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Le Mont Analogue

René Daumal – O Monte Análogo (1)

segunda-feira 30 de junho de 2025

Seria, portanto, uma montanha subterrânea? Algumas lendas, que se ouve contar sobretudo na Mongólia e no Tibete, aludem a um mundo subterrâneo, morada do "Rei do Mundo", e onde, como uma semente imperecível, se conserva a sabedoria tradicional. Mas esta morada não responde à segunda condição de existência do Monte Análogo; não poderia oferecer um meio biológico suficientemente próximo do nosso meio biológico ordinário; e mesmo se este mundo subterrâneo existe, é provável que se encontre precisamente nos flancos do Monte Análogo. Todas as hipóteses deste tipo sendo inadmissíveis, somos levados a colocar o problema de outra forma. O território procurado deve poder existir em uma região qualquer da superfície do planeta; é preciso, portanto, estudar sob quais condições se encontra inacessível, não somente aos navios, aviões ou outros veículos, mas mesmo ao olhar. Quero dizer que poderia muito bem, teoricamente, existir no meio desta mesa, sem que tenhamos a menor noção.

Para me fazer compreender, permito-me dar uma imagem analógica do que deve ser.

Ele foi, na sala vizinha, buscar um prato que pôs sobre a mesa e onde derramou óleo. Rasgou um pedaço de papel em fragmentos bem pequenos que jogou na superfície do líquido.

Peguei óleo porque este líquido, muito viscoso, será mais demonstrativo que a água, por exemplo. Esta superfície oleosa é a superfície do nosso planeta. Este pedaço de papel, um continente. Este pedaço menor, um barco. Com a ponta desta agulha fina, empurro delicadamente o barco em direção ao continente; se vê que não consigo fazê-lo atracar. Chegando a alguns milímetros da margem, parece ser repelido por um círculo de óleo que rodeia o continente. É claro que, empurrando um pouco mais forte, consigo atracar. Mas se a tensão superficial do líquido fosse bastante grande, veria meu barco contornar o continente sem jamais o tocar. Suponha agora que esta estrutura invisível do óleo em torno do continente repulse não somente os corpos ditos "materiais", mas também os raios luminosos. O navegador que se encontra no barco vai contornar o continente não somente sem o tocar, mas mesmo sem o ver.

Esta analogia é agora muito grosseira; a deixemos. Se sabe, por outro lado, que um corpo qualquer exerce, de fato, uma ação repulsiva deste tipo sobre os raios luminosos que passam perto dele. O fato, previsto teoricamente por Einstein, foi verificado pelos astrônomos Eddington e Crommelin, em 30 de maio de 1919, por ocasião de um eclipse de sol; eles constataram que uma estrela podia ser ainda visível enquanto se encontraria já, em relação a nós, atrás do disco solar. Este desvio, sem dúvida, é mínimo. Mas não existiriam substâncias, ainda desconhecidas - desconhecidas, aliás, por esta mesma razão - capazes de criar em torno delas uma curvatura do espaço muito mais forte? Isso deve ser, pois é a única explicação possível da ignorância em que a humanidade permaneceu até agora da existência do Monte Análogo.

Eis o que estabeleci, simplesmente eliminando todas as hipóteses insustentáveis. Em algum lugar na Terra existe um território de ao menos vários milhares de quilômetros de circunferência, sobre o qual se eleva o Monte Análogo. A base deste território é formada de materiais que têm a propriedade de curvar o espaço em torno deles de tal maneira que toda esta região é encerrada em uma casca de espaço curvo. De onde vêm estes materiais? Têm uma origem extraterrestre? Vêm destas regiões centrais da Terra, das quais conhecemos tão pouco a natureza física que tudo o que podemos dizer é, segundo os geólogos, que nenhuma matéria ali pode existir, nem em estado sólido, nem em estado líquido, nem em estado gasoso? Não sei, mas aprenderemos no local, cedo ou tarde. O que ainda posso deduzir, além disso, é que esta casca não pode ser completamente fechada; ela deve ser aberta por cima, a fim de receber as radiações de todos os tipos, vindas dos astros, necessárias à vida de homens ordinários; ela deve também englobar uma massa importante do planeta, e sem dúvida mesmo se abrir em direção ao seu centro, por uma razão semelhante.


Ver online : DAUMAL, René. Le Mont Analogue. Paris: Gallimard, 1981


DAUMAL, René. Le Mont Analogue. Paris: Gallimard, 1981