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Meyrink (Evola) – Doutrina do Despertar
sábado 24 de maio de 2025
GUSTAV MEYRINK Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) (1868-1932)
No centro [de sua obra] está a doutrina do Despertar, com a oposição entre o estado normal da existência humana e o dos seres que alcançaram uma forma superior de existência, chamados também de "Viventes" no sentido mais elevado do termo, pois se trata de "ser vivo aqui e além", ou seja, imortal. Se a doutrina do anâtmâ foi própria ao budismo — negação da presença de um verdadeiro Eu no homem comum —, essa opinião é também a de Meyrink Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) . Um personagem de A Noite de Walpurgis diz: "Você acredita realmente que todas essas pessoas que se veem caminhando pelas ruas possuem um Eu? Elas não possuem absolutamente nada. Antes, são possuídas a cada instante por um espectro que nelas desempenha o papel do Eu." Alhures, Meyrink Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) fala de "sóis apagados", de existências fantasmagóricas. "O homem não está convencido de nada tão fortemente quanto de estar desperto. Na realidade, está preso numa rede de sono e sonho que ele mesmo teceu. Aqueles que nela se encontram atravessam a vida como um rebanho que se dirige ao matadouro." Só pode se desligar desse rebanho aquele que reencontrou essa "chave do poder sobre a natureza inferior, enferrujada desde o dilúvio, que se chama: estar desperto. Estar desperto é tudo." "Lê as escrituras sagradas de todos os povos da terra; através de cada uma delas passa o fio vermelho da doutrina do Despertar. É a escada celestial de Jacó lutando contra o anjo do Senhor toda a ’noite’ — até o aparecer do ’dia’, quando finalmente obtém a vitória. De fato, só é imortal o homem desperto. Os astros e os deuses declinam, só ele permanece, e pode realizar tudo o que deseja. Não. Não há nenhum Deus acima dele."
Sobre o caminho que leva ao Despertar, Meyrink Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) fala do "domínio mágico do pensamento", que nada tem a ver com os habituais exercícios estereotipados de "concentração mental". "A luta pela imortalidade é uma batalha para dominar os sonhos e os fantasmas que elegeram domicílio no fundo de nós, nosso Eu aguardando ser coroado equivalente à espera do Messias." Num texto integrado em O Rosto Verde, são descritas certas técnicas destinadas a provocar o Despertar, técnicas que em parte lembram o ioga: trata-se de imobilizar primeiro o corpo, para depois se dissociar dele, atravessar e ultrapassar todo um mundo de aparições e fantasmas. Alhures, também se faz alusão à prova que consiste em conservar a consciência lúcida, apesar de uma mudança de estado provocada por fumos exóticos.
Por outro lado, Meyrink Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) afirma que se deve exigir tudo do Eu, a partir do momento em que se descobriu sua dimensão transcendente (em termos hindus, o Eu tornando-se o Atmã, confundindo-se com ele). Então se poderá dominar as ilusões, os miragens, se transporão os limites das religiões — do mundo daqueles que "criam imagens para adorá-las, em vez de se transformarem nessas mesmas imagens" — e também os de certa magia e teurgia. Essa revelação, após experiências trágicas, atormentadas, impõe-se ao personagem principal de O Anjo da Janela do Ocidente, que antes percorrera a via evocatória da magia cerimonial. Esse ponto de vista pouco difere do do esoterismo indo-tibetano: toda aparição não passa de uma projeção enganadora das forças profundas de nosso próprio ser.
Parece, contudo, que Meyrink Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) considera também que uma espécie de predestinação ou vocação (no sentido de chamado) pode encaminhar para o Despertar. Ele retoma, por exemplo, as lendas em que se fala de seres que nunca conheceram a morte — Elias, João o Evangelista gnóstico, o Judeu Errante ou o cabalista Khidr o Verde, ao qual se poderia acrescentar o misterioso Al-Khidr islâmico — que se manifestam a "aqueles que a serpente mordeu". Ou então deseja guiar os seres para uma configuração "fatal" de nossa existência. Em geral, diz-se que "quando renunciamos a correr como loucos atrás de nossas quimeras, a romper cegamente o fio do destino, os eventos compõem uma trama maravilhosa." Todavia, Meyrink Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) alude a um súbito abalo interior (que de certa maneira evoca o Satori do Zen) ou a uma aceleração repentina dos ritmos — "como um cavalo que, até então, teria marchado a passo e que, de repente, se lançasse a galope." Os eventos podem então assumir um aspecto trágico, que pode ser o de uma Noite de Walpurgis: potências se libertam, tomam posse do ser, o transportam. Aliás, o tema da obsessão volta frequentemente nos romances de Meyrink Meyrink Meyrink, Gustav (1868-1932) : personagens nos quais se reencarna uma força que às vezes é a que governou um de seus ancestrais. Noutros casos, pareceria tratar-se de uma espécie de atitude "sacrificial", que consiste em permitir que se realizem os efeitos de causas que há muito se reforçavam sem intervir. Assim, em O Golem, Laponder, que cometeu um estupro e um assassinato, recusa-se a fugir do castigo que o espera. Ele diz: "O homem é como um tubo de vidro no qual deslizam bolas de cores variadas. Na vida da maioria dos seres, só há uma bola. Se é vermelha, diz-se que o homem é ’mau’; se é amarela, diz-se que é ’bom’. Às vezes, as bolas se alternam. Nós, que fomos ’mordidos pela serpente’, vivemos no curso de nossa existência o que de costume acontece a toda uma linhagem de ancestrais no decorrer de um longo período; as bolas multicores percorrem o tubo numa corrida louca, uma após outra, até que nos tornemos profetas, imagens do divino. O Despertar sobrevém após uma espécie de pesadelo, na linha tão tênue que separa a ’Via da Vida’ da ’Via da Morte’."
(Julius Evola Evola Giulio Cesare Andrea "Julius" Evola (1898-1974) )

