa exigência de descontinuidade. Como falar de modo que a palavra seja essencialmente plural? Como pode se afirmar a busca por uma palavra plural, fundada não mais na igualdade e desigualdade, não mais na predominância e subordinação, não na mutualidade recíproca, mas na assimetria e irreversibilidade, de tal forma que, entre duas palavras, uma relação de infinitude esteja sempre implicada como movimento do (…)
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Blanchot – Nota de abertura a "L’Entretien infini"
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroCertamente, ainda se publica, em todos os países e em todas as línguas, livros dos quais uns são considerados obras de crítica ou de reflexão, outros levam o título de romance, outros se dizem poemas. É provável que tais designações durarão, assim como ainda haverá livros, muito tempo depois que o conceito de livro estiver esgotado. No entanto, é preciso primeiro fazer esta observação: desde Mallarmé (para reduzir este a um nome e este nome a uma referência), o que tendeu a tornar estéreis (…)
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Blanchot – A "forma" da pesquisa
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA poesia tem uma forma; o romance tem uma forma; a pesquisa, aquela em que está em jogo o movimento de toda pesquisa, parece ignorar que não tem uma ou, o que é pior, recusa-se a interrogar-se sobre a que toma de empréstimo à tradição. "Pensar" aqui equivale a falar sem saber em que língua se fala nem de qual retórica se serve, sem pressentir sequer o significado que a forma dessa linguagem e dessa retórica substitui àquele sobre o qual o "pensamento" gostaria de decidir. Acontece que se (…)
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René Daumal – A patafísica dos fantasmas (Segunda Versão)
1º de julho, por Murilo Cardoso de Castro"O que é um buraco?", perguntava um palhaço ao seu comparsa na pista do Medrano. Tendo o deixado embaraçado, apressava-se a triunfar: "Um buraco", dizia, "é uma ausência rodeada de presença". Para mim, este é o exemplo da definição perfeita e a tomarei emprestada para precisar meu objeto. Um fantasma é, de fato, um buraco; mas um buraco ao qual se atribuem intenções, uma sensibilidade, costumes; um buraco, isto é, uma ausência – mas a ausência de alguém e não de algo – rodeado de presença – (…)