Berdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski surge em outra época do mundo, em outro estágio da humanidade. Nele também o homem deixou de pertencer a essa ordem cósmica objetiva à qual pertencia o homem de Dante. Durante o período moderno, o homem tentou se fixar na superfície da terra, se encerrar em um universo puramente humano. Deus e o diabo, o céu e o inferno haviam sido definitivamente repelidos para a esfera do incognoscível, sem comunicação com o aqui-embaixo, até (…)
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Dostoiévski
Dostoevsky, Fyodor (1821-1881)
Matérias
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Dostoiévski e sua época (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de Castro -
Tema central de Dostoiévski: o ser humano (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
A preocupação exclusiva de Dostoiévski, o único tema ao qual dedicou sua força criativa, é o homem e seu destino. Ele foi antropologista e antropocentrista a um grau indescritível. O problema do homem o absorveu até a frenesi, o devorou. A seus olhos, o homem não é um simples fenômeno natural, um fenômeno da mesma ordem que todos os outros, ainda que mais elevado: para ele, o homem é um microcosmo, o centro do ser, um sol ao redor do qual (…) -
Dostoiévski – "O Adolescente" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Os romances de Dostoiévski são todos construídos em torno de uma figura central, seja porque os personagens secundários convergem para ela, ou porque, ao contrário, ela irradia em direção aos personagens secundários. Essa figura essencial sempre representa um enigma que todos se esforçam para desvendar. Aqui está, por exemplo, "O Adolescente", uma das obras mais notáveis e menos apreciadas de Dostoiévski. O livro inteiro gravita em torno (…) -
Dostoiévski – "Os Demônios" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
A mesma construção centralizadora é característica de "Os Demônios"; Stavroguin é um astro em torno do qual toda a ação gravita. Tudo tende para ele, como para um sol, tudo sai dele e retorna a ele. Chatov, Verhovenski, Kirilov, são tantos fragmentos da personalidade desagregada de Stavroguin, emanações dessa personalidade extraordinária, que se esgota ao se dispersar. O enigma de Stavroguin, o segredo de Stavroguin, tal é o tema de "Os (…) -
Dostoiévski – "O Idiota" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
A concepção do Idiota opõe-se à do Adolescente e dos Demônios. Em O Idiota, a ação não se dirige para a figura central, o príncipe Míchkin, mas, ao contrário, parte dele em direção aos outros personagens. É Míchkin quem resolve o enigma de todos, especialmente o das duas mulheres, Aglaia e Nastácia Filíppovna. Ele as auxilia, repleto de pressentimentos proféticos e de clarividência intuitiva. As relações humanas são a única questão à qual (…) -
Dostoiévski – "Crime e Castigo" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Crime e Castigo foi concebido de forma diferente. O destino humano não se resolve ali na coletividade, na atmosfera ardente das relações humanas: é frente a frente consigo mesmo que Raskolnikov descobre os limites da natureza humana, é sobre sua própria natureza que ele faz suas experiências. O "tenebroso" Raskolnikov ainda não é um "enigmático" como Stavroguin ou Ivan. Ele representa um estágio menos avançado na estrada do arbítrio (…) -
Dostoiévski, uma nova ciência do homem (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski é, antes de tudo, um grande antropologista, um experimentador da natureza humana. Ele descobre uma nova ciência do homem e aplica a ela um método de investigação até então desconhecido. A ciência artística – ou, se preferirmos, a arte científica de Dostoiévski – estuda a natureza humana em seus abismos sem fundo, em sua extensão sem [51] limites, expondo suas camadas mais profundas e mais ocultas. Trata-se de uma experiência (…) -
Problema do assassinato em Dostoiévski (Abellio)
19 de abril, por Murilo Cardoso de CastroAbellioANG
Quando se fala do problema do assassinato em Dostoiévski, é preciso sempre se referir aos diálogos de Aliocha e Ivan Karamázov, onde esses limites da moral são manifestos, mas onde o conhecimento, por sua parte, não aparece. À pureza bíblica de Aliocha, sabe-se que Ivan Karamázov opõe perguntas sem piedade. Para tornar o conjunto dos homens definitivamente felizes, Aliocha aceitaria, se lhe oferecessem essa troca, ver torturar uma criança? Uma só criança contra toda a (…) -
"O Adolescente" de Dostoiévski (Abellio)
19 de abril, por Murilo Cardoso de CastroAbellioANG
Dos cinco grandes romances de Dostoiévski, este é o menos conhecido, aquele cujas riquezas são as mais secretas. Entre as duas construções gigantescas de Os Demônios e Os Irmãos Karamazov, e à sua sombra, O Adolescente é como um vasto parque cheio de arbustos e matagais, atravessado por caminhos sinuosos que não levam a lugar algum. Através da folhagem densa, adivinha-se, por toda parte, a presença erguida para o céu dos dois edifícios prodigiosos, e O Adolescente é esmagado por (…) -
Dostoiévski, derrota do humanismo (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Em que consiste sua descoberta? Ele não se contenta em redescobrir a antiga e eterna verdade cristã sobre o homem, caída e esquecida no tempo do humanismo. A tentativa de um período humanista da história, a experiência da liberdade humana, não foram em vão. Não marcaram no destino humano uma pura deficiência. Uma alma nova nasceu dessa experiência, com novas dúvidas, um novo conhecimento do mal, mas também com novos horizontes, novas (…)