Litteratura

Página inicial > Artes Cênicas > Paul Arnold – Sonho de uma noite de verão (nota 2)

Paul Arnold – Sonho de uma noite de verão (nota 2)

sexta-feira 4 de julho de 2025

Isso seria suficiente para refutar a hipótese de que Sonho de uma Noite de Verão foi uma máquina de guerra contra Jaime VI da Escócia, contra o rei católico autor da Daemonologie, o implacável juiz do Dr. Fian e seu sabá de bruxas, cujas "confissões" forneceriam mais de um detalhe ao poeta de Macbeth. Atribuindo, de fato, ao autor de Sonho de uma Noite de Verão intuitos políticos, seja em favor do Conde de Hertford (Edith Richert, Political propaganda and satire in A Midsummer Night’s Dream, em Modern Philology, vol. XXXI, 1º de abril e 1º de novembro de 1923, Chicago), seja em favor do Conde de Derby (Lefranc, t. I, 508-518), pretende-se ver golpes contra o futuro Jaime I, o que é ainda menos crível, já que a peça foi encenada diante dele em 1604. Os argumentos apresentados são, aliás, os menos convincentes possíveis.

Bottom seria uma paródia do rei da Escócia (veremos mais adiante de que realeza Shakespeare Shakespeare William Shakespeare (?-1616) realmente pretende zombar aqui). Sua canção sobre o cuco (III, Sc. 1, 131-133) aludiria ao ciúme do monarca. Algumas características seriam dirigidas contra os escoceses, o que é possível, sem visar, contudo, o rei. Ao coroar Bottom, Titânia parodiaria a paixão do rei Jaime pela coroa da Inglaterra. Tudo isso não merece atenção. Quanto ao único argumento geralmente adotado e mesmo antes do artigo de Edith Rickert, a saber, o medo que o "leão" inspiraria nas damas da corte ateniense, alusão, pensa-se, ao leão que deveria puxar a carruagem triunfal no batismo do príncipe Henrique, filho de Jaime, em 30 de agosto de 1594, e que foi substituído por um mouro para não assustar as damas, o episódio do poema, se for realmente uma crítica, zomba dos cortesãos e não do rei da Escócia.


Ver online : ARNOLD, Paul. Ésotérisme de Shakespeare. Paris : Mercure de France, 1955