Antes de falar dos mitos literários, não se pode dispensar uma descrição geral da paisagem mítica, para melhor compreender que o mito literário é apenas um dos aspectos de uma constelação mítica mais ampla. E se, por outro lado, nossos exemplos são inicialmente retirados da mitologia greco-latina, justifica-se isso lembrando a evidente filiação entre essa cultura e nossa cultura europeia ocidental (evitamos, no entanto, a noção de "raízes", e explicaremos por quê), e também porque os (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Joël Thomas – Paisagem mítica
29 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Dauge (Virgile) – reconstituição das elites
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroÉ assim que as elites degeneram e se suicidam.
Mas, em momentos cruciais da história, sob o impulso dos “deuses” e dos “heróis”, elas se reconstituem. No final do ciclo involutivo aparece a “raça de diamante” que sobe a corrente da degradação para se libertar — o que nos permite completar o quadro precedente (p. 12) da seguinte maneira:
5. DIAMANTE. Dominante: Júpiter.
Reprise do contato com a Fonte divina; interiorização progressiva desta Fonte, no coração da nova raça.
Elite de (…) -
Dauge (Virgile) – etapas históricas de corrupção das elites
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroA literatura antiga nos propõe vários exemplos característicos deste processo de corrupção das elites, que chamou ainda mais a sua atenção por tocar no princípio de hierarquia próprio às sociedades de tipo tradicional.
Citemos em primeiro lugar este esquema “mito-histórico” que se chama o ciclo das quatro idades e que corresponde precisamente ao fenômeno de involução que nos ocupa. Tudo se passa como se a instauração de um novo ciclo (idade de ouro) coincidisse com o aparecimento de uma (…) -
Dauge (Virgile) – o caráter e as particularidades das elites
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroOs romanos, por sua vez, tinham uma consciência aguda desse papel das elites, tanto por sua mentalidade de tipo aristocrático quanto por sua lucidez e realismo políticos: de Ênio a Rutílio Namaciano, seus escritos nunca variaram nesse ponto. Isso é demonstrado, entre outros, pelo estudo fundamental de Pietro de Francisci, Spirito della civiltà romana, e é o que procuramos ilustrar em nossa obra O Bárbaro. Roma sempre atribuiu sua grandeza a uma sucessão ininterrupta de homens superiores, a (…)
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Paul-Augustin DEPROOST – A força do imaginário!
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroA força do imaginário! A fórmula anuncia ao mesmo tempo uma autoridade e uma energia, a qualidade daquilo que se impõe, mobiliza ou constrange. No caso, a do imaginário, um universo dinâmico de imagens ou representações, às vezes visceral e encantatório, arraigado no mais profundo de nós mesmos, que nos obriga constantemente a inventar o desconhecido para dar sentido ao conhecido, sem o que a aventura humana se limitaria a ser apenas um imperativo biológico. Para progredir ou crescer em (…)
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Dauge (Virgile) – degeneração das elites
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEsse processo de degeneração das elites foi admiravelmente analisado por Arnold J. Toynbee e por J. Leclercq, cujas obras mencionamos acima; e O Jogo das Contas de Vidro contém a esse respeito muitas reflexões de notável lucidez. O que é preciso destacar claramente é que uma elite sempre se corrompe por dentro, por uma grave deficiência de sua Memória, de sua Vontade, de seu Intelecto, ou de qualquer outra qualidade fundamental. Se uma só delas faltar, o colapso não tardará. Deve-se então (…)
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O’Flaharty – roda dentro da roda
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEzequiel viu a roda, lá no alto no meio do ar, Ezequiel viu a roda, lá no alto no meio do ar. E a rodinha girava pela fé, e a rodona girava pela graça de Deus.
É uma roda dentro da roda, lá no alto no meio do ar.
Canção tradicional afro-americana
E olhei, e eis que quatro rodas estavam junto aos querubins, uma roda junto a um querubim, e outra roda junto a outro querubim; e o aspecto das rodas era como a cor de pedra de berilo. E quanto ao seu aspecto, as quatro tinham uma mesma (…) -
O’Flaharty – Minhas joias de família e outras lorotas
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroO anel, bendito homem, o anel! Eis por que ele voltou. Se não temos outros meios de apanhá-lo, podemos sempre atraí-lo com o anel.
Sherlock Holmes, em ARTHUR CONAN DOYLE, The Study in Scarlet, cap. IV
Sempre achei que o irmão de minha mãe, Harry, fosse um receptador, embora ela insistisse que ele era um "gemólogo". Todos os dias úteis de sua vida, até seus oitenta e poucos anos, ele ia de sua casa, em Nova Jersey, para a Bolsa de Diamantes de Nova York; também afirmava ter inventado um (…) -
O’Flaharty – As Leis de Manu
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroCerto e errado (dharma e adharma) não andam por aí dizendo: ’Aqui estamos’; nem deuses, centauros ou ancestrais dizem: ’Isto é certo, aquilo é errado.’ ĀPASTAMBA
Estabelecer um livro de leis como o de Manu significa conceder a um povo o direito de, a partir de então, tornar-se magistral, tornar-se perfeito – aspirar à mais alta arte de viver. Para esse fim, a lei deve ser tornada inconsciente: este é o propósito de toda mentira sagrada. NIETZSCHE
Estes dois epigramas sugerem duas visões (…) -
O’Flaharty – Serpentes
29 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAs serpentes são uma presença sagrada e sinistra ao longo da história do hinduísmo, e ideias sobre elas e imagens que aparecem em muitos textos antigos ressurgem mais tarde na história de Manasa. As serpentes hindus são criaturas liminares, na fronteira entre animais e as categorias antropomórficas de seres (homens, deuses e demônios). Na verdade, uma palavra geralmente traduzida como "serpente" é muito mais ambígua do que uma simples cobra; é naga, que designa qualquer uma das criaturas, (…)