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Hermes - Recherches sur l’expérience spirituelle

René Daumal – yoga ou sufismo?

La voie de René Daumal du Grand Jeu ao Mont Analogue

sexta-feira 28 de novembro de 2008

Tu me pedes uma longa carta sobre os «ensinamentos» da Sra. de Salzmann. Tu não a terás. É impossível. Não se trata de um «ensinamento» didático que se possa colocar em cartas. De outra forma, para que ter vindo aqui? (Évian). Temos livros bons o suficiente em qualquer biblioteca. Mas justamente ela nos dá o que nenhuma coisa escrita (livro nem carta) pode dar. Quando ela diz algo para a inteligência, é sempre depois de ter estabelecido as condições que nos permitem compreendê-lo também com o corpo e o coração. E como para cada indivíduo existe um problema particular a resolver, um desequilíbrio particular a corrigir, nenhuma literatura nem afirmação geral pode transmitir esse ensinamento a outro. Se tu viesses aqui, e participasses, mesmo que por uma hora, desses exercícios, tu verias de que perguntas simples e devoradoras se trata. Caso contrário, é literatura. Que engraçado, aqueles que falam de esoterismo. Não há segredos, não há mistérios que se deveria esconder; ao contrário, gostaríamos de gritar para o mundo cada pequena coisa que se descobre a cada dia: mas não se pode. Não se pode, porque o «mundo» não tem ouvidos para escutar; ele não está preparado. Essas coisas são caladas, porque não há ouvinte para as tomar. E, como dizem várias lendas do Hassidismo, as palavras que não encontram ouvinte para as tomar - o dom que não é recebido - o som do qual ninguém pode se nutrir - voltam, ricocheteiam para aquele que as emite e podem matá-lo.

Estou tentando escrever artigos sobre os «cursos» da Sra. de S. - simplesmente para propaganda, para trazer alunos. Eu não gostaria de te ofender apresentando essa publicidade como uma resposta ao teu pedido, mas eu tentarei te enviar as cópias ou rascunhos à medida que os fizer. Anexo um que eu envio a Gleizes para sua revista vegetariana (mas sim: se isso puder apenas trazer um aluno, terá valido a pena mergulhar os dedos nessa sopa) ; tu verás, é cheio de prudência, fica rodeando a questão, a Grande Questão é mal tocada, mas há 2 ou 3 pequenas indicações discretas, se procurarmos bem. ... pelo menos não se pode dizer que é yoga, ou sufismo, ou espiritismo ou ginástica rítmica, ou psicanálise, ou nada de catalogado.

Sobre esses exercícios mesmos, é difícil dizer algo, a não ser que eles colocam em jogo todo o ser humano; mas se tu os visses, tu poderias ver apenas pessoas sentadas no chão imóveis e como que petrificadas no embrutecimento, completamente (ou tentando ser completamente) descontraídas, mas com o tronco ereto, a coluna vertebral em equilíbrio como uma pilha de ossos, - mas é preciso estar na pele de um deles para saber que é nesse momento que ele está mais desperto, ativo e presente, e que florestas virgens, que terreiros, que tempestades sussurram e mugem nele; ou ainda que começam a dançar como possuídos, seja inventando (descobrindo nele) um ritmo orgânico seja sobre um ritmo dado ; ou ainda... mas para que serve? tudo isso não seria mais que literatura.

Não esperes que tu terás jamais um «ensinamento», uma revelação ou qualquer coisa de real sem um esforço real. Outros partem para o Tibete em busca de um aleatório «guru» (e às vezes porque isso os eleva aos seus próprios olhos) ; mas se se trata de fazer apenas a viagem Paris-Évian ou Paris-Genebra, então achamos que é impossível ou que falta heroísmo. Que estranhos animais nós somos.


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