Vamos tentar traduzir a mensagem de Sófocles em uma linguagem compreensível para os homens de hoje. Vamos tentar levar a sério mesmo o que à primeira vista nos parece não apenas estranho mas chocante: o culto aos mortos que supera o respeito pelos vivos, o risco da própria vida pelos costumes e ritos, a crença nos oráculos e nos deuses. A mensagem de Sófocles é eminentemente simples, mas é precisamente isso que complica a tarefa de compreendê-la. Outra dificuldade reside no fato de que o (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Patocka – Antígona e a lei
3 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Patocka – Tragédias de Sófocles
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA ideia de representar juntas as três tragédias sofoclianas sobre o tema dos Labdácidas se impõe do ponto de vista da unidade da história mítica das gerações sucessivas dos descendentes de Lábdaco, do ponto de vista do destino que se cumpre de pai para filho e até os filhos desse filho. Mas a unificação também coloca um problema: se Antígona, obra anterior às outras duas e concebida independentemente delas, é, nessa perspectiva, colocada no final, o espectador pode crer erroneamente que a (…)
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Patocka – Mito
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTodos temos o hábito de abusar das palavras, de reduzi-las ao seu significado mais banal para usá-las como uma espécie de moeda falsa. É, entre outros, o caso da palavra "mito", que designa aos nossos olhos uma mistificação ou uma automistificação, uma representação anônima, surgida não se sabe de onde nem como, uma simples opinião ou rumor desprovido de fundamento que não consideramos como uma criação do pensamento com alcance objetivo, mas sim como um epifenômeno subjetivo. É nesse sentido (…)
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Patocka – Digressão sobre a tragédia ática
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA tragédia ática expressa de maneira nova uma intuição homérica muito antiga: por mais forte, por mais semelhante aos deuses que seja, não é permitido ao homem transgredir a lei suprema, sob pena de cair fora de seu papel em uma queda tanto mais cruel quanto mais alto seu destino o tiver elevado. A consciência desse interdito é agora abordada sob um ângulo diferente, em uma nova luz dada pela relação com a sociedade, com a comunidade, com a coletividade humana em geral. É aí, nessa nova (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias, como organizá-las
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroMuitas das histórias a seguir foram me contadas aqui e ali. A maioria eu encontrei em livros (mais de duas mil). Tentei relatá-las de forma simples, com o mínimo de literatura, esforçando-me para me apagar, como é de costume, para colocar a narrativa à frente do contador de histórias. Qualquer transcrição desse tipo de conto é necessariamente falha. Não é feito para ser lido. Espero que a simplicidade da minha entrega permita a outros contadores — oralmente — bordados, divagações, um jogo, (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias se repetem
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNão há certeza de que a História se repita. O fenômeno é frequentemente discutido. Mas a história — com "h" minúsculo — gosta de se repetir incansavelmente. Todos sabemos: aquilo que um dia ouvimos e nos agradou, sentimos como uma necessidade, como um leve dever, de transmitir. Aqui não há segredo, nem guarda ciumenta. No final de uma refeição, assim que um dos convidados entrega uma história, outro lhe responde, preocupado em fazer melhor, e assim por diante. Isso pode ocupar a noite. Uma (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias, contador
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA única ambição do contador de histórias é parecer necessário. Como um camponês ou um padeiro. Nem mais, nem menos. Pois as histórias que ele conta revelam certos aspectos do espírito que não são perceptíveis de outra forma. Civilizações muito poderosas o colocaram no centro dos cruzamentos, às vezes no centro do próprio palácio, e sua santa padroeira é obviamente uma mulher, a ilustre Sherazade, que jogava uma cabeça em cada relato, que encantava cuidadosamente a noite e se calava, (…)
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Jean-Claude Carrière – Estórias, origens
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroDe onde elas vêm?
Alguns povos amaram as histórias com uma espécie de paixão, depositando nelas a maior parte de suas verdadeiras preocupações e, consequentemente, de seu saber-viver.
Em primeiro lugar, neste livro, figuram as histórias do budismo zen ou da tradição sufi, pois nesses dois casos a história foi considerada a própria ferramenta do conhecimento. Evidentemente, aqui, as histórias, especialmente concebidas e contadas, visam a um ensinamento em vários níveis. Para tanto, elas (…) -
Jean-Claude Carrière – Estórias, inventar
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEm algum lugar da Índia, um carregador de água levava água de uma fonte para uma aldeia, onde a vendia. Ele carregava sua carga em dois potes, presos a uma barra de madeira em cada lado de seus ombros.
O pote da direita estava intacto e sempre chegava cheio ao vilarejo, mas o pote da esquerda estava rachado e perdia metade da água no caminho.
Isso continuou por vários anos. O homem não tinha dinheiro para comprar outro pote. Um dia, o pote rachado falou e disse ao carregador:
– Tenho (…) -
Jean-Claude Carrière – Estórias como fabulações para pensar
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPouco a pouco, ao compor este livro, o que me levou mais de vinte e cinco anos, percebi que procurava outro tipo de contos e histórias, presentes em quase toda parte, mas tão difíceis de classificar que eu não sabia como chamá-los. Histórias de sabedoria? Isso é tão sem graça quanto uma entrega de prêmios. Histórias de saber viver? De ensinamento? Histórias divertidas e instrutivas, como se dizia antigamente? Histórias engraçadas? Mas isso parece uma coletânea de piadas. Contos do espaço e (…)