Swedenborg me parece hoje o exemplo e o sujeito de uma das mais notáveis e completas transformações interiores, realizada em muitas etapas, no curso de cerca de sessenta anos. Essa transformação de uma vida psíquica, observada e rastreada através da sequência cronológica dos escritos, é a de um homem de vasta cultura, primeiramente definível como sábio e filósofo, semelhante aos conhecidos sábios e filósofos de seu tempo, que imperceptivelmente se transforma em místico, por volta dos (…)
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Mitos, Lendas, Fábulas
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Swedenborg me parece sujeito de transformações interiores (Valéry)
15 de abril, por Murilo Cardoso de Castro -
Swedenborg (Valéry)
15 de abril, por Murilo Cardoso de CastroO bel nome Swedenborg soa estranho aos ouvidos de um francês. Desperta em mim um emaranhado de ideias confusas em torno da imagem fantástica de um personagem singular, mais literário do que histórico. Confesso que até poucos dias atrás, eu só sabia dele o que restava de leituras já muito distantes.
Séraphitus-Séraphita de Balzac e um capítulo de Gérard de Nerval foram outrora minhas únicas fontes, das quais, no entanto, não me nutria há cerca de trinta anos...
Essa memória que se esvaía (…) -
Mario Dal Pra: Renascimento e Astrologia
3 de janeiro, por Murilo Cardoso de CastroMuito relevante é o posicionamento da cultura do Renascimento relativamente a este contraste de fundo entre a astrologia e o espírito religioso cristão. De facto, embora acolhendo da tradição religiosa cristã a reivindicação da liberdade humana e mantendo, consequentemente, que a consideração das acções humanas na sua relação com a estrutura universal das causas e, especialmente, com o influxo dos corpos celestes não deveria ser julgada determinante, aquela cultura não pôde, por outro lado, (…)
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Umberto Eco – Talismã
5 de setembro de 2024, por Murilo Cardoso de CastroUMBERTO ECO — TALISMÃ E PRECE (ABEM) O medieval só conhecia um modo para modificar a ordem das coisas naturais: o milagre. A arte ajudava a natureza a aperfeiçoar o próprio curso, mas não podia nem modificar nem desviar suas finalidades. Diferente é o objetivo da magia astral do Renascimento, e disso temos um exemplo — com claras implicações estéticas — nas práticas talismânicas de Marsilio Ficino.
Yates (1964) supõe que tais práticas tenham sido sugeridas a Ficino por um texto mágico (…) -
Paraíso Ibn Arabi Dante III
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroMiguel Asín Palacios — Escatologia Muçulmana na Divina Comédia
IDEIAS CARDEAIS SOBRE O PARAÍSO — IBN ARABI E DANTE (cont.)
8. La identidad resultante de este cotejo que acabamos de hacer entre las cinco tesis fundamentales del murciano Ibn Arabi sobre la visión beatífica y sus paralelas dantescas es, por sí sola, de una fuerza tal para la sugestión, que excusa de todo comentario ponderativo. A su lado resultan ya vagas e imprecisas las demás semejanzas, que pudieran todavía señalarse, en (…) -
Calasso (NCH) – Odisseu (1)
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroA longa cadeia das histórias antes da história, em que a Ilíada e a Odisseia formavam algumas malhas, abria-se com a cópula de Urano e Geia, fechava-se com a morte de Odisseu. O círculo abria-se com a mistura do céu e da terra, encerrava-se com uma briga mesquinha, um incidente mortal, com o jovem Telégono que, em terra estrangeira, sem saber matava o pai, e velho Odisseu, com o aguilhão de uma raça. Após Odisseu, começa a vida sem heróis, quando as histórias não acontecem exemplarmente, mas (…)
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Joseph Campbell – The Work of the Brothers Grimm
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroFOLKLORISTIC COMMENTARY
FRAU KATHERINA VIEHMANN (1755–1815) was about fifty-five when the young Grimm brothers discovered her. She had married in 1777 a tailor of Niederzwehren, a village near Kassel, and was now a mother and a grandmother. “This woman,” Wilhelm Grimm wrote in the preface to the first edition of the second volume (1815), “… has a strong and pleasant face and a clear, sharp look in her eyes; in her youth she must have been beautiful. She retains fast in mind these old (…) -
Calasso (NCH) – Odisseu (3)
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroSó entre os chefes aqueus Odisseu mantém os olhos baixos. Não por medo. Ao abaixar os olhos, Odisseu concentra a mente, isolando-a do resto, como seus companheiros não estão habituados a fazer, urde uma trama, dá forma a uma mechane. E o oposto do homem continuamente oprimido entre forças, entre máquinas, entre as mechanai da natureza e dos deuses. Àquele invisível novelo Odisseu agrega novas mechanai, mas desta vez elaboradas por ele. Agora conhece o segredo, não deve apenas suportar (…)
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John A. Mehung: Natureza
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroReconheço e confesso que a senhora (Mãe Natureza) é a Mãe e Imperatriz do grande mundo, criada para o pequeno mundo da mente do homem. Você move os corpos acima e transmuta os elementos abaixo. A pedido de seu Senhor, você realiza tanto coisas pequenas quanto grandes e renova, por meio de incessante decadência e geração, a face da terra e dos céus.... Tudo o que existe e é dotado de existência flui de você em virtude do poder que Deus lhe concedeu. Toda a matéria é governada por ti, e os (…)
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Calasso (NCH) – Odisseu (2)
23 de julho de 2024, por Murilo Cardoso de CastroFaz parte da essência de Odisseu ser o último dos heróis, o que encerra o ciclo. Enquanto conclusão, ele é adjacente à vida que se seguirá, sem nunca mais fechar-se, num ciclo. Seu pé toca a linha limítrofe. Não a Ilíada, massa imensa abandonada na planura, mas a sinuosa Odisseia nos transmite como herança o multiforme romance: “trabalho de um indivíduo, não de um povo”, como Telêmaco define a procura do pai. Porém, último herói a retornar, Odisseu é também aquele que prolonga ao extremo o (…)