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L’être et le neutre: à partir de Maurice Blanchot

Zarader – Blanchot: a força do negativo

§ 2. Premier moment : nuit et négativité

sábado 5 de julho de 2025

Hegel alcança o status de interlocutor privilegiado no momento em que Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) admite uma equivalência, ao menos parcial, entre o que ele nomeia, em sua linguagem metafórica, a noite e o que Hegel chamava de negativo. Reconhece, portanto, nele um pensador que enfrentou a mesma questão que ele, e que a considera central. Mas Hegel representa também, aos olhos de Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) , uma das respostas a essa questão, talvez mesmo, concede, a única resposta possível. É, portanto, em relação a ela que ele procura se situar.

Antes de qualquer avaliação crítica que recorra à letra do texto hegeliano, como Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) compreende o que Hegel chama de negativo? Ele vê o nada colocado a serviço do ser: "O nada certamente, mas em ação, que age, trabalha, constrói." [1] O que ele constrói? Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) , querendo ser o intérprete e o herdeiro do filósofo, responde: constrói o homem, a linguagem e o mundo. Constrói o homem, porque este só é si mesmo ao arrancar-se da positividade do ser natural, ao criar vazio ao seu redor, em suma, ao suscitar o não-ser. Tese certamente sartriana, mas cuja origem, segundo Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) , deve ser buscada em Hegel, mesmo que ele se aplique a reconstituí-la através de outros textos, por exemplo (e paradoxalmente) o de Nietzsche [2]. O nada é, além disso, constitutivo da linguagem, e é aqui Mallarmé quem fornece a Hegel seu principal intermediário. Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) não cessa de retornar, com um espanto sempre intacto, à misteriosa alquimia operada pela linguagem [3]: "A palavra me dá o que significa, mas primeiro o suprime." [4] Ela só faz ser sob a condição de ter negado previamente a presença, só faz sentido ao proceder a essa "imensa hecatombe" [5]. Por fim, essa mesma potência constitui o mundo. Ao contrário dos dois pontos anteriores, este é conquistado em referência direta a Hegel e à interpretação proposta por Kojève [6]. Assim como o homem se define pela espessura do vazio que o separa do ser, assim como ele fala porque pode abolir a coisa, do mesmo modo é ainda porque é nada que ele produz, que luta e que pensa, construindo assim o "reino do dia". Toda a força da posição hegeliana estaria aqui em mostrar, não apenas que o homem pode fazer algo com o nada, mas que só esse nada permite que haja "algo" e que se abra um mundo histórico.

Vê-se como a meditação do negativo – entendido como capacidade propriamente humana de introduzir o vazio, o não-ser ou a ausência – vem alimentar filosoficamente o par metafórico do dia e da noite. Seja o homem, a linguagem ou o mundo, tudo o que está a serviço da vida encontraria sua origem na força do negativo, que Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) associa à morte. A morte está em ação: mesmo que esse ensinamento seja modulado em léxicos sempre renovados (emprestados principalmente, para os textos que nos ocupam, a Heidegger e Sartre), ele é, em última instância, remetido à genial intuição hegeliana de um trabalho do negativo. Ora, essa posição atribuída a Hegel constitui, aos próprios olhos de Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) , uma formidável réplica à sua "paixão" da noite. Mostra, com efeito, que se pode enfrentar o negativo, afirmá-lo em sua plena radicalidade – e ainda assim assumi-lo. Hegel é o emblema dessa assunção. Do negativo, ele fez a mediação, ou seja, um meio para uma positividade superior; fez da diferença a estrutura da unidade dialética, aquilo por que ela se constitui. E, assim, salvou a morte. Não a negando ou contornando, mas fazendo dela o coração da vida, uma vida "que suporta a morte e se mantém nela", e que é a "vida do espírito".

Assim, as rupturas de sentido — que Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) reúne sob o nome metafórico de noite, em sua diferença para com o dia — encontram seu lugar no processo do sentido. A noite, na dialética hegeliana, é constitutiva do dia, precisamente por combatê-lo. É, em todo caso, o que Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) retém de Hegel, o que considera a "resposta" hegeliana; e é a um Hegel assim compreendido, e à resposta que ele encarna, que Blanchot Blanchot Maurice Blanchot (1907-2003) deve se medir. Para que a noite permaneça irredutível, é preciso que ela seja outra coisa que a simples negatividade. Em que sentido o é, como aprofundar sua diferença?


ZARADER, Marlène. L’être et le neutre: à partir de Maurice Blanchot. Lagrasse: Éd. Verdier, 2001.


[1L’Espace littéraire, Paris, Gallimard, 1955, reed. coll. « Idées », p. 36.

[2La Part du feu, Paris, Gallimard, 1949, p. 278-289.

[3É quase o único tema de « La littérature et le droit à la mort » (1948), texto que encerra La Part du feu. Mas essas meditações esboçavam-se já em Faux pas, e continuarão muito além de La Part du feu.

[4La Part du feu, p. 312.

[5Ibid.

[6Ibid., p. 305.