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Mistério de Swedenborg (Valéry)
terça-feira 15 de abril de 2025
Falei de tudo isso para insistir na questão que creio essencial para o caso que nos ocupa: como é possível um Swedenborg? O que é preciso supor para considerar a coexistência das qualidades de um sábio engenheiro, de um funcionário eminente, de um homem simultaneamente tão prudente na prática e tão instruído sobre tantas coisas com as características de um iluminado que não hesita a redigir, publicar suas visões, fazer-se passar por um visitado pelos habitantes de outro mundo, por eles informado e vivendo parte de sua vida em sua misteriosa companhia?
Além disso: não basta falar de coexistência; é preciso também observar certa colaboração, cujo exemplo mais notável e espantoso é dado pelo tratado das representações e correspondências que encerra o livro dos Arcana Cœlestia.
É difícil para mim crer que essa obra não tenha sido meditada e composta mais por um autor sistemático e senhor de si que inspirado e perdido em sua contemplação. A preocupação com a ordem, a vontade e o cuidado de definir, a introdução muito criteriosa de noções novas são bem visíveis e exigiram um trabalho lógico notável, que curiosamente entra em contraste com o conteúdo das imaginações. Mas mais extraordinário ainda é a parte desse tratado onde Swedenborg desenvolve as correspondências dos órgãos e membros; aqui ele mostra conhecimentos anatômicos notavelmente precisos e detalhados e se expressa como um homem que refletiu profundamente sobre os problemas da fisiologia; conhecimentos e reflexões de que se serve para fazer corresponder a cada parte do organismo os significados mais estranhos, valorações ou criações "espirituais". Essa mistura de saber, método e sonho, de lucidez perfeita e certa e de relações imaginárias é tão difícil de admitir que às vezes seríamos tentados a suspeitar da boa-fé de nosso visionário, se, por um lado, o notável trabalho despendido, a duração e continuidade desse esforço - por outro lado, o desinteresse, a nobreza do caráter que nele se reconhecem, não tornassem pouco verossímil a hipótese de uma empresa de fraude, de uma longa mentira em grande Estilo.
Ele mesmo, Swedenborg, respondeu às perguntas ansiosas de sua fé em suas iluminações pessoais: Haec vera sunt quia signum habeo.
Esse Sinal era suficiente para dissipar toda resistência interior e conservar a íntima união do Swedenborg racionalista, físico, homem prático e sociável, com aquele familiar dos Espíritos e confidente dos Anjos. Essas relações sublimes e maravilhosas não interferiram em nada com sua vida ainda considerável, e ele as manteve como mantinha o intercâmbio ordinário de um "homem honesto" com seus contemporâneos, tão facilmente e habitualmente como costuma fazer uma pessoa que frequente diferentes "mundos" (como o dos negócios e o dos prazeres) no sustentar e entreter os diferentes cumprimentos.
A natureza desse Sinal não nos é explicada. Suposto que a resposta de Swedenborg não tenha sido uma simples derrota, pode-se atribuir seu silêncio ao temor de ver contestado esse fundamento de sua vida íntima, ou ao que não faz diminuir a virtude desse sinal com seu segredo. No entanto, ele também o teria forçado à mesma dificuldade de descrevê-lo. É bastante sabido que o que fixa nosso espírito numa certeza é indefinível. Não buscarei portanto imaginá-lo, mas mesmo assim arriscarei certa analogia como simples sugestão.
Penso então nessa espécie de força e consistência que afirma ou confirma em nós uma opinião ou resolução inteiramente conforme à necessidade de nossa sensibilidade. Se recebemos de uma fonte externa aquilo de que possuímos o intenso desejo, parece-nos que essa coisa que nos satisfaz tão exatamente seja como produzida por nosso próprio desejo. Sentimos que tal ideia proposta nos entusiasma como se o desejo de entusiasmar-se houvesse se formado por si mesmo; descobrimos que tal obra é para nós tão bem feita que é como se tivesse sido feita por nós; e o dizemos também de uma pessoa; e esse invencível e imediato sentimento para nós é um sinal indiscutível, dado que não podemos duvidar que o que nos agrada nos agrade, e que o que nos preenche deixe algum espaço à mínima hesitação.
Por qual "sinal" um artista sabe que está, naquele momento, em seu "Verdadeiro"? e percebe a necessidade e simultaneamente a volúpia (e ambas crescentes) de seu ato criador?
O Sinal de Swedenborg talvez não fosse outra coisa que a sensação de energia, de feliz plenitude, de bem-estar que ele sempre experimentava ao deixar-se produzir e organizar seu próprio mundo espiritual, e a certeza de sua alegria criativa podia indubitavelmente bastar para afastar indefinidamente suas dúvidas e afrouxar seu senso crítico.
No entanto, parece que o caso Swedenborg nos propõe alguns fatos supostos, que não são redutíveis nem à visão mística, nem à existência reconhecida de certo Sinal.
Essa metáfora substancial de um pensamento primeiramente inteiramente científico e metafísico-teológico, numa "segunda realidade" intuitiva e na doutrina transcendental, operou-se por graus, e esses graus foram marcados por alguns eventos "subjetivos" propriamente alucinatórios, cuja cena no hotel de Londres é certamente característica.
É preciso considerar como "exato" o relato que dele fez o próprio teosofo, e que necessariamente só ele poderia fazer? Veremos a importância da pergunta que estou colocando. A exatidão de que falo não é a que pode depender da boa-fé de Swedenborg. Aceitemos que esta última seja total. Mas o homem mais sincero do mundo, exprimindo o que viu, e singularmente, o que viu num campo onde só ele pôde ver, altera inevitavelmente essa condição de sinceridade apenas pelo uso da linguagem comum, que acrescenta à alteração não menos inevitável devida ao ato de memória direta aquela que resulta da repartição em palavras e das leis combinatórias ou formas da sintaxe. Na ordem das comunicações práticas, essas alterações são em geral negligenciáveis, e aliás retificadas pela experiência comum: o mundo sensível comum verifica o acordo de nossos sinais. Mas toda descrição de nossas percepções separadas destrói radicalmente o que dessas percepções seria mais precioso conhecer e decifrar.
Por essa razão estou muito longe de confiar nas supostas análises dos sonhos que hoje estão tão em moda, nas quais parece ter-se forjado uma nova Chave dos Sonhos.
O sonho é uma hipótese, na medida em que o conhecemos apenas pela lembrança, mas essa lembrança é necessariamente uma fabricação. Construímos, redesenhamos nossos sonhos; os exprimimos, lhes damos um sentido; o sonho torna-se narrável: história, cenas, distribuição de personagens e, nesse cenário de lembranças, o papel desempenhado pelo despertar, o reconhecimento, é-nos indiscernível daquilo que restitui, talvez, algo do original perdido para sempre. Mas além disso acontece também que contamos esse sonho: o ouvinte por sua vez traduz esse relato em seu sistema de imagens; se ele se vangloria de estudar os sonhos, raciocinará sobre o que imagina, que é a transmutação de uma transmutação.
A tradução de uma tradução pode certamente conservar algo, mas não o que não pode ser nomeado. O que não pode ser nomeado é precisamente o que nos interessaria captar, que nos daria alguma ideia do que pode ser a consciência sob o sono, a produção e substituição de quase-fenômenos, o perpétuo estado nascente de uma vida mental sem retorno, essencialmente instantânea. Mas especular sobre o relato de um sonho é operar sobre o resultado de uma ação da vigília através da qual o hipotético original perdeu a substância de sua natureza, e tornou-se um simulacro abstrato - como uma estátua não apresenta mais a íntima relação geradora que existiu entre a forma e a matéria viva do modelo. Resumindo: raciocinamos sobre o esquema de um evento totalmente anulado, e o interpretamos; mas um esquema é o resultado de diversos atos e esses atos são atos do estado de vigília: é preciso estar "acordado" para exprimir.
No entanto, suponhamos tentar, ao contrário, modificar voluntariamente nossas percepções e representações de homem acordado de modo a diminuir seu efeito significativo, a esgotar seu valor transitivo e convencional (como acontece com aquela palavra que é repetida até perder seu sentido), observaremos então algum traço de um estado do qual o estado de vigília seria o limite. Observamo-lo aliás bastante bem quando sentimos o espírito vencido pelo sono, sentimos que hesitamos, de certo modo, entre dois mundos, dos quais o mais forte se dissolve pouco a pouco no mais fraco... Então já se desenha o modo de transformação da consciência que vai reinar no universo do sonho e, admitindo (a título puramente hipotético) que esse universo se distinga do da vigília pelo tipo de desenvolvimento de toda impressão que nos atinge, teremos alguma ideia do que pode suceder sob a influência do sono, quando nossa sensibilidade remanescente é solicitada por alguns incidentes orgânicos ou por algumas ações externas insuficientes para trazer uma mudança total de nosso estado - um despertar.
A meu ver, características análogas devem reencontrar-se nas "visões". As modalidades de transformação das aparências devem assemelhar-se muito às de nossos sonhos. Isso é o que pensava verificar em algum caso, através do estudo minucioso de certos relatos de visionários escolhidos entre os mais ingênuos. De fato, é importante que o documento provenha de um sujeito o menos instruído e criativo possível, para que a produção das imagens seja a mais pura possível de intenções e de correções secundárias.
No caso de Swedenborg, as condições são todas contrárias e muito desfavoráveis a um exame do grau de exatidão do relato que nos faz em seus escritos. No entanto, certos detalhes da célebre visão de Londres me parecem daqueles que "não se inventam", ou seja, não me parecem poder ter sido sustentados, precedidos por uma intenção, não me parecem responder a alguma exigência consciente...
Permiti-me fazer algumas considerações, entre as quais apenas esta deve ser mantida em mente: que eu não o terminaria se seguisse todas as questões nas quais o livro de M. Martin Lamm me envolveu.
Entrei nele sem suspeitar que estaria entrando em uma floresta encantada, onde cada passo leva a voos repentinos de ideias, onde se multiplicam as encruzilhadas de hipóteses irradiantes, armadilhas psicológicas e ecos; onde cada vislumbre vislumbra perspectivas cobertas de enigmas, onde o caçador intelectual se empolga, se desvia, se perde, se reencontra e retoma a trilha... Mas não é de forma alguma uma perda de tempo. Eu adoro caçar, e há poucas caçadas mais significativas e diversificadas do que a caça ao Mistério de Swedenborg.

