Descreverei sucessivamente a Evidência Absurda da intuição de si pela Revelação do Riso; a Evidência Absurda da percepção do mundo pela Patafísica; e a Evidência Absurda no comportamento do homem, como princípio da Revolta.
Poderei então propor a Visão do Absurdo como tipo da primeira experiência metafísica.
A REVELAÇÃO DO RISO
Haverá para cada homem a revelação do Riso, mas que não se busque nela a alegria. No ponto em que estou, as envolturas do mundo se viram como dedos de luva: o (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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René Daumal – A Visão do Absurdo
1º de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
René Daumal – Provocações à ascese
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroSe agora alguém pergunta: por que essa busca perpétua pelo despertar, por que tentar ser sempre mais consciente, por que querer sair da condição humana? — que olhe para dentro de si com um olhar claro. Se a resposta: "por tal objetivo", que admite esse "por quê?", não lhe aparecer imediatamente, pelo menos verá com certeza, se realmente olhar, o "porque". Ele desejará necessariamente se libertar do estado humano, porque verá esse estado como intolerável. Ele pode muito bem ter compreendido (…)
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René Daumal – Banalidades
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroNenhum conhecimento — enquanto saber em potência — tem valor senão em relação a um ato de consciência possível. No domínio da experiência vulgar, a noção que tenho de uma pera, da Inglaterra, só me fornece antecipações do que posso experimentar ao ver, ao pegar a pera, ao cheirá-la, prová-la, ou ao viajar pela Inglaterra. Um objeto é a lei segundo a qual certas sensações podem se apresentar a mim, suceder-se e transformar-se em mim.
Essas banalidades, o espírito em busca do real sempre as (…) -
René Daumal – Contra-Céu V
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroEla é seu sacrifício e sua criatura, pois representa toda a Roupa da qual se despojou. Ela é seu conhecimento, pois ele a possui, diante dele único sujeito, projetada, objetada, único objeto. Ela é seu amor, pois é Tudo o que ele não é. O Mistério é reversível: teme a loucura. Aqui tocamos nas velhas lendas sobre a criação, ou melhor, sobre a emanação do Mundo. A base comum das antigas cosmogonias, transposta da ordem do macrocosmo àquela do microcosmo, torna-se o esquema de uma ascese (…)
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René Daumal – Contra-Céu IV
1º de julho, por Murilo Cardoso de Castroe contemple: um Mar borbulhante diante de você; a palavra SIM brilhando, refletida em cada bolha. O NÃO é macho, ele observa a fêmea. O mesmo ato negador que faz o sujeito consciente faz o objeto percebido. Despertar é se colocar a pensar alguma coisa exterior a si mesmo; aquilo que se identifica com o seu corpo, ou com quem quer que seja, adormece. A negação é um ato simples, imediato e procriador, por assim dizer, macho. O que é negado, tomado em geral e a priori, pode ser considerado (…)
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René Daumal – Contra-Céu III
1º de julho, por Murilo Cardoso de Castro(RDCC)
Recue mais ainda para trás de você mesmo e ria: O Não é pronunciado sobre seu riso. O Riso é pronunciado sobre seu NÃO. Negue seu Nome, ria do seu NÃO.
Poderia repetir-lhe isso todo o dia, por anos seguidos, e é muito provável que, mesmo e principalmente se você me diz compreender, não fará a experiência. Aproveite então a oportunidade, no exato instante em que me lê — pois, sim, é a você que me lê nesse exato instante que me dirijo, a você em particular, e pergunte-se seriamente: (…) -
René Daumal – Contra-Céu II
1º de julho, por Murilo Cardoso de Castro(RDCC)
NÃO é meu nome NÃO NÃO o nome NÃO NÃO o NÃO.
O espírito individual atinge o absoluto de si mesmo por negações sucessivas; sou o que pensa, não o que é pensado; o sujeito puro é concebido como limite de uma negação perpétua.
A própria ideia de negação é pensada; ela não é ’eu’. Uma negação que se nega se afirma ela mesma no mesmo momento; negação não é simples privação, mas ATO positivo.
Essa negação representa a ’teologia negativa’ em sua aplicação prática à ascese individual. -
René Daumal – O Contra-Céu
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroÉ preciso que alguém venha e diga: essas coisas são assim. Contanto que isso seja mostrado, que importa quem o diga: eu fiz a luz. Pois a luz não é de ninguém. Se há alguma verdade nessas Clavículas, não ousarei mais assinar meu nome a não ser a proposição: (315 789 601 + 2 210 033 = 317 999 634) pois sou, no entanto, muito provavelmente, o primeiro a ter formulado de forma explícita. Quando a palavra ’eu intervém no poema acima, é como a enunciação de um ser metafísico, ou melhor, de um (…)
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René Daumal (1908-1944)
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroEmbora pouco conhecido, foi um dos companheiros de André Breton, e um dos fundadores do movimento poético denominado "Le Grand Jeu", na França. Tornou-se nos anos 1930 um seguidor de Gurdjieff. Daumal nos legou uma obra literária de respeito pela profundidade de sua percepção, sensibilidade e estilo.
—Acredito recordar que Daumal via no sânscrito a ocasião para um trabalho filosófico, como se a gramática do sânscrito predispusesse a uma certa metafísica, como se levasse ao conhecimento de (…) -
René Daumal – Sabor - Ressonância
1º de julho, por Murilo Cardoso de CastroSabor. Um estado — como o amor etc. — manifestado pela representação de suas causas ocasionais, de seus efeitos perceptíveis e de suas aparências transitórias, e que constitui o modo de ser fundamental de uma obra poética, assume a qualidade de Sabor na apreensão dos seres conscientes.
Surgindo com o Princípio Essencial, sem partes, brilhando com sua própria evidência, feito de Alegria e Pensamento unidos, puro de todo contato com outra percepção, irmã gêmea da gustação do Sagrado, vivendo (…)