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Lacou-Labarthe (Scène) – mimesis

segunda-feira 30 de junho de 2025

A tradução (do conceito) de mimesis. É uma questão que me inquieta há muito tempo. Desde, na realidade, que descobri graças ao livro de Kohler que foi Schlegel quem propôs traduzir mimesis por Darstellung para arrancar a palavra do contexto de sua interpretação latina (imitatio, Nachahmung). Percebe-se todo o interesse da operação e adivinha-se, em todo caso, o que Schlegel buscava suscitar: o valor negativo ou pejorativo que se liga ao nach – ou ao “re” francês, na medida em que indica ou significa duplicação e posterioridade (como em “reprodução”, por exemplo). O que, observo de passagem, não é o caso da nossa “representação”, em que o “re” conserva normalmente, mesmo que ninguém mais se lembre ou note, seu antigo valor ativo: “re-apresentar” não é “apresentar uma segunda vez”, é “tornar presente”. É por isso, aliás, que não se erra ao traduzir Darstellung por “apresentação”. Direi de pronto: mimar – um vocábulo vindo diretamente da suposta onomatopeia grega – não é copiar (refazer). É fazer – fazer com que algo esteja presente. Mas o quê? Aí está todo o problema, e a origem da minha resistência. Que enuncio, já que é o caso: não vejo por que teríamos entrado “numa época da imprestação generalizada”, nem por que, ao mesmo tempo, a desconfiança que é nossa em relação a certa cena ou a certo tipo de figuralidade se legitimaria apenas por uma mística confusa do impresentável, ela mesma referida a um platonismo (ou a um antiplatonismo) tardio ou pensada como uma traição a Aristóteles.


Ver online : LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. Scène suivi de Dialogue sur le dialogue. Paris: C. Bourgois, 2013