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Dante – Beatriz e o número 9
sexta-feira 25 de abril de 2025
Vita Nuova, XXX
Como o número nove foi mencionado frequentemente nas linhas anteriores, e se poderia pensar que isso foi feito sem uma razão válida, e como, por outro lado, esse número desempenhou um papel importante na morte de certa pessoa (Beatriz), é necessário fazer aqui algumas considerações sobre esse tema. Por isso, explicarei como o número nove interveio no acontecimento de sua morte e depois indicarei a razão pela qual esse número foi tão favorável a essa dama.
Eu direi, portanto, seguindo o costume árabe, que a alma tão nobre dessa dama separou-se de seu corpo na primeira hora do nono dia do mês, e seguindo o uso sírio, no nono mês do ano. Pois, nesse país, Sirim, o primeiro mês corresponde ao nosso outubro, e segundo esse costume, ela deixou este mundo nesse ano de nosso calendário, ou seja, nos anos do Senhor, em que o número perfeito estava contido nove vezes no século. Esse também foi o número dos cristãos do século XIII.
Se buscarmos o motivo pelo qual o número nove a acompanhou sempre de forma tão amigável, eis uma razão provável: segundo Ptolomeu e as verdades cristãs, existem nove céus que se movem e que, conforme a opinião comum dos astrólogos, esses nove céus transmitem para cá as combinações harmônicas às quais estão submetidos no alto; esse número foi um aliado de Beatriz, para demonstrar que, quando foi gerada, os nove ciclos móveis estavam em perfeita harmonia. Essa já é uma razão. Mas, considerando a questão mais profundamente e de acordo com a verdade infalível, esse número era ela mesma. Ao estabelecer essa comparação, eis como entendo o assunto: o número três é a raiz quadrada de nove, pois, sem auxílio de qualquer outro número, ele próprio é capaz de produzir o referido número nove. Sendo evidente que três vezes três resultam em nove e sendo, portanto, o três criador do nove—e o grande operador de milagres por natureza é trino, ou seja, Pai, Filho e Espírito Santo, sendo três e um todo ao mesmo tempo—essa dama esteve constantemente acompanhada pelo número nove, para demonstrar que era um nove, ou seja, um milagre cuja raiz é a admirável Trindade. Poder-se-ia, sem dúvida, estabelecer essa verdade por razões ainda mais sutis, mas as que acabei de apresentar me satisfazem muito mais do que todas as que posso imaginar.

