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Simbólica do Sonho – Capítulo 1 (parcial) (Schubert)

sexta-feira 18 de abril de 2025

(Schubert1982, as letras em colchetes se referem a notas do autor, ainda não postadas)

No sonho, e já naquele estado de delírio que frequentemente precede o sono, a alma parece falar uma linguagem completamente diferente da habitual. Certos objetos da natureza, certas propriedades das coisas repentinamente designam pessoas e, inversamente, tal qualidade ou ação se apresenta a nós sob forma de pessoa. Enquanto a alma fala essa linguagem, suas ideias estão submetidas a uma outra lei de associação que não a usual, e é inegável que essa nova associação de ideias se estabelece de maneira muito mais rápida, misteriosa e breve do que no estado de vigília, quando pensamos mais recorrendo a palavras. Com um pequeno número de imagens misteriosas curiosamente dispostas — que concebemos seja rapidamente e sucessivamente, seja simultaneamente e num único instante — expressamos nessa linguagem, em pouco tempo, mais coisas do que poderíamos expor com palavras durante horas inteiras. Aprendemos num sonho surgido de um breve sono frequentemente mais coisas do que ocorreria, no curso da linguagem comum, durante horas, e isso sem verdadeiras lacunas, num contexto em si coerente, mas que é evidentemente bastante particular e incomum. [A]

Sem querer, contudo, privilegiar o sonho em detrimento da vigília, ou a loucura em relação à razão, não podemos negar que essa linguagem feita de abreviações e hieróglifos parece, em muitos aspectos, mais adequada à natureza de nosso espírito do que nossa habitual linguagem verbal. Esta é infinitamente mais expressiva, mais rica e muito menos dependente do desenrolar cronológico do que aquela. A linguagem comum, precisamos primeiro aprendê-la, enquanto a primeira nos é inata, e a alma tenta usar essa linguagem que lhe é própria assim que se liberta um pouco de seu habitual aprisionamento, por exemplo no [62] sono ou no estado de delírio — ainda que o consiga tão pouco quanto um bom andarilho que, ainda feto no ventre materno, tentasse executar seus passos futuros. Pois, diga-se de passagem, caso fôssemos capazes desde já de trazer à luz esses disjecta membra de uma vida originária e futura, no momento só poderíamos balbuciar na língua dos espíritos ou, quando muito, obter alguns efeitos de ventriloquia.

Além disso, além do poder que essa linguagem exerce sobre as forças de nosso eu íntimo — comparável ao de Orfeu cantando sobre as forças da natureza sensível —, ela possui outra vantagem muito importante sobre a linguagem comum. O curso dos eventos de nossa vida parece de fato se organizar segundo uma lei de associação própria ao destino, bastante semelhante à que rege a sequência das imagens oníricas. Em outras palavras, o destino dentro e fora de nós (chame-o como quiser) fala a mesma linguagem que nossa alma no sonho. É por isso que esta, ao usar sua linguagem de imagens oníricas, consegue produzir combinações às quais certamente não pensaríamos no estado de vigília; ela liga habilmente o amanhã ao ontem, o destino de anos inteiros por vir ao passado, e seus cálculos se mostram exatos, pois seus acertos demonstram que frequentemente prevê o futuro com precisão. Eis uma maneira de calcular e combinar inacessível ao comum dos mortais, uma forma de álgebra superior ainda mais simples e fácil que a nossa, mas que só o poeta oculto em nós sabe manejar. [B]

Curiosamente, constata-se sempre que essa linguagem não varia conforme as pessoas nem é, por assim dizer, autocriada pelo arbítrio de cada individualidade, mas aparece bastante semelhante em todos os seres humanos ou, quando muito, matizada por nuances dialetais. Se pudéssemos falar em sonho juntos no templo de Anfiaraú, o selvagem da América e o neozelandês entenderiam minha linguagem de imagens oníricas, e eu a deles. Aqui também a língua de um tem certamente mais riqueza lexical, extensão e fineza que a do outro; Platão fala grego, o marinheiro do Pireu também, mas a riqueza desse grego será bem diferente nessas duas pessoas. A dama de honra culta e a camponesa falam ambas, e na mesma língua, dos mesmos objetos da natureza e das mesmas necessidades da vida cotidiana — e no entanto as palavras de uma são bem diferentes das da outra. Ou ainda, numa língua tão imensamente rica quanto essa linguagem misteriosa, que tem tantas palavras para designar o mesmo objeto, a alma de uma pessoa costuma escolher tal ou qual expressão, tal ou [63] qual construção favorita, enquanto a de outra prefere outras. Consequentemente, almas vulgares falam um patoá, outras mais cultivadas um dialeto mais elaborado — como na região do Schein, onde o povo fala o dialeto baixo-alemão e as pessoas distintas falam o alto-alemão. [C]

Podemos admitir com razão que parte do conteúdo de nossas "Chaves dos Sonhos" se baseia em observações pertinentes e repetidas inúmeras vezes, enquanto outra parte desse mesmo conteúdo é certamente constituída apenas de interpretações fantasiosas e explicações artificiais. As Chaves dos Sonhos de diferentes nações mostram, quando comparadas, uma concordância no essencial — e esta não parece dever-se apenas ao fato de que parte das mais antigas Chaves dos Sonhos, como a de Cardano, tenha sido escrita em latim ou estivesse, entre diferentes povos, nas mãos dos futuros psicólogos do sonho. Um estudo objetivo de si mesmo e mesmo o que viajantes nos contam sobre os povos da América do Norte nos levam a princípios de interpretação onírica semelhantes aos expostos nas Chaves dos Sonhos — princípios bastante conhecidos das pessoas simples, por experiência ou tradição.

Citaremos abaixo alguns exemplos de imagens oníricas extraídos de uma Chave dos Sonhos comprovada, cujas interpretações foram parcialmente confirmadas por observações posteriores.

O estado em que a alma pensa e age em sua linguagem metafórica com certa coerência e ordem já representa um grau superior e mais perfeito do sonho. Frequentemente notamos, sobretudo no momento em que adormecemos ou no estado de semisono, a existência de um grau menos perfeito deste, mais próximo da vigília e que representa de certo modo a passagem dela para o verdadeiro estado de sonho. Nesse estágio — do qual nos lembramos ao acordar muito mais facilmente que do sonho perfeito —, as duas regiões distintas com suas duas linguagens diferentes caminham ainda por um momento lado a lado na mesma direção e se misturam de maneira incoerente e incongruente. Assim, por exemplo, pensamos a palavra "escrever" e temos ao mesmo tempo diante de nós a imagem de duas pessoas, uma carregando a outra nas costas. Na entrada do sono, o estado de sonho deixa assim a razão desperta pregar ainda por um momento em sua linguagem de palavras, mas executa, aparecendo por trás dela, gestos insólitos (como uma criança escondida atrás do colega fazendo sua oração noturna) [64] — até que, finalmente, a razão adormece e o universo onírico oculto atrás dela se revela em toda liberdade. [D]

Do mesmo modo, no estado de sonho perfeito, o modo de expressão metafórica que a alma usa varia, e sua compreensão é mais ou menos fácil. Muitas vezes um sonho profético nos apresenta os eventos do dia seguinte — na medida em que se prestam a uma representação imagética — exatamente como depois se apresentam na vigília; ou então imagens misteriosas se misturam de modo bizarro. Assim, por exemplo, sonhamos com a chegada de um amigo que acreditávamos muito distante, e ele nos surpreende no dia seguinte com sua vinda; mas, no sonho, o que ele tinha a nos dizer estava ou mimado, ou revestido de expressões metafóricas. Ou vemos, num sonho, numa sala cheia de sangue, um amigo que julgávamos saudável nos dizendo com um rosto grave e lívido que era seu aniversário naquele dia; e, no dia seguinte, na mesma sala vista no sonho, somos surpreendidos pela autópsia desse amigo, morto subitamente.

Mesmo as coisas que expressamos no sonho perfeito — na medida em que apresentam parentesco com o mundo do sonho (ou do sentimento) — muitas vezes conservam em sua totalidade a expressão e o contexto habituais da vigília; e aqui e ali apenas pensamentos isolados são caracterizados segundo o modo simbólico próprio do sonho. Em geral, graças a essa afinidade, o sonho é para muitos indivíduos um espelho fiel do estado de vigília. Em outros casos, porém, a expressão metafórica do sonho está tão distante da expressão verbal da vigília que requer primeiro uma tradução. Falaremos agora dessa linguagem simbólica que caracteriza o sonho.