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Matias Aires – paixões unidas à vaidade

segunda-feira 7 de julho de 2025

[7] Todas as paixões têm um tempo certo em que começam, e em que acabam: algumas são incompatíveis entre si, por isso para nascerem umas é preciso que acabem outras. O ódio e o amor nascem conosco, e muitas vezes se encontram em um mesmo coração, e a respeito do mesmo objeto. A liberdade, a ambição e a avareza são ordinariamente incompatíveis; manifestam-se em certa idade, ou ao menos então adquirem maior força. Não sei se diga que as paixões são umas espécies de viventes, que moram em nós, cuja vida, e existência, semelhantes à nossa, também têm um tempo certo, e limitado; e assim vivem, e acabam em nós, da mesma forma que nós vivemos no mundo, e acabamos nele. Com todas as paixões se une a vaidade; a muitas serve de origem principal; nasce com todas elas, e é a última que acaba: a mesma humildade, com ser uma virtude oposta, também costuma nascer de vaidade; e com efeito são menos os humildes por virtude do que os humildes por vaidade; e ainda dos que são verdadeiramente humildes, é raro o que é insensível ao respeito e ao desprezo, e nisto se vê que a vaidade exercita o seu poder ainda donde parece que o não tem.