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Dauge (Virgile) – degeneração das elites

domingo 29 de junho de 2025

Esse processo de degeneração das elites foi admiravelmente analisado por Arnold J. Toynbee e por J. Leclercq, cujas obras mencionamos acima; e O Jogo das Contas de Vidro contém a esse respeito muitas reflexões de notável lucidez. O que é preciso destacar claramente é que uma elite sempre se corrompe por dentro, por uma grave deficiência de sua Memória, de sua Vontade, de seu Intelecto, ou de qualquer outra qualidade fundamental. Se uma só delas faltar, o colapso não tardará. Deve-se então falar em suicídio das elites·, elas se destroem a si mesmas, e sua responsabilidade, em seu naufrágio, é total.

É possível estabelecer, como fizeram os romanos com paciente clareza, uma fenomenologia exaustiva da decadência das minorias criadoras·, contentemo-nos aqui em apresentar alguns traços particularmente importantes. Há primeiro o fato, observável em toda parte, que é a degradação da energia, ou o aumento da entropia. O dinamismo original, a potência dos fundadores, o ímpeto inicial tendem "naturalmente" a se reduzir; a intensidade da consciência e da arte tendem a diminuir (aspecto involutivo do tempo). E se não se reverte esse curso "natural" das coisas, chega-se mais ou menos rapidamente a um estado de desordem, ou de esterilidade, ou mesmo de imobilidade. Há a força de atração das psiques e dos corpos, dos elementos rajásicos e tamásicos, que buscam, como a água ou a terra, sufocar o "fogo sagrado". A isso é preciso acrescentar o peso dos privilégios, das riquezas, do poder, que rapidamente transformam uma elite em oligarquia opressiva. Se reformas, purificações não intervêm a tempo (cf. a história das grandes ordens religiosas), o espírito criador se apaga sob o domínio dos fatores passionais e materiais.

Deve-se notar também a frequente transformação da criação em tradição, se é verdade que uma disciplina tradicional é útil para preservar os princípios e formar os homens (ver O. Spengler, op. cit., II, pp. 409-410), ela se torna nociva quando substitui totalmente a liberdade inventiva, o contato pessoal com o Divino e a Vida universal, a inspiração (cf. J. Leclercq, op. cit., p. 379); o que deveria ser um instrumento de poder levou a uma ruptura com a fonte transcendente de energia. É bem conhecido que a esclerose das "formas", a petrificação das instituições, o reinado da "letra" sucedem rapidamente, se não se tomar cuidado, à espontaneidade da Imaginação criadora, e até mesmo a obstruem quando eventualmente quer se manifestar (ver, a esse respeito, a obra de G. Durand Durand Durand, Gilbert (1921-2012) , A imaginação simbólica).

Além disso, as altas qualidades indispensáveis à sobrevivência das elites, o elevado nível do Conhecimento e do Amor, a força de renúncia e de coesão, difíceis conquistas de homens excepcionais, tornam-se mais raras à medida que decresce o vigor da comunidade, que se enfraquece a vontade coletiva, que predominam os interesses elementares e as massas; e os grandes homens acabam por desaparecer. Fenômeno igualmente temível, a inclinação para baixo do "fiat" primordial, a perda da memória das origens, o obscurecimento da revelação e da missão: o que, na linguagem de Israel, se chama infidelidade (ao imperativo divino) ou prostituição, e o que, na ideologia romana (cf. Tito Lívio), constitui essa falta imperdoável que é o "desprezo dos deuses" (contemnere, ne pegere deos). Há finalmente, mais cedo ou mais tarde, no seio da elite, o aparecimento de vontades de poder individuais, a virtus anexada pela paixão, o encadeamento dos conflitos: isso corresponde ao esgotamento da raça dos heróis desinteressados, ao abandono da dedicação "pela glória", e ao desvio das energias (exemplo: as lutas civis em Roma).

Esse processo de degeneração das elites, apesar de uma aparente complexidade, obedece de fato a um mecanismo relativamente simples. Trata-se de uma perda progressiva de contato com uma "fonte criadora" superior — divina ou demoníaca, supratemporal, supraindividual —, fonte primeiro descoberta e metodicamente explorada, depois, com o declínio das forças, de acesso cada vez mais difícil, e finalmente abandonada ou temida — em todo caso tornada estranha aos homens. Fonte divina perdida pelos romanos do século I a.C., e que Virgílio Virgílio desejará lhes fazer reencontrar...


Yves Albert Dauge. Virgile. Maître de Sagesse. Essai d’ésotérisme comparé. Milano: Archè, 1983