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Huxley – Homem animal e pensador

quarta-feira 2 de abril de 2025

Aldous Huxley Huxley Huxley, Aldous (1894-1963) . Música na noite & outros ensaios

A resposta para todas essas perguntas é: “Não”. A meta da cruzada de Lawrence era uma admissão por parte do espírito consciente quanto ao direito do corpo e dos instintos não meramente a uma existência de má vontade, mas a uma honradez igual à do próprio espírito. O homem é um animal que pensa. Para ser uma criatura humana de primeira categoria, um homem precisa ser tanto um animal de primeira categoria quanto um pensador de primeira categoria. (E, aliás, ele não pode ser um pensador de primeira categoria, pelo menos no tocante às questões humanas, a menos que seja também um animal de primeira categoria.) Da época de Platão em diante houve uma tendência de exaltar o homem espiritual e pensante em detrimento do animal. O Cristianismo confirmou o Platonismo; e agora, por sua vez, isto que eu posso chamar de Fordismo, ou a filosofia do industrialismo, confirma, embora com modificações importantes, as doutrinas espiritualizantes do Cristianismo. O Fordismo exige que sacrifiquemos o homem animal (e junto com o animal grandes porções do homem espiritual e pensante) não de fato a Deus, mas à Máquina. Não há lugar numa fábrica, ou na fábrica mais ampla que é o mundo industrializado moderno, para animais, de um lado, ou, de outro, para artistas, místicos ou até mesmo, por fim, indivíduos. De todas as religiões ascéticas, o Fordismo é aquela que exige as mais cruéis mutilações da psique humana – exige as mais cruéis mutilações e oferece os menores retornos espirituais. Praticada com rigor por algumas gerações, essa tenebrosa religião da máquina terminará destruindo a raça humana.