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Nancy (Scène) – princípio de sobriedade
segunda-feira 30 de junho de 2025
Isso me leva a uma última palavra, sobre o princípio de sobriedade que invocas. Gostaria de tentar dar-lhe um conteúdo mais definido. Por ora, proporia o seguinte: a sobriedade não se oporia primeiro, de modo simplesmente exterior e formal (pois, precisamente, onde começa a "forma"?), à sobrecarga ou à embriaguez. Significaria antes que não se trata de crer num álcool das palavras e das formas, cujos vapores dariam acesso a alguma revelação. A arte sóbria se oporia à arte mistagógica – no fundo, mistificadora. Exemplos de arte mistagógica, talvez (escolhidos sem muita reflexão): a pintura de Gustave Moreau (que gosto bastante, aliás), a música de Wagner (da qual também aprecio algo – mas conheces isso melhor do que eu), a poesia de Char, o teatro de Claudel. Mas logo se percebe que é difícil não identificar algo semelhante também em Mallarmé, por exemplo, ainda que de modo totalmente diverso. Mais uma vez, como traçar uma demarcação?
De modo geral, a oposição em questão diz respeito a duas posturas ou dois modos da "poesia". No "poético", é o mais frequentemente o "mistagógico" que se quer designar: sei que isso encontra teu trabalho atual sobre Heidegger, e sobre o que ele busca na *Dichtung*, a saber, nos termos, o "mitema" e não o "poema". Subscrevo teu ponto, tanto mais que uma vez tentei desmontar o sistema de leitura que funciona em *Dichterisch wohnt der Mensch*. Mas isso me leva a acrescentar o seguinte, quanto a nosso diálogo de hoje: o que Heidegger (o que, sem dúvida, o filósofo como tal) desconta do poema, quando o faz falar no "pensamento", é precisamente aquilo que, antes de tudo ao menos, se apresenta como o ornamento ou como a encenação poética (sei que simplifico enormemente os gestos e intenções de Heidegger – mas passo adiante, por ora). Assim, seria o filósofo quem poderia, no limite, passar por aquele que coloca a arte na sobriedade. A qual, então, viria a se confundir com a grisalha hegeliana, que Hegel não nomeia apenas na página da *Filosofia do Direito* sobre a ave de Minerva, mas também na *Estética*, como contraste entre a época "passada" da arte e a, presente, do conceito.
É para dizer que ainda é preciso entender-se sobre "sobriedade": não pode ser simplesmente "prosaísmo". Ou ainda: não creio que se deva renunciar à embriaguez, não simplesmente nem necessariamente, em todo caso. Mas não se deve crer que ela conduza a alguma visão mistérica. O que chamo de "embriaguez" também não é necessariamente orgiástica, muito menos grandiloquente. Mas é ao menos um certo arrebatamento, quiçá desvio, talvez indissociável do "jogo" e da "cena" tais como, me parece, estaríamos de acordo em situá-los. Acontece que às vezes é preciso gritar, como ator e/ou como espectador – embora deteste certa prática vociferante que por vezes se encontra no teatro. Às vezes, a profanação deve ser "excessiva": quando criticas, após a "petrificação" e o "espessamento", aquilo que, "da figura, tende a se fixar em excesso da pura função figural (do esquematismo?)", concordo e me pergunto onde, como, atribuir esse "excesso" (onde e como, então, identificar a pureza que se manteria incólume).
Em outras palavras: o esquematismo? sim – mas é precisamente porque a "arte oculta" do esquematismo da razão pura permanece "para sempre" fora de alcance que Kant terá conduzido o esquema até os avatares que conhece na terceira *Crítica*, e a uma certa "sublimidade" cuja "cena", se é que pode tê-la, seria para Kant "oratório, tragédia em versos, poema didático". Seja o oratório, que eleges no início de tua carta como uma forma "sóbria", "puramente" figural – mas as outras duas, sobretudo no espírito de Kant, são mesmo sóbrias? Não basta dizer que Kant não tem bom gosto, mesmo se, por outro lado, seja verdade.
Mas – como diz Hypérion – basta por hoje. Falaremos mais outra vez.

Ver online : LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. Scène suivi de Dialogue sur le dialogue. Paris: C. Bourgois, 2013
LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. Scène suivi de Dialogue sur le dialogue. Paris: C. Bourgois, 2013.