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Paul Arnold – Sonho de uma noite de verão (nota 1)
sexta-feira 4 de julho de 2025
Edmund Chambers The Occasion of a Midsummer Night’s Dream, in A Book of Homage to Shakespeare Shakespeare William Shakespeare (?-1616) (Oxford 1916).
Apossando-se dessa conjectura que, de hipótese se torna para ele certeza, Abel Lefranc deduz uma série de identificações: Egeu seria Lord Burghley avô e tutor de Elisabeth de Vere, hostil ao seu casamento com William Stanley antes que tivesse se tornado VI Conde de Derby, oposição (tema literário onipresente) que a intriga da féerie shakespeariana refletiria; Demétrio-Southampton que aqui faz o papel do vilão e a quem, contudo, o autor dedicou alguns meses antes em termos hiperbólicos e afetuosos o Rapto de Lucrécia (“A afeição que devoto a Vossa Senhoria é infinita...”); Lisandro-William Stanley; Hérmia-Elisabeth de Vere, de quem Helena nos informa, porém, ser facilmente irascível e má, uma “megera” (shrewd, III, Sc. 2, 321), que na escola já havia sido “uma raposa má” (ibid., 322), verdade que certamente não é boa de dizer diante de uma noiva na mesma noite de suas núpcias! É na realidade Helena que é o ser puro, a jovem perfeita (right maid, ibid., 302), sem a menor “vocação de megera” (no gift at all in shrewishness, ibid., 301); mas Helena ama o pouco recomendável Demétrio, um “homem manchado e inconstante” (spotted and inconstant, I, Sc. 1, 110) que, naturalmente, não poderia simbolizar o esposo-autor. Não é mais crível que se pudesse ter representado diante da rainha seu ministro Burghley sob os traços ridículos de Egeu, outro Polônio, nem atribuir ao autor uma “vingança” tão mesquinha. Quanto a Titânia e Oberon, que não seriam outros senão Lord e Lady Oxford, veremos o que se deve pensar da natureza feérica desses personagens.
Ver online : ARNOLD, Paul. Ésotérisme de Shakespeare. Paris : Mercure de France, 1955