O descontentamento da intelligentsia, sua nova consciência de si, suas reivindicações, seu agrupamento e solidariedade aparecem como os primeiros indícios de uma época nova da qual ainda não sabemos se trará uma superação da crise assinalada em quase todos os domínios pela impotência da razão diante do absurdo, cuja persistência a realidade presente traduz. Muitos, vendo nesses fenômenos novos apenas o que lembra a agressividade da desrazão, as paixões cegas, a "plebe" no sentido tradicional (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Patocka – O escritor e seu "objeto"
3 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Patocka – o mundo da vida
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroParece que o conceito husserliano de "mundo da vida" traz aqui uma solução. Aquilo em que vivemos originalmente não é o "mundo em si", ao qual só chegamos através de um longo e laborioso processo de eliminação progressiva de todo "antropomorfismo", mas sim o mundo da vida, cujo sentido é constantemente elaborado e enriquecido pelas funções "anônimas" da vida. Essas funções são anônimas porque, embora estejamos a todo momento em presença de seus resultados, o emissor permanece ausente. O (…)
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Patocka – o sentido da vida
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroPara o escritor moderno, poeta ou prosador, essa apreensão individual do sentido da vida é determinante. O que valorizamos no escritor-artista é o que ele consegue revelar do sentido da vida mediante a linguagem corrente, formada pelo uso prático cotidiano, orientada para as coisas, recorrendo também a nosso saber objetivo. Utilizar a linguagem para fins que não são seus fins habituais, para objetivos que não pretendia visar; da expressão das coisas que era, transformá-la na expressão da (…)
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Patocka – o mito e sua desagregação
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroDissemos que o primeiro fruto desse retorno [pela objetivação da linguagem] é o mito, a lenda, a fábula. O mito mantém a coesão de um sentido uno: "uno" porque a trama, a ação, a situação, a tarefa a cumprir devem ser conduzidas a uma conclusão que, feliz ou trágica, deve sempre representar uma resposta, resolver a questão do sentido da história narrada. É assim que se objetiva um contexto de vida, com suas referências internas, sua forma e conteúdo. Aqui se expressam as tendências mais (…)
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Patocka – linguagem e escrita
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO próximo passo da dialética pela qual o homem se torna expressamente um ser vivente espiritualmente, ou seja, em uma relação explícita e consciente com o mundo, é a escrita, a fixação da expressão verbal. A necessidade de fixação é muito antiga, primordial, como se depreende da estereotipia da narração inicialmente oral, da precisão ritual com que os mitos são transmitidos, das figuras que facilitam a recitação e a memorização. Com a escrita, que transforma a fala em algo que pode ser (…)
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Patocka – linguagem e fala
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA linguagem, traço distintivo do homem (nenhum animal possui linguagem no sentido de um meio de entendimento com um teor de significação), cristaliza-se originalmente a partir da fala, da atividade de falar, sendo esta inseparável de uma situação de fala. A situação de fala é o que determina o sentido do que é dito, o que localiza a significação no tempo e no espaço, relacionando-a a tais ou tais pessoas cuja presença é dada a entender pelo contexto. Na origem, a fala é parte integrante de (…)
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Patocka – compenetração do dramático e do épico
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroÉ portanto a essa época [Antiguidade grega] que remonta o apoio recíproco, a compenetração teórica e prática do dramático e do épico, do drama e do épos. Apoio e compenetração para os quais a objetividade épica é o próprio solo da formação poética do destino humano, sem o qual a criação dramática tampouco poderia, de maneira verdadeiramente artística, captar, conhecer e explorar a fonte autônoma de sentido que lhe é própria. O vínculo estreito dos dois vai tão longe que, no fim mesmo dessa (…)
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Patocka – o medo-pavor e a piedade-compaixão
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA poesia, diz Aristóteles (e ele entende por isso principalmente o drama e, sobretudo, a tragédia), é nitidamente mais filosófica que a historiografia, pois a crônica é uma simples descrição do que foi, dos fatos singulares e, portanto, contingentes, ao passo que a poesia concerne a algo universal, as possibilidades da natureza humana e do destino do homem em geral .
O que é essa coisa necessária e sempre possível? Quais são esses aspectos essenciais do humano — não apenas da natureza do (…) -
Patocka – o épico e o dramático
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTalvez não seja sem interesse para os especialistas do teatro, cuja atenção se volta, muito compreensivelmente, para os imperativos do presente, para a atualidade com seu turbilhão multifacetado e sua imensa multidão de aspirações que não se pode abarcar com o olhar, se um não-especialista, aproveitando o distanciamento que sua posição lhe oferece, tenta uma reflexão mais fundamental, considerando o tempo presente como uma simples fase sem autonomia do emaranhado das eras. Antigamente, um (…)
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Patocka – Antígona, não autonomia do sentido e do mundo humanos
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroAntígona é, portanto, uma confirmação mítica da não autonomia essencial do sentido e do mundo humanos. A atestação da dependência do homem, de sua finitude fundamental, de sua crise e de seu errar na questão do bem e do mal, faz parte da essência do mito autêntico. O mito tal como o homem moderno o compreende é, por outro lado, um mito essencialmente falseado. O pensamento racionalista tem razão em se insurgir contra o mito na medida em que toma essa falsificação como alvo de seus ataques. O (…)