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Swedenborg (Valéry)

terça-feira 15 de abril de 2025

O bel nome Swedenborg soa estranho aos ouvidos de um francês. Desperta em mim um emaranhado de ideias confusas em torno da imagem fantástica de um personagem singular, mais literário do que histórico. Confesso que até poucos dias atrás, eu só sabia dele o que restava de leituras já muito distantes.

Séraphitus-Séraphita de Balzac Balzac Honoré de Balzac (1799-1850) e um capítulo de Gérard de Nerval foram outrora minhas únicas fontes, das quais, no entanto, não me nutria há cerca de trinta anos...

Essa memória que se esvaía tinha, todavia, para mim, um certo fascínio. O simples ressoar das sílabas desse nome mágico, quando o ouvia por acaso, me fazia pensar em conhecimentos inacreditáveis, nos atrativos de uma ciência quimérica, na maravilha de uma grande influência misteriosamente proveniente de fantasias. Por fim, eu gostava de situar a figura incerta do Iluminado no século que eu havia escolhido para viver.

Imagino que aquela época tenha sido uma das mais brilhantes e completas que os homens puderam conhecer. Nela se encontra o esplêndido fim de um mundo e os mais poderosos esforços de outro que quer nascer, uma arte entre as mais refinadas, formas e olhares ainda muito comedidos, todas as forças e todas as graças do espírito. Há magia e cálculo diferencial; tantos ateus quanto místicos; os mais cínicos dos cínicos e os mais excêntricos dos sonhadores. Os excessos da inteligência não faltam, compensados — e às vezes nas mesmas cabeças — por uma credulidade surpreendente. Todos os temas da ilimitada curiosidade intelectual, que o Renascimento havia retomado dos Antigos ou extraído de seu belo delírio, reaparecem no século XVIII, mais vivos, mais aguçados, mais precisos. O in-fólio é produzido em formatos menores.

A Europa então admite a coexistência de doutrinas, ideais, sistemas totalmente opostos. Encontra-se aqui a característica de uma civilização do tipo "moderno". Roma e Alexandria já haviam conhecido esse acúmulo de tendências e teses contraditórias, manifestadas e debatidas publicamente. Nelas fermentavam a diversidade de cultos e filosofias: nesse ambiente de alta temperatura intelectual, ninguém podia ignorar que existe mais de uma resposta para cada questão especulativa. Daí resultam relações e intercâmbios, combinações de ideias e contrastes surpreendentes que, ocorrendo com frequência num mesmo indivíduo, encarnam nele a desordem e a riqueza de uma época.

No século XVIII, enquanto os D’Alembert, Clairaut, Euler constroem um mundo mecânico rigorosamente puro, valendo-se dos recursos inteiramente novos da análise matemática; enquanto outros buscam a biologia, vislumbrando diversas filosofias da natureza viva e tentando derivar suas origens do que julgam saber sobre a matéria; enquanto o grande Lineu empreende a imensa obra de classificação de todos os seres organizados, há os que desenvolvem diversas metafísicas, seguindo ainda as antigas, ou prolongam Gassendi, Descartes, Spinoza, Leibniz ou Malebranche. Na ordem teológica, jansenistas, quietistas, pietistas e muitos outros partidos disputam a posse da verdade e o império das almas. Há também muitas mentes fortes.

No entanto, se o livre exame, tornado quase lícito por toda parte, se o progresso das ciências exatas e de seus espantosos sucessos e se a descoberta de toda a face da terra criaram uma espécie de apetite enciclopédico, uma sede de conhecer, um espírito que nada recusa, essa mesma avidez de saber e de poder não desdenha explorar também a penumbra intelectual, e até as trevas suspeitas onde, desde os tempos mais antigos, a imaginação de muitos homens situa tesouros de poder e conhecimento e supõe segredos de importância sobrenatural.

Coexistiam portanto em mais de uma inteligência curiosidades e esperanças cujo encontro surpreende. O racional e o irracional ali se combinam de modo bizarro. Homens como Leibniz ou Bayle podem nos parecer demasiado ricos de inquietações demasiado diversas; e mesmo em Newton a associação da interpretação do Apocalipse (como hipótese sobre a astronomia dos Argonautas) com a invenção do cálculo das fluxões e da teoria da atração universal nos desconcerta. Mas seu século abunda em pesquisas por todos os caminhos, e a paixão pelo rigor, o culto da observação e da experiência nunca os libertam das tentações e seduções oferecidas pelas doutrinas e práticas misteriosamente transmitidas.

(Observo, de passagem, que a ciência mais prudente e positiva exige, daqueles que a ela se dedicam com o ardor que conduz às descobertas, certa sede de maravilhas: o prodigioso, o inesperado obtidos como resultados de uma dedução rigorosa ou de uma conduta experimental impecável proporcionam ao espírito uma das maiores alegrias que ele possa conhecer).

Em suma, no século XVIII vê-se difundirem, e até vulgarizarem-se, todas as variedades normais ou degenerativas geradas pelo desejo de saber mais do que se pode. Os adeptos se multiplicam, o iniciado transborda; o charlatão abunda. O papel social e político do oculto torna-se imenso.

Nunca como então a credulidade e o ceticismo foram associados e de certo modo indistintamente repartidos no gênero humano. A Simbólica, que decifra o universo como um texto hieroglífico; a Hermenêutica, que das Escrituras dá uma interpretação mais profunda que a literal; a Teosofia, que espera e recebe comunicação de uma luz imediata; e ainda mais ousadas, mais inquietantes em suas ambições e processos operativos, a Magia, a Alquimia, a Adivinhação pelos astros, pelos sonhos, pela evocação coexistem com a cultura clássica mais límpida e com a disciplina das ciências exatas em mais de uma inteligência.

Esse é o âmbito mental, o teatro intelectual que se acendia em mim ao nome de Swedenborg. Essas três sílabas eram para mim apenas uma espécie de chamado musical, de fórmula hipnótica às quais obedecia uma imagem fantástica da vida espiritual secreta na época de Luís XV. Não pensava que um dia teria de ir um pouco mais longe, e considerar com interesse inteiramente novo e como personagem pessoal aquele que por muito tempo me aparecera apenas entre as sombras de uma sociedade voluptuosamente curiosa de arcanos.