A essa dimensão transcendental e a essa temática gnóstica soma-se o incessante movimento da fala: este movimento, tendo se desvencilhado do mundo e de qualquer situação definida nele, é apenas um movimento interior, fazendo de L’Innommable um puro romance da consciência sob o modo do monólogo, uma consciência despida que não é mais uma consciência singular e definida, mas uma forma pura do relato. Esse movimento tem duas dimensões, das quais a segunda é pouco enfatizada pelos intérpretes, (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Jean-Louis Chrétien – o eu que fala em Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Jean-Louis Chrétien – maniqueísmo de Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEm Beckett, primeiramente a gente se desloca, depois tem dificuldades, e finalmente não consegue mais se mover, o corpo perde sucessivamente o uso de um ou outro membro até que se torne problemático que ainda se tenha um corpo, não estamos mais no mundo, não há mais nem coisas nem pessoas: resta apenas a voz e as palavras, e a crença incerta, vacilante de que, apesar de tudo, apesar do roubo de tudo, eu falo. “Tudo se resume a uma questão de palavras, não se deve esquecer, eu não esqueci.” (…)
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Jean-Louis Chrétien – reflexão sobre os pronomes pessoais
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA reflexão sobre a subjetividade toma a forma de uma reflexão sobre a fala, sobre a voz, e sobre o que permite seu uso, os pronomes, os pronomes pessoais. O tema reaparece frequentemente: "Depois chega dessa maldita primeira pessoa, já é demais no final, não se trata dela, vou arrumar problemas. Mas também não se trata de Mahood, ainda não. De Worm então menos ainda. Bah, pouco importa o pronome, desde que não sejamos enganados. Depois o preço está pago (sic). Mais veremos mais tarde" (I, (…)
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Jean-Louis Chrétien – monólogos na trilogia de Samuel Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA segunda objeção [ à trilogia de Beckett ] é formal. A presente obra concentra-se no monólogo interior e deixou de lado as narrativas em primeira pessoa. Ora, se a trilogia é de fato uma série de monólogos, estes se apresentam eles mesmos como escritos (um escrito encomendado e remunerado para Molloy (M, 7), um "relatório" para Moran (M, 142)), e não poderiam ser formalmente qualificados como monólogos interiores. No máximo, pode-se dizer que eles têm origem no monólogo interior, como (…)
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Jean-Louis Chrétien – Samuel Beckett
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA trilogia formada por Molloy, Malone Morre e O Inominável, era aos olhos de Beckett uma obra única, para a qual ele desejava um único contrato de edição, e que foi, em inglês, conforme seu desejo, reunida em um só volume. Conforme as últimas palavras de O Inominável, “é preciso continuar, não posso continuar, vou continuar” (I, 213), ela prosseguiu apesar de tudo uma vez terminada, já que houve o doloroso e dificultoso trabalho de sua tradução, em colaboração para Molloy e sozinho para as (…)
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Abellio (Ézéchiel) – Vida, fugas e retornos
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPara que serve a astúcia? A poesia me arrebata, como sempre. Um ano de solidão, de despojamento, de reflexão sobre as coisas essenciais, para me deixar ainda prender nas armadilhas da poesia e da noite! Esta noite me vampiriza, me dispersa e me dissolve em pó de estrelas. É apenas a perspectiva nebulosa da rue Réaumur, mas as luzes se alinham e se ordenam, sua longa fila se estende tão longe quanto se queira, eixo do reino onde se encontram as promessas de felicidade e as verdades eternas. (…)
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Jean Richer – Victor Hugo e o sonho
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA experiência do sonho, sobrepondo-se e somando-se à das mesas girantes, desempenhou um papel na elaboração das teorias filosóficas de Hugo, cujo conjunto constitui um neopitagorismo, incluindo a crença em reencarnações, em uma cadeia contínua de seres na criação, desde o mineral até Deus, em um sistema de penas e recompensas. É preciso lembrar que todas essas teorias estão claramente formuladas em Ballanche, mas também no curioso relato de antecipação de Sébastien Mercier, L’an 2440, onde é (…)
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Jean Richer – Victor Hugo
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTodos os biógrafos de Victor Hugo destacaram o lado trágico do destino do poeta. O que se chama de seu "maniqueísmo" (a oposição, a luta do dia e da noite, do bem e do mal que ele evoca constantemente em sua obra) nasce primeiramente de sua própria experiência, do conflito que vive incessantemente da coexistência nele de uma hereditariedade paterna e de uma hereditariedade materna mal ajustadas, do anjo e do porco, do fauno e do mago. Os eventos de sua existência, os componentes de seu (…)
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Matias Aires – Reflexões sobre a vaidade dos homens
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEu que disse mal das vaidades, vim a cair na de ser autor: verdade é que a maior parte destas Reflexões escrevi sem ter o pensamento naquela vaidade; houve quem a suscitou, mas confesso que consenti sem repugnância, e depois quando quis retroceder, não era tempo, nem consegui o ser anônimo. Foi preciso pôr o meu nome neste livro, e assim fiquei sem poder negar a minha vaidade. A confissão da culpa costuma fazer menor a pena.
Não é só nesta parte em que sou repreensível: é pequeno este (…) -
Alceu Amoroso Lima – Matias Aires
7 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNa “vaidade”, que Matias Aires coloca como centro de suas meditações sobre o homem e a vida, não há apenas um conceito do homem e sim uma concepção geral do Universo. Por antecipação dos modernos filósofos existencialistas, que tomam de um conceito, como a angústia, o impulso vital, o risco, a luta, e daí partem para a compreensão do Universo todo, assim parte Matias Aires da vaidade humana, como origem de toda a sua compreensão das coisas. Não chega nunca a definir a vaidade. Nem mesmo a (…)