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Les contes de Grimm

Faivre (Grimm) – leis externas e internas do conto

Mythe et initiaiton

terça-feira 8 de julho de 2025

Em 1909 Alex Olrik tinha, em um artigo, tentado destacar as leis externas e internas do conto do tipo KHM. Algumas de suas proposições parecem sujeitas a cautela, mas esse trabalho que muito reteve a atenção dos pesquisadores tornou-se rapidamente clássico. Pode portanto ser interessante resumi-lo em grandes linhas, tanto mais que, no essencial, retoma várias das observações expostas acima:

Leis externas:

a) O conto não começa nem termina de forma movimentada.

b) Importância da repetição, nomeadamente sob forma ternária, com a lei de "peso atrás" ou de "peso à frente" (Achtergewicht ou Vordergewicht) — a terceira criança sendo a mais tola ou a mais astuta.

c) Nunca há mais de uma, no máximo duas pessoas em cena (se o herói está combatendo o dragão, a princesa está ausente ou não faz nada).

d) Onipresença dos pares de oposição (homem grande e pequeno, rico e pobre, jovem e velho).

Leis internas:

a) Linearidade (Einsträngigkeit) no desenrolar da ação: os eventos não estão imbricados uns nos outros.

b) O herói não age pelo simples prazer de agir, mas sempre com um objetivo preciso.

c) O leitor vive a história do ponto de vista do herói. Geralmente os diversos episódios não são apresentados "objetivamente", só conhecemos os eventos na medida em que o herói os conhece.

d) Unidade narrativa: a ação está concentrada em torno de uma pessoa principal.

Resumamos agora tudo o que foi evocado acima.

O estilo:

— Abstrato, preciso, o estilo não descreve os objetos mas os cita. Interditos e condições impostas contribuem para essa abstração e essa precisão.

— Gosto por fórmulas prontas. A introdução e o final são frequentemente fórmulas fixas e comuns a vários contos.

— As qualidades e os defeitos das coisas e das pessoas são simples e bem definidos (metal preferido ao mineral).

— A narrativa progride seguindo um ritmo frequentemente ternário mas sempre linearmente.

— Tudo está subordinado à ação.

— Os episódios estão isolados uns dos outros, mas não obstante solidários, cada um preparando o seguinte.

— Gosto pelos extremos.

— Aparência mecânica que reveste o maravilhoso.

Os personagens:

— São tipos e não caracteres.

— Não conhecem entre si barreiras biológicas, geográficas, sociais, econômicas, temporais ou míticas (os seres maravilhosos não são descritos como tais), e vivem sem se comover em um mundo onde reina sem limite a causalidade mágica.

— O herói é errante; o objetivo de suas ações é claramente definido desde o início.

— Os personagens não tiram de si mesmos suas razões para agir; não possuem nem mundo interior, nem mundo circundante (Innenwelt e Umwelt).

— Unidimensionalidade espacial.

O conto aparece literariamente como um todo fortemente estruturado. É no entanto evidente que diferenças aparecem de uma coletânea a outra: os contos publicados por Afanasiev apresentam uma maior uniformidade e uma maior simplicidade formal que os dos irmãos Grimm, mesmo se nos limitarmos aos verdadeiros Märchen entre esses contos alemães. Pode-se também, evidentemente, estudar o meio físico e social que o conto reflete e assim destacar diferenças significativas. Paul Delarue destacou dessa maneira certos traços próprios ao gênio popular francês. Comparando os contos dos Grimm aos contos de Perrault, percebe-se nestes últimos uma simplificação do maravilhoso, a eliminação dos seres fantásticos, a substituição de um encadeamento de natureza sobretudo psicológica a uma causalidade mágica, enfim a humanização dos personagens, como para suavizar o que poderia parecer bárbaro. Gosto francês do "racional"? "Também o francês não é ingênuo diante do conto, que para ele não é mais que uma distração, enquanto a adesão do alemão está mais próxima da crença e a do celta é uma visão doce ou heroica na qual se compraz sua imaginação sonhadora."

Um certo número das características do conto enumeradas acima aplicam-se à gesta (poema épico ou heroico) ou à saga (Sage), e algumas à lenda (Legende). Como a palavra francesa légende, ambígua, pode significar ao mesmo tempo Sage e Legende, convém traduzir Legende por "lenda popular" ou "folclórica", e Sage por "gesta" ou por "lenda hagiográfica". A Heldensage é então a saga, ou lenda heroica, às vezes poema épico. Pode-se crer na lenda, muito mais raramente no conto, e mesmo quando se deixou de crer nela, a lenda popular, mais próxima da gesta que do conto, testemunha sempre que Deus pode manifestar-se por milagres; o sobrenatural ocupa ainda mais lugar nela que na gesta, embora seja "explicado" pela religião e, ao mesmo tempo, menos "fantástico". O fascinosum recobre aí o tremendum. Os milagres dos contos guardam algo do brilho do sobrenatural, mas sob a forma atenuada do reflexo. Mais interessante que a lenda para apreender a natureza do conto e suas relações com o mito me parece a gesta, frequentemente tão próxima do KHM que se poderiam citar numerosos exemplos de parentesco, como esse episódio do romance arturiano francês do século XIV, Perceforest, onde aparece o esquema do conto da Bela Adormecida (as fadas são aí substituídas por três deusas).

A especificidade da gesta não é a do conto. Nela, o acento recai sobre o que é narrado, a ação tem mais importância que o herói. Sua leitura dá uma impressão de maior objetividade porque os fatos, descritos concretamente, são apresentados como verdadeiros. A gesta pretende relatar fatos afastados no tempo, historicamente reais, e que se desenrolaram em lugares bastante precisos. Existe bem, como para o conto, uma diferença entre o natural e o sobrenatural, o profano e o numinoso, mas o interesse da gesta recai sobretudo sobre esse numinoso e sobre o mistério — espíritos, gigantes, magos —, enquanto o do conto recai mais sobre a ação. A gesta é ao menos tão palpitante para o ouvinte e o contador, quanto cativante; um e outro são projetados em um mundo fantástico enquanto o conto relata o maravilhoso como algo natural, de modo que o gosto pelo maravilhoso, pelo sobrenatural, aproxima um do outro os dois gêneros e os afasta ao mesmo tempo, pois o conto não é portador do sentimento numinoso, os prodígios perdem nele seu impacto específico. O herói da gesta exibe de bom grado seus sofrimentos ou sua ansiedade diante do "totalmente outro", no qual penetra às apalpadelas como em uma realidade desconhecida; o do conto acha muito natural que uma raposa comece a falar — tem-se mesmo a impressão de que é mais tranquilizador assim —, pois o universo onde ele evolui possui um sentido implicitamente dado onde o lúdico tem seu lugar: somos remetidos a uma visão superior e, na origem, talvez extática. Os seres sobrenaturais da gesta são frequentemente descritos com seu passado, seus hábitos, possuem uma existência própria, enquanto os dos contos aparecem apenas para ajudar os personagens ou para aborrecê-los. Da mesma forma, na gesta estes não aparecem isoladamente, as multidões ou os grupos são frequentes. Branca de Neve encontra sete anões — número estereotipado, pelo menos tradicional, em todo caso bem fixado —, a gesta falará mais voluntariamente "do povo dos anões".

Lá, o herói evolui em um mundo governado pelos deuses e o destino; aqui, está emancipado dos deuses, apenas ajudado por espíritos protetores dos quais, aliás, nada sabemos. As semelhanças entre o conto e a gesta, ou a epopeia, provêm de sua origem comum, o mito gerador de imagens simbólicas dando conta do mundo e da vida, e interpretando-os à sua maneira. Mas a gesta e a epopeia são trágicas e pessimistas, às voltas com esse destino do qual o conto, ao contrário, mais otimista — como o mito —, liberta o homem. Daí essa impressão de gratuidade dos contos, enquanto o herói da gesta não faz nada que não se explique, e geralmente morre no final. Mal se imagina Siegfried casando-se no último episódio e tendo muitos filhos. Se foi possível tecer em torno desse herói germânico um grande número de motivos lendários, é porque a originalidade, a personalidade específica de um indivíduo, importa ao pensamento mítico menos que seu caráter exemplar e universal. Mas o aparecimento da ciência histórica não permite mais ao imaginário coletivo transformar os heróis reais em personagens que realizaram prodígios sobrenaturais ou sobre-humanos. O herói da gesta serve de modelo àqueles que o conhecem pelo canal da história contada; um modelo mais passivo que o herói do conto no que diz respeito às ações realizadas — pois este pouco reflete, tudo está como que claramente traçado diante de seus olhos —, mas não no que concerne ao pensamento, à interpretação, à luta espiritual, que testemunham uma intensa atividade servindo ao interesse dramático da narrativa.

O monarca dos contos dos Grimm, todavia tão poderoso, e pelos caprichos inexplicáveis do qual tantas narrativas começam, nunca aparece como governante, nada se sabe de suas relações com seu povo. É "o rei", ou "um rei", como é o pai, nada mais; pois o conto, ao contrário do poema épico, faz da realeza uma ideia essencialmente privada. Um e outro gênero caracterizam-se no entanto também por seu lado aristocrático. Todavia, interior e exterior, é a ação em si que permanece central na gesta, enquanto no conto é aquele que a realiza. Assim, a forma do conto é mais literária, menos primitiva, que a da gesta. Wilhelm Grimm dizia: "O conto é mais poético, a gesta é mais histórica."


FAIVRE, Antoine. Les contes de Grimm. Mythe et initiation. Paris: Lettres modernes, 1978, p. 7-14.

Neste estudo, sem outras precisões, todas as citações apresentadas em francês de textos estrangeiros não citados a partir de uma versão francesa editada são traduzidas pelo autor do estudo. O mesmo se aplica aos títulos e excertos dos Contos de Grimm. Os números que seguem os títulos dos Contos remetem à numeração proposta pelos próprios irmãos Grimm, tal como ainda pode ser encontrada em todas as edições completas em alemão. A sigla KHM, sempre utilizada pela crítica, é a abreviatura do título da coleção Kinder- und Hausmärchen.