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Matias Aires – Reflexões sobre a vaidade (1)
segunda-feira 7 de julho de 2025
[1] Sendo o termo da vida limitado, não tem limite a nossa vaidade; porque dura mais do que nós mesmos e se introduz nos aparatos últimos da morte. Que maior prova, do que a fábrica de um elevado mausoléu? No silêncio de uma urna depositam os homens as suas memórias, para com a fé dos mármores fazerem seus nomes imortais; querem que a suntuosidade do túmulo sirva de inspirar veneração, como se fossem relíquias as suas cinzas, e que corra por conta dos j aspes a continuação do respeito. Que frívolo cuidado! Esse triste resto daquilo que foi homem, já parece um ídolo colocado em um breve, mas soberbo domicílio, que a vaidade edificou para habitação de uma cinza fria, e desta declara a inscrição o nome e a grandeza. A vaidade até se estende a enriquecer de adornos o mesmo pobre horror da sepultura.
MATIAS AIRES Matias Aires Matias Aires da Silva de Eça (1705-1763) . Reflexões sobre a Vaidade dos Homens. São Paulo: Martins Fontes, 1996.