CCampo1987
Acusar os fabulistas franceses de frivolidade por enfeitarem suas fadas com plumas de avestruz significa "ter visão, mas não percepção". Era justamente essa percepção que uma Madame d’Aulnoy possuía, captando nas vozes do povo os mistérios mais delicados, quase sem se dar conta, como em um sonho, tal como se colhe um trevo-de-quatro-folhas num campo. (Não assim os irmãos Grimm, que, explorando metodicamente folclore folha por folha, encontraram muitos também, mas no meio de uma (…)
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Cristina Campo
Matérias
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Cristina Campo – Rosa
17 de maio, por Murilo Cardoso de Castro -
Cristina Campo – Caminho do conto de fadas
17 de maio, por Murilo Cardoso de CastroCCampo1987
O caminho do conto de fadas começa sem esperança terrena. O impossível é imediatamente figurado pela montanha, e para simplesmente decidir enfrentá-la é necessário um sentimento que funcione como um ponto arquimédico fora do mundo. “Qualquer coisa, contanto que salve minha mãe”, é a fórmula simbólica que abre a porta para a quarta dimensão. Ela realiza aquilo que um místico disse sobre a oração: arranca, por assim dizer, a montanha de sua base, virando-a sobre seu topo. A partir (…) -
Cristina Campo – Conto de fada, imponderável
17 de maio, por Murilo Cardoso de CastroCCampo1987
Como os evangelhos, o conto de fada é uma agulha de ouro, suspensa por um norte oscilante, imponderável, sempre inclinado de modo diverso, como o mastro de um navio em mar revolto.
Oferece a cada momento a escolha – mas uma escolha velada por véus sempre diferentes – entre simplicidade e sabedoria, dureza e suavidade, memória e esquecimento salutar. Um vence porque, num país de crédulos e intrigantes, foi desconfiado e reservado; outro porque se entregou infantilmente ao (…) -
Cristina Campo – Conto de fada, matéria prima
17 de maio, por Murilo Cardoso de CastroCCampo1987
Sindbad o disse: um conto só opera sobre a matéria-prima da existência, seu campo alquímico natural. É o mistério do caráter – sejam os humores, as estrelas, a herança atávica de outro conto – que até o fim conserva seus traços e só através da repetição dos mesmos erros, do sofrimento das mesmas derrotas, alcança a metamorfose.
De que encantadoras ambiguidades às vezes se sugere esse traço. Ao príncipe caçula, o último dos nove cisnes encantados, a túnica de urtigas que deve (…) -
Cristina Campo – Desgraça
17 de maio, por Murilo Cardoso de CastroCCampo1987
É uma descoberta que poucos fazem e talvez seja a única pedra angular sobre a qual podemos apoiar os pés. O reino do sofrimento humano poderia ser dividido entre a desgraça da mão direita e a desgraça da mão esquerda. Os antigos conheciam essas metáforas sagradas, além das quais não há definição possível. A desgraça da mão direita reside na desgraça da mão esquerda, como uma ferida de arma branca está no abraço das areias movediças, na morte por sede no deserto.
A pobreza, o (…)