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Há meio século, as diversas confissões e filosofias disputam a obra de Charles Baudelaire não menos avidamente que as capelas literárias que se sucederam desde Arthur Rimbaud. Embora o espetáculo de suas inquietações morais e religiosas devesse levar os críticos a uma absoluta sinceridade, a uma impiedosa objetividade, o impulso das ideias e, mais ainda, o fervor religioso e a paixão filosófica os levaram a estender a toda a obra baudelairiana conclusões que por vezes só se (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Paul Arnold (Hermès) - Cosmos de Baudelaire (1)
4 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Patocka – Fausto de Thomas Mann
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA solução goethiana da questão de Fausto, solução que rejeita a venda da alma imortal como impossível, nos conduz assim a uma outra versão ainda, quase contemporânea, da mesma lenda. Faz apenas vinte e cinco anos que Thomas Mann publicou seu Doutor Fausto, que tentaremos agora confrontar, como terceira figura fundamental, às duas precedentes. Partiremos mais uma vez da situação histórica que ali se reflete.
A situação comporta mais uma vez um “império germânico”, que se apresenta, no (…) -
Patocka – Fausto de Goethe
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTanto no Volksbuch quanto em Marlowe, em sua primeira versão poética, a história de Fausto permanece ao mesmo tempo uma lenda explicitamente alemã, situada com precisão em um lugar do mundo e um ponto no tempo. A unidade da cristandade não existe mais. Os países das fronteiras ocidentais se libertam abertamente dos laços impostos pela autoridade e pelo poder espiritual. No entanto, mesmo na fragmentação e no caos do período da Reforma, o Sacro Império Romano permanece fundamentalmente (…)
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Patocka – venda da alma imortal? (Fausto)
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroOs mitos não morrem, como acreditavam os racionalistas e seus seguidores. Seria mais correto dizer que simplesmente se transformam, pois há algo mais além do conteúdo contingente do mundo e do conhecimento que possuímos sobre ele. Há o coração do mundo, elevado acima da contingência e da não-contingência no sentido comum desses termos. O coração do mundo não é apenas algo que pode ser objeto de um saber filosófico, mas algo com o qual nos relacionamos com todo o nosso ser, algo que narramos (…)
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David Loy – Sou feito de estórias?
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroSem estórias não há eu. Ao abandonar todas as estórias durante a meditação samadhi, torno-me nada. O que se pode dizer sobre este nada? Neti, neti—"não isto, não isto." Dizer algo sobre isso dá-lhe um papel em uma estória, mesmo que seja apenas um marcador de lugar como um zero.
Amamos estórias de salvação, por exemplo, a abjeção e redenção de alcoólicos. “Eu estava perdido, mas agora me encontrei.” Quando sou salvo ou nasço de novo ou sou despertado, o que permanece o mesmo? Como eu (…) -
David Loy – A Estória da Vida e da Morte
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA morte é o fim da minha narrativa, ou outra estória?
Estórias são o que a morte pensa que põe fim. Ela não consegue entender que elas acabam nela, mas não acabam com ela. Ursula K. Le Guin
A estória mais antiga, a epopeia suméria de Gilgamesh, é sobre seus esforços para evitar a morte. Lidamos com a morte tecendo-a em estórias que diminuem sua picada, para que ela não represente um fim da vida e do sentido que ofusque toda vida e sentido.
O sentido da vida é que ela para. Kafka
Se a (…) -
David Loy – o progresso
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA crença moderna no progresso é uma versão secularizada do apocaliptismo cristão.
Pro-gresso é “caminhar para a frente”... para onde? Pode haver progresso se não soubermos nosso destino?
O progresso pode ter sido bom uma vez, mas já durou demais. Ogden Nash
O crescimento da liberdade é a estória central da estória, segundo Lord Acton, porque representa o plano de Deus para a humanidade. Rastreamos as origens da civilização ocidental até a libertação grega da razão (filosofia) do mito, (…) -
David Loy – o tempo
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO tempo é meramente uma grade neutra para a narrativa, ou sua estrutura dá significado ao que acontece? A estrutura temporal básica da modernidade tem sido o progresso: o quanto estamos melhorando o mundo. O futuro redimirá o passado, que é um peso a ser superado.
Sociedades pré-modernas geralmente idealizavam o passado, estando mais preocupadas com o quão longe caímos ou podemos cair. Quando a estória é cosmologia, o tempo e o que acontece no tempo não são distinguidos. A Idade de Ouro (…) -
David Loy – O Poder da Estória, a Estória do Poder
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroNão é o homem que é impotente na luta contra o mal, mas o poder do mal que é impotente na luta contra o homem... A estória humana não é a batalha do bem lutando para vencer o mal. É uma batalha travada por um grande mal para esmagar um pequeno núcleo de bondade humana. Mas se o que é humano nos seres humanos não foi destruído nem mesmo agora, então o mal nunca vencerá. Vasily Grossman
Mesmo que estejamos presentes em algum evento histórico, só o compreendemos – só podemos sequer lembrá-lo (…) -
Daniel Vouga (Baudelaire) – dandismo e desprezo
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroEntre outros projetos que nunca realizou, Baudelaire menciona várias vezes um artigo sobre "o dandismo literário" (cf. por exemplo Correspondance, III, p. 244); e entre os dândis, inclui Joseph de Maistre. Não especifica sob qual título. Mas basta ter lido o capítulo IX do estudo dedicado a Constantin Guys, "o pintor da vida moderna", para saber que o dandismo nunca consistiu, aos olhos de Baudelaire, em exibir um colete vermelho ou uma bengala com pomo de ouro, e que "o gosto imodesto pelo (…)