8. João Guimarães Rosa nos legou Sagarana, algo grande e à maneira de saga, isto é, grande e à maneira de lógos, a forma dizedora, mostradora – o sentido antecipador-instaurador. Este mesmo Rosa, para dizer história, no sentido grande e imediato de dar-se, acontecer, fala, em algum lugar, de acontecências. Grande, que se vem usando acima, não quer dizer de tamanho maior, nada enorme quantitativa e mensuravelmente, nada ‘grandão’ ou agigantado, mas, sim, [30] está apontando para a dimensão do (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Gilvan Fogel – estórias (Guimarães Rosa)
5 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Lecouteux – Elfos de Luz
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroUma vez construído Ásgard (Mundo dos deuses), os Ases ergueram lá moradias maravilhosas para cada um deles. Uma delas se chama Álfheimr, ou seja, Mundo dos elfos. É difícil localizá-la com precisão: segundo alguns textos, ela fica dentro do segundo céu. Isso a faz coincidir com Gimlé, a mais bela das moradas celestes, situada no extremo sul do céu, na qual se reconhece a morada das almas, termo usado aqui sem qualquer conotação cristã, o refúgio dos homens justos e bons.
Os Ases (…) -
Paul Arnold – Sonho de uma noite de verão
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNão se conhece a data exata em que foi escrito e criado o Sonho de uma Noite de Verão. Não é impossível sustentar que a obra, recém-composta, foi representada pela primeira vez em 26 de janeiro de 1595 perante a corte então em Greenwich, por ocasião do casamento de William Stanley, VI conde de Derby, com Elisabeth de Vere, filha do conde de Oxford. Lembrou-se, para sustentar isso, que a trupe da qual Shakespeare fazia parte atuou perante a rainha, no palácio real de Greenwich, nos dias 26 e (…)
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Mário Martins – O tempo em lendas de viagens
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroSobre o mar sem fim, navegou o abade irlandês S. Brandão, com a sua marinhagem de religiosos. E falamos também dele por em Portugal existirem apógrafos medievais das suas aventuras . Dizia-se mesmo, segundo nota Zurara, que S. Brandão passara pelo Cabo do Bojador.
Que estranhas foram as suas viagens de ilha em ilha! Viram a Cidade Desabitada, desembarcaram na Ilha das Ovelhas Gigantes, subiram para cima dum grande peixe, pensando que era uma ínsua, escutaram a música de aves misteriosas do (…) -
Mário Martins – O tempo em "Demônios" de Dostoiévski
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroMais uma vez, abramos Os Demônios, de Dostoiewski. Kirillov, engenheiro e teórico do suicídio, batia com uma bola de borracha no chão e fazia-a saltar até ao tecto, entre os gritos entusiastas de uma pequerrucha que gritava: Bola, bola!
A bola rebolou para debaixo dum armário, Kirillov deitou-se no soalho e estendeu os braços para encontrar o brinquedo. Foi nesta posição que Stavroguine o encontrou.
— Queres chá?, perguntou-lhe Kirillov.
Stavroguine vinha encharcado e bebeu o chá (…) -
Mário Martins – Introdução histórica à vidência do tempo e da morte
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNão um problema exclusivo da Idade Média, embora nela encontrasse eco enorme. Antes problema de choque para todos os homens — o animal que mais escapa à fascinação do momento efêmero e que, por isso mesmo, melhor entra na consciencialização do tempo e da morte, sentindo em si a ferida estranha do ir passando.
Como na água-forte de Alberto Dürer, o homem e a morte cavalgam lado a lado. A morte e o tempo, simbolizado na ampulheta fatal na mão descarnada.
E assim, vivemos ilaqueados pelo (…) -
Zarader – Blanchot: a paixão da noite (Faux pas)
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPartir-se-á de uma «experiência», tal como ela se apresenta a uma «consciência». É possível que essas palavras — consciência, experiência — se revelem finalmente impróprias, mas ainda não sabemos disso. Damonos a nós mesmos uma consciência em confronto com um mundo, segundo todo o leque de sua experiência, ou seja, exposta a tudo o que pode encontrar. E isolamos uma experiência que nos propomos a descrever em seu modo de aparição, ou seja, na forma como é vivida pela consciência — sem (…)
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Paul Arnold – Trabalhos de Amor Perdidos
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroMuito se especulou sobre a atitude hostil que os poetas oriundos da universidade teriam mostrado em relação a William Shakespeare, o “autodidata” . Isso faz necessariamente parte da atmosfera romântica em que se insiste em manter o retrato de Shakespeare. É difícil contestar que tal ou qual alusão maldosa — como o “shake-scene” de Robert Greene — tenha visado o poeta de Sonho de uma Noite de Verão. Mas devia ser naquela época como nos dias de hoje; a benevolência nunca reinou entre os (…)
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Paul Arnold (Hermès) - Cosmos de Baudelaire (2)
4 de julho, por Murilo Cardoso de Castrotradução
Diante dessa propensão inerente à alma condenada a se aliar ao mundo formal, o poeta das Flores só vê uma atitude possível, um remédio para o Irremediável: o estado de vigília ou de vigilância permanente. É a hiperconsciência que ele cultiva com fervor e da qual o remorso é apenas o aspecto moral.
A “consciência no mal” impede as obras, essencialmente más, como sabemos, de macular o corpo sutil, de afundar ainda mais o espírito na matéria e de afastá-lo assim um pouco mais de (…) -
Paul Arnold – Esoterismo de Shakespeare
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroL’Ésotérisme de Shakespeare, par Paul Arnold. Mercure de France, 1955.
É um fato pouco conhecido, mas facilmente verificável, que o homem, o pensador dos séculos XVI e XVII, preocupava-se principalmente com doutrinas ocultas relacionadas à salvação espiritual. Paralelamente às doutrinas das Igrejas, romana ou reformada, frequentemente até em conjunção com elas, filósofos e teólogos, matemáticos e alquimistas descreviam em uma linguagem muitas vezes alusiva e impenetrável a jornada suposta (…)
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