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Nancy (Scène) – mimesis
segunda-feira 30 de junho de 2025
Procurarei, para me juntar a esse propósito ao responder, formular as coisas assim: uma necessidade histórica (que não procuro aqui nem qualificar nem explicar) nos fez entrar em uma época da impresentação generalizada. Do "ser", ou da "coisa mesma", ou do "sentido", ou ainda da "verdade" – pouco importa, a esse respeito, distinguir esses termos – não há apresentação possível, ou não há apresentação sustentável sem riscos consideráveis: captação identificatória, engodo espetacular, ilusão representativa, atoleiro imaginário. Nada, com isso, nos tornou mais estranho do que a tranquila afirmação de Aristóteles, quase inaugural da Poética, segundo a qual "os homens têm, inscritas em sua natureza, ao mesmo tempo uma tendência a representar [...] e uma tendência a encontrar prazer nas representações" (48 h 5-10). Ou ao menos, essa afirmação não poderia ir para nós sem vir acompanhada da suspeita de que essas "tendências" são perigosas, senão insalubres. Veríamos nelas, em suma, algo como o Trieb kantiano da razão, essa pulsão incorrigível, mas eminentemente criticável, a querer se dar o incondicionado como objeto (isto é, a representá-lo).
(Lá atrás, além disso, uma longa e complexa tradição da proibição da representação, da iconoclastia ou da misiconia, com a qual será preciso um dia se explicar.)
A estranheza, para nós, da afirmação de Aristóteles, não vem sem sérias dificuldades: toda mimèsis nos é suspeita, seja por razão de indigência (se se trata de mimeistha; digamos, alguma transcendência), seja por razão de superfluidade (fica-se no acessório, como diz do "espetáculo" – e usando uma palavra do velho léxico teatral, uma palavra – o alemão Requisit ao qual Benjamin reserva um tratamento no Trauerspiel: lembro isso não sem malícia, já que remete a Benjamin, e eu gostaria então de saber qual é o desafio do Trauerspiel, o conceito e não o livro, se precisamente ele comporta uma ligação essencial com o "espetacular". Mas vou rápido demais, tudo se atropela – é verdade que estamos com o tempo apertado para entregar esse texto: que seja, vamos entrar no jogo, a cena da improvisação). Com isso, tudo se passa, nessa tardia tradição platônica – e precisamente não aristotélica –, como se ficássemos diante de um inapresentável puro, por conseguinte privado de "face", nos privando a nós mesmos de "face a face", desalojando o espectador com o espetáculo. Ao se livrar do "sujeito da representação", só se teria ganho a pura e simples rejeição de toda apresentação: em um sentido extremo, acabado, o próprio "niilismo".
Ver online : LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. Scène suivi de Dialogue sur le dialogue. Paris: C. Bourgois, 2013