Em 1909 Alex Olrik tinha, em um artigo, tentado destacar as leis externas e internas do conto do tipo KHM. Algumas de suas proposições parecem sujeitas a cautela, mas esse trabalho que muito reteve a atenção dos pesquisadores tornou-se rapidamente clássico. Pode portanto ser interessante resumi-lo em grandes linhas, tanto mais que, no essencial, retoma várias das observações expostas acima:
Leis externas:
a) O conto não começa nem termina de forma movimentada.
b) Importância da (…)
Página inicial > Estórias, contos e fábulas
Estórias, contos e fábulas
-
Faivre (Grimm) – leis externas e internas do conto
8 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Faivre (Grimm) – "era uma vez"
8 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO detalhe tende sempre mais ou menos a situar histórica ou geograficamente a imagem representada. Ora, o conto dos Grimm se desenrola inteiramente em um lugar nenhum e um era uma vez que são o lugar e o tempo de uma utopia — no sentido etimológico —, e de uma meta-história afirmadas implicitamente em sua especificidade à maneira do mito — o in illo tempore de que falou Mircea Eliade. As frases introdutórias nos arrancam imediatamente de nosso universo cotidiano para nos mergulhar nesse (…)
-
Faivre (Grimm) – "formas simples" na literatura escrita e oral
8 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEm uma obra por vezes discutível mas sempre útil, André Jolies falou em 1930 de certas "formas simples" na literatura escrita e oral, ou seja, não redutíveis a outras formas, e que seriam o resultado do confronto organizador do homem com o mundo, sendo a língua o tema desse confronto. Nem a estilística, nem a retórica, nem a poética podem captá-las — reduzi-las —, e isso ainda menos porque não são verdadeiramente obras de arte, embora façam parte do patrimônio artístico. Tais são, portanto, (…)
-
Faivre (Grimm) – As teorias sobre a "origem" dos contos
8 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO conto considerado como forma de arte precisa ou fixa não existe na Alemanha — e dificilmente na Europa — antes do século X. Antes disso, trata-se muito mais de Kraftmärchen, ou conto heroico, mais próximo da gesta heroica (Heldensage). O conto do tipo KHM difundiu-se mais no norte da Alemanha (Holstein, Pomerânia, Mecklemburgo), enquanto a Áustria e a Baviera permaneceram como o local preferido para lendas e canções populares.
A Märchenforschung (o estudo do conto) "é uma ciência (…) -
Faivre (Grimm) - Os Irmãos Grimm e a germanística romântica
8 de julho, por Murilo Cardoso de CastroUma das características do Romantismo alemão, movimento tanto filosófico quanto literário, parece ser o gosto pela síntese. Esse traço, somado à obsessão pelas origens, explica um esforço intensivo e extensivo para obter um conhecimento aprofundado de todos os domínios possíveis, para encontrar entre eles relações e conexões. A enciclopédia de Novalis, que permaneceu inacabada, conserva um valor exemplar para a época, pois esse tipo de esboço feito de aforismos e fragmentos expressa um (…)
-
Tieck – Não despertes os mortos!
6 de julho, por Murilo Cardoso de Castro"Queres dormir para sempre? Nunca mais despertarás, meu amado, mas repousarás eternamente da tua curta peregrinação na terra? Oh, retorna ainda uma vez! e traz contigo o alvor da esperança que vivifica aquele cuja existência, desde a tua partida, foi obscurecida pelas sombras mais densas. Quê! Muda? Para sempre muda? Teu amigo se lamenta, e não lhe dás atenção? Ele derrama lágrimas amargas e escaldantes, e tu repousas indiferente à sua aflição? Ele está em desespero, e já não abres os braços (…)
-
Tieck – Os Elfos
6 de julho, por Murilo Cardoso de Castro—Onde está nossa pequena Maria?
—Está brincando no campo com o filho do nosso vizinho — respondeu a mulher.
—Não vão se perder — disse o pai, preocupado —, são tão atrapalhados.
A mãe deu uma olhada nas crianças e levou o lanche delas para a mesa.
—Que calor! — disse o menino, enquanto a menina se jogava sobre as cerejas vermelhas.
—Cuidado, crianças — disse a mãe —, não vão muito longe de casa nem entrem na floresta; seu pai e eu vamos para o campo.
O jovem André respondeu: (…) -
David Loy – Sou feito de estórias?
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroSem estórias não há eu. Ao abandonar todas as estórias durante a meditação samadhi, torno-me nada. O que se pode dizer sobre este nada? Neti, neti—"não isto, não isto." Dizer algo sobre isso dá-lhe um papel em uma estória, mesmo que seja apenas um marcador de lugar como um zero.
Amamos estórias de salvação, por exemplo, a abjeção e redenção de alcoólicos. “Eu estava perdido, mas agora me encontrei.” Quando sou salvo ou nasço de novo ou sou despertado, o que permanece o mesmo? Como eu (…) -
David Loy – A Estória da Vida e da Morte
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA morte é o fim da minha narrativa, ou outra estória?
Estórias são o que a morte pensa que põe fim. Ela não consegue entender que elas acabam nela, mas não acabam com ela. Ursula K. Le Guin
A estória mais antiga, a epopeia suméria de Gilgamesh, é sobre seus esforços para evitar a morte. Lidamos com a morte tecendo-a em estórias que diminuem sua picada, para que ela não represente um fim da vida e do sentido que ofusque toda vida e sentido.
O sentido da vida é que ela para. Kafka
Se a (…) -
David Loy – o progresso
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA crença moderna no progresso é uma versão secularizada do apocaliptismo cristão.
Pro-gresso é “caminhar para a frente”... para onde? Pode haver progresso se não soubermos nosso destino?
O progresso pode ter sido bom uma vez, mas já durou demais. Ogden Nash
O crescimento da liberdade é a estória central da estória, segundo Lord Acton, porque representa o plano de Deus para a humanidade. Rastreamos as origens da civilização ocidental até a libertação grega da razão (filosofia) do mito, (…)