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Nancy (Scène) – mise en scène (encenação)

segunda-feira 30 de junho de 2025

Caro Philippe Lacoue-Labarthe,

Como nos foi pedido para contribuir a um trabalho sobre "a cena", gostaria de aproveitar a oportunidade para retomar um debate que iniciamos várias vezes, já há muito tempo. Na época, resumi o tema na palavra grega opsis, que em Aristóteles designa, grosso modo, o que chamamos de "encenação". ("Grosso modo" já é um problema de tradução e, consequentemente, de sentido e de implicações. Também se traduz por "espetáculo". Podemos voltar a isso.)

A opsis é uma das seis "partes" da tragédia, segundo a Poética (50 a), e "envolve tudo", ou seja, as outras cinco partes. Passagem de interpretação delicada, que pode simplesmente significar que, quando há espetáculo, há todo o resto — a história, o texto etc. (cf. a nota de R. Dupont-Roc e J. Lallot; vou me referir à edição deles apenas com um P). Um pouco mais adiante, quando Aristóteles detalha a natureza dessas partes, afirma que a opsis é, por um lado, "sedutora" ("psicagógica", 50 b 17), mas, por outro, alheia à arte (atekhnotaton), e de modo algum pertinente à poética. Se há, nesse caso, tekhné, é a do fabricante de adereços (skeuopoios), não a do poiétès. Pois "a tragédia realiza sua finalidade mesmo sem competição e sem atores" (50 b 18). Consequentemente, todo o seu efeito se realiza apenas na leitura. (Lembro, de passagem, que isso significa, para um grego, a leitura em voz alta, o que implica algo diferente de nossa leitura silenciosa.)

No restante da Poética, a opsis parece ora valorizada, ora, como aqui, desvalorizada. Talvez possamos retomar os detalhes dos textos mais tarde. Por ora, gostaria de perguntar o seguinte:

Em nosso debate, sempre tomo o partido da opsis, e tu, o da "mera leitura", sem que jamais tenhamos realmente esclarecido as razões ou os motivos mais ou menos claros dessas preferências, nem analisado até o fim suas implicações. Além disso, o paradoxo quer que sejas tu quem tenha insistido em praticar a "encenação", enquanto eu, por minha parte, geralmente sou pouco receptivo ao espetáculo teatral (como sabes, é do lado do ator, no palco, que eu teria querido estar). Por ora, antes de buscar essas explicações, pergunto simplesmente se manténs o mesmo "partido" e como.

A questão da opsis, ou da "cena", parece-me comunicar-se de maneira precisa e decisiva com uma questão mais geral da "figura", que nos preocupa a ambos. Em ti, ela surge da suspeita lançada sobre o que chamaste de "onto-tipologia", ou seja, sobre uma atribuição figural e ficcional da apresentação do ser e/ou da verdade. No fundo, é no prolongamento dessa problemática que eu havia falado da "interrupção do mito" como um elemento ou um evento decisivo para um pensamento atual do ser-em-comum. Ora, parece-me que nossa divergência sobre a opsis se repete aqui: tendes sempre, para dizer muito rápido, a um apagamento da "figura" (falas de bom grado em "desfiguração", como em Il faut, onde invocas também uma "falha" da figura como uma espécie de ultra-figura), enquanto eu me sinto sempre reconduzido à exigência de uma certa figuração, porque a "interrupção" do mito me pareceu não ser uma simples cessação, mas um movimento de corte que, ao cortar, traça outro lugar de enunciação.

Talvez, aliás, o início da questão esteja aí: entre uma "figura" pensada primeiro como (re)apresentação e uma "figura" pensada primeiro como espaço de emissão e como presença enunciadora (inseparável, então, de uma voz).

Poder-se-ia dizer também, condensando ao extremo: os traços de uma identidade versus a abertura de uma ipseidade. Quase a mesma coisa, portanto, e como é justo, um desvio irredutível.

O que é, então, uma "cena", se é sempre um lugar para figuras, e se só há figura em uma cena? O que acontece ali com esses dois modos da figura? ("Figura" é a palavra certa? Isso é outra questão ainda. Seria preciso falar também das imagens e das relações diferentes que temos, tu e eu, com elas, e depois ainda dos esquemas — mas isso fica para depois.)

Ou ainda, será preciso pensar dois modos da cena? E seria a partir dessa dualidade que se deveria abordar a questão da cena — da cena teatral, da cena política, da cena analítica?


LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. Scène suivi de Dialogue sur le dialogue. Paris: C. Bourgois, 2013.