ARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
TODA OBRA-PRIMA PODE ser lida em vários planos, mas para que seja considerada uma obra-prima é preciso que todos os fios estejam organizados de maneira a formar uma unidade consistente em cada plano. Sobre Os demônios pode-se dizer que se trata, no plano inferior, e no entanto indispensável, de um roman-à-clef, em que tudo e todos podem ser verificados. A trama é retirada diretamente dos (…)
Página inicial > Palavras-chave > Autores e Obras > Arendt
Arendt
Matérias
-
Dostoiévski – Os Demônios (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de Castro -
Dostoiévski – Os Demônios (2) (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
No segundo plano, que de forma geral é o aceito, Os demônios é uma explicação ou profecia do que realmente aconteceu: o ateísmo provocaria a queda do regime czarista. O ateísmo erodiu um governo cuja autoridade se assentava “na graça de Deus” e que perdeu legitimidade quando os homens deixaram de acreditar em Deus. Chátov declara que “Para começar uma rebelião na Rússia, é preciso que se (…) -
Dostoiévski – Os Demônios (3) (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
Num terceiro plano, que claramente era o de Dostoiévski, abordamos a mesma questão do ateísmo, mas de forma muito mais séria: o tema central em toda a obra de Dostoiévski não é a existência ou não de Deus, mas a possibilidade de o homem viver sem acreditar em Deus. Antes, porém, de discutirmos isso, devemos notar que essa questão leva dúvida à crença – não de fora, como faz a ciência (em que (…) -
Arendt – Marcel Proust, os judeus franceses em sua época
28 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEscolhemos os salões do Faubourg Saint-Germain como exemplo do papel dos judeus na sociedade não judaica da França. Quando Marcel Proust — que era semijudeu e em situações de emergência estava sempre pronto a identificar-se como judeu — saiu em busca do “tempo perdido”, escreveu realmente o que um dos seus críticos mais apologéticos chamou de uma apologia pro vita sua. A vida daquele que foi o maior escritor da França do século xx foi vivida quase exclusivamente em sociedade; os eventos se (…)
-
Arendt – grandes vilões e o mal
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEstaríamos numa situação um pouco melhor se nos permitíssemos voltar os olhos para a literatura, para Shakespeare, Melville ou Dostoiévski, nos quais encontramos os grandes vilões. Eles também podem ser incapazes de nos dizer alguma coisa específica sobre a natureza do mal, mas pelo menos não se furtam ao problema. Sabemos, e podemos quase ver, como o mal assombrava a mente deles constantemente, e como estavam bastante cientes das possibilidades da maldade humana. Ainda assim me pergunto se (…)
-
Melville – Billy Budd (Arendt)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAgir com deliberada rapidez vai contra a essência do ódio e da violência, porém, isso não os torna irracionais. Muito pelo contrário, tanto na vida pública como privada há situações onde a própria rapidez de uma ação violenta seja talvez o único remédio adequado. A questão não é que uma tal ação nos permite dar vazão aos nossos impulsos reprimidos – o que pode ser feito com a mesma eficácia se esmurrarmos a mesa ou batermos a porta. A questão é que em certas circunstâncias a violência – (…)
-
Melville – Problema do bem e do mal (Arendt)
27 de junho, por Murilo Cardoso de CastroEra talvez inevitável que o problema do bem e do mal, de seu impacto sobre o curso dos destinos humanos, em sua simplicidade crua e sem sofisticação, assombrasse a mente dos homens no exato momento em que afirmavam ou reafirmavam a dignidade humana sem qualquer recurso à religião institucionalizada. Mas a profundidade desse problema dificilmente poderia ser sondada por aqueles que confundiam bondade com a ‘repugnância natural e inata do homem em ver seus semelhantes sofrerem’ (Rousseau), e (…)