Fiódor Dostoiévski. OS IRMÃOS KARAMAZOV. Tr. A. Augusto dos Santos. Mimética, 2019
— Que entende por isolamento?
— O que predomina por todo o lado, sobretudo nos nossos dias, e que não adquiriu todo o seu desenvolvimento e está ainda muito longe dos seus limites. Cada um tende a levar a sua individualidade a maior distância e deseja reter egoisticamente a vida em toda a sua abundância e plenitude. Mas todos esses esforços não conduzem à vida, mas ao suicídio, e em vez de conseguir o que (…)
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Ditados
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Dostoiévski – Isolamento
30 de março, por Murilo Cardoso de Castro -
Dostoiévski – Presença da harmonia eterna
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroFiódor Dostoiévski. OS POSSESSOS. Tr. A. Augusto dos Santos. Centaur Editions, 2014
— Há momentos na vida, mas apenas de cinco ou seis segundos, em que se sente de repente a presença da harmonia eterna. Este fenómeno não é terrestre, nem celeste, mas é qualquer coisa que o homem, sob o seu invólucro material, não pode suportar. É preciso transformar-se fisicamente ou morrer. É um sentimento claro e indiscutível, Parece-lhe que fica de súbito em contacto com toda a natureza e dirá: «Sim, (…) -
Herman Melville
28 de março, por Murilo Cardoso de CastroZolla2024
Entre os grandes, Herman Melville me mantém inexoravelmente cativado. De repente compreendi, através de uma iluminação repentina, que tinha vinte anos. Desde então, reli-o quase completamente a cada dois ou três anos e sempre me deparo com um texto inesperado, com referências a autores sempre novos. Que emoção quando descobri um dos mais próximos, Benjamin Disraeli!
Acontece que onde me lembro de um sorriso, vejo um sorriso flutuante, onde uma condenação inflexível estava (…) -
Lispector – Domínio de agora
28 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Lispector1973)
Tudo acaba mas o que te escrevo continua. O que é bom, muito bom. O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas.
Aquilo que ainda vai ser depois – é agora. Agora é o domínio de agora. E enquanto dura a improvisação eu nasço. [...]
Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar.
O que te escrevo é um “isto”. Não vai parar: continua. -
Lispector – Sensação atrás do pensamento
28 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Lispector1973)
Eis que de repente vejo que não sei nada. O gume de minha faca está ficando cego? Parece-me que o mais provável é que não entendo porque o que vejo agora é difícil: estou entrando sorrateiramente em contato com uma realidade nova para mim e que ainda não tem pensamentos correspondentes, e muito menos ainda alguma palavra que a signifique. É mais uma sensação atrás do pensamento. -
Lispector – Vibração íntima
28 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Lispector1973)
Tenho que interromper para dizer que “X” é o que existe dentro de mim. “X” – eu me banho nesse isto. É impronunciável. Tudo que não sei está em “X”. A morte? a morte é “X”. Mas muita vida também pois a vida é impronunciável. “X” que estremece em mim e tenho medo de seu diapasão: vibra como uma corda de violoncelo, corda tensa que quando é tangida emite eletricidade pura, sem melodia. O instante impronunciável. Uma sensibilidade outra é que se apercebe de “X” [...]. Há (…) -
Lispector – Silêncio
28 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Lispector1973)
Não são precisos muitos para se ter mina faiscante e sonambúlica: bastam dois, e um reflete o reflexo do que o outro refletiu, num tremor que se transmite em mensagem telegráfica intensa e muda, insistente, liquidez em que se pode mergulhar a mão fascinada e retirá-la escorrendo de reflexos dessa dura água que é o espelho. Como a bola de cristal dos videntes, ele me arrasta para o vazio que para o vidente é o seu campo de meditação, e em mim o campo de silêncios e (…) -
Lispector – Mistério do espelho
28 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Lispector1973)
Mas agora estou interessada pelo mistério do espelho. Procuro um meio de pintá-lo ou falar dele com a palavra. Mas o que é um espelho? Não existe a palavra espelho, só existem espelhos, pois um único é uma infinidade de espelhos. Em algum lugar do mundo deve haver uma mina de espelhos? Espelho não é coisa criada e sim nascida. -
Lispector – Força do que Existe
28 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Lispector1973)
Ah Força do que Existe, ajudai-me, vós que chamam de o Deus. Por que é que o horrível terrível me chama? que quero com o horror meu? porque meu demônio é assassino e não teme o castigo: mas o crime é mais importante que o castigo. Eu me vivifico toda no meu instinto feliz de destruição. -
Lispector – Meditação sobre o nada
28 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Lispector1973)
Eu costumava pingar limão em cima da ostra viva e via com horror e fascínio ela contorcer-se toda. E eu estava comendo o it vivo. O it vivo é o Deus. [...] Vou parar um pouco porque sei que o Deus é o mundo. É o que existe. Eu rezo para o que existe? Não é perigoso aproximar-se do que existe. A prece profunda é uma meditação sobre o nada.