AbellioANG
Quando se fala do problema do assassinato em Dostoiévski, é preciso sempre se referir aos diálogos de Aliocha e Ivan Karamázov, onde esses limites da moral são manifestos, mas onde o conhecimento, por sua parte, não aparece. À pureza bíblica de Aliocha, sabe-se que Ivan Karamázov opõe perguntas sem piedade. Para tornar o conjunto dos homens definitivamente felizes, Aliocha aceitaria, se lhe oferecessem essa troca, ver torturar uma criança? Uma só criança contra toda a (…)
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Dostoiévski
Dostoevsky, Fyodor (1821-1881)
Matérias
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Problema do assassinato em Dostoiévski (Abellio)
19 de abril, por Murilo Cardoso de Castro -
Dostoiévski – Os Demônios (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
TODA OBRA-PRIMA PODE ser lida em vários planos, mas para que seja considerada uma obra-prima é preciso que todos os fios estejam organizados de maneira a formar uma unidade consistente em cada plano. Sobre Os demônios pode-se dizer que se trata, no plano inferior, e no entanto indispensável, de um roman-à-clef, em que tudo e todos podem ser verificados. A trama é retirada diretamente dos (…) -
Dostoiévski – "O Adolescente" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Os romances de Dostoiévski são todos construídos em torno de uma figura central, seja porque os personagens secundários convergem para ela, ou porque, ao contrário, ela irradia em direção aos personagens secundários. Essa figura essencial sempre representa um enigma que todos se esforçam para desvendar. Aqui está, por exemplo, "O Adolescente", uma das obras mais notáveis e menos apreciadas de Dostoiévski. O livro inteiro gravita em torno (…) -
"O Adolescente" de Dostoiévski (Abellio)
19 de abril, por Murilo Cardoso de CastroAbellioANG
Dos cinco grandes romances de Dostoiévski, este é o menos conhecido, aquele cujas riquezas são as mais secretas. Entre as duas construções gigantescas de Os Demônios e Os Irmãos Karamazov, e à sua sombra, O Adolescente é como um vasto parque cheio de arbustos e matagais, atravessado por caminhos sinuosos que não levam a lugar algum. Através da folhagem densa, adivinha-se, por toda parte, a presença erguida para o céu dos dois edifícios prodigiosos, e O Adolescente é esmagado por (…) -
Dostoiévski – Memórias do Subsolo (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
O homem do ’subsolo’ rejeita toda organização baseada na harmonia e felicidade universais. ’Não me surpreenderia nem um pouco’, diz o herói de ’Memórias do Subsolo’, ’se, de repente, inesperadamente, no meio de toda essa futura Razão universal, surgisse algum cavalheiro com uma fisionomia vulgar ou, melhor dizendo, retrógrada e debochada que, com os dois punhos nos quadris, nos dissesse: "E então! Senhores, não vamos reduzir de vez, com o (…) -
Dostoiévski – Homem-deus
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroDOSTOIEVSKI, Fiodor. Os Irmãos Karamázov. Tr. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2012
– É a mim que vais matar? Não, vais me desculpar, pois vou falar. Vim para cá justo com o fim de me dar esse prazer. Oh, amo os sonhos dos meus amigos ardentes, jovens, que a sofreguidão de viver deixa trêmulos! “Novos homens virão”, proclamaste ainda na primavera passada, quando te preparavas para vir para cá, “eles tencionam destruir tudo e começar pela antropofagia. Tolos, não me consultaram! A meu (…) -
Dostoiévski (Subsolo:C3) – um camundongo de consciência hipertrofiada
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroPois bem, um homem desses, um homem direto, é que eu considero um homem autêntico, normal, como o sonhou a própria mãe carinhosa, a natureza, ao criá-lo amorosamente sobre a terra. Invejo um homem desses até o extremo da minha bílis. Ele é estúpido, concordo, mas talvez o homem normal deva mesmo ser estúpido, sabeis? Talvez isto seja até muito bonito. Estou tanto mais convencido desta suspeita, por assim dizer, que se tomarmos, por exemplo, a antítese do homem normal, isto é, o homem de (…)
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Mário Martins – O tempo em "Demônios" de Dostoiévski
4 de julho, por Murilo Cardoso de CastroMais uma vez, abramos Os Demônios, de Dostoiewski. Kirillov, engenheiro e teórico do suicídio, batia com uma bola de borracha no chão e fazia-a saltar até ao tecto, entre os gritos entusiastas de uma pequerrucha que gritava: Bola, bola!
A bola rebolou para debaixo dum armário, Kirillov deitou-se no soalho e estendeu os braços para encontrar o brinquedo. Foi nesta posição que Stavroguine o encontrou.
— Queres chá?, perguntou-lhe Kirillov.
Stavroguine vinha encharcado e bebeu o chá (…) -
Dostoiévski – "Crime e Castigo" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Crime e Castigo foi concebido de forma diferente. O destino humano não se resolve ali na coletividade, na atmosfera ardente das relações humanas: é frente a frente consigo mesmo que Raskolnikov descobre os limites da natureza humana, é sobre sua própria natureza que ele faz suas experiências. O "tenebroso" Raskolnikov ainda não é um "enigmático" como Stavroguin ou Ivan. Ele representa um estágio menos avançado na estrada do arbítrio (…) -
Dostoiévski, sua concepção de homem e a de Dante e Shakespeare (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
É muito instrutivo comparar a concepção do homem em Dante, Shakespeare e Dostoiévski.
Para Dante, assim como para São Tomás de Aquino, o homem é uma parte orgânica da ordem objetiva do mundo, do cosmos divino. Ele é um dos degraus da hierarquia universal. Acima dele está o céu; abaixo, o inferno. Deus e o diabo são realidades que pertencem à ordem universal, impostas ao homem de fora. E os círculos do inferno, com seus tormentos (…)