(Deghaye2000)
Assim, em vez de enxergar em Goethe um amador pouco talentoso que insistia em perseguir a quimera de uma arte para a qual não tinha verdadeira vocação, preferimos considerar sua reflexão estética segundo sua finalidade própria, que parece, antes de tudo, responder a uma preocupação literária.
A especulação sobre as artes plásticas se insere em uma evolução que, propriamente falando, não é a de um pintor, nem de um escultor, nem mesmo de um verdadeiro historiador da arte. (…)
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Crítica Literária
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Goethe e as artes plásticas
1º de abril, por Murilo Cardoso de Castro -
Werther, Goethe
1º de abril, por Murilo Cardoso de Castro(Deghaye2000)
Goethe havia sido consagrado poeta pelos sucessos que muito cedo havia conquistado. No entanto, ele acreditou por muito tempo que sua vocação era dupla. Ele se considerava verdadeiramente predestinado às belas-artes. Foi apenas em 1788, na Itália, que sua desilusão foi total.
Certamente, Goethe sentiu, muito antes, uma certa ambiguidade. Werther é testemunha disso. Sua história é essencialmente a de um artista atingido pela esterilidade e que não se reconhece como poeta. (…) -
Possibilidades angélicas do amor humano em Dante
31 de março, por Murilo Cardoso de Castro(PLW1980)
Poder-se-ia dar centenas de outros exemplos da poesia persa, na qual nunca se pode dizer com certeza se o ’amado’ a quem se dirige é humano ou divino — precisamente porque ele ou ela é ambos ao mesmo tempo. Certamente tal figura, que assim medeia para o amante entre este mundo e o céu, merece acima de todos os outros ser chamada de Anjo.
No Ocidente cristão, com sua ênfase em uma única e suprema manifestação do Divino em forma humana, podemos perder esse senso das (…) -
Uma nova humanidade na obra de Hermann Hesse
30 de março, por Murilo Cardoso de Castro(Deghaye2000)
O projeto de uma nova humanidade é antigo na obra de Hesse. Está ligado ao declínio da humanidade presente que Hesse personifica quando fala da Europa. Para ele, a humanidade não é um coletivo, é sempre uma pessoa. O mesmo se aplica à Europa. É essa pessoa que morre e renasce.
Em um artigo de 1920, Hesse fala de uma doente que é a Europa. A psicanálise mostra que essa velha Europa, cuja cultura desmoronou, é uma grande neurótica: ein schwerkranker Neurotiker. Eis, portanto, (…) -
Dostoiévski, derrota do humanismo (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Em que consiste sua descoberta? Ele não se contenta em redescobrir a antiga e eterna verdade cristã sobre o homem, caída e esquecida no tempo do humanismo. A tentativa de um período humanista da história, a experiência da liberdade humana, não foram em vão. Não marcaram no destino humano uma pura deficiência. Uma alma nova nasceu dessa experiência, com novas dúvidas, um novo conhecimento do mal, mas também com novos horizontes, novas (…) -
Dostoiévski, escatologia (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski demonstra, por meio de sua antropologia, que a natureza humana é profundamente dinâmica, que um movimento ardente ocupa suas profundezas. O repouso, a imobilidade, existem apenas na superfície, no que forma a camada mais superficial do homem. Em seu íntimo, sob o véu dos costumes, sob a harmonia da alma, escondem-se tempestades, abrem-se abismos obscuros. Dostoiévski só se interessa pelo homem em sua mobilidade tempestuosa. Ele (…) -
Dostoiévski – Memórias do Subsolo (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
O homem do ’subsolo’ rejeita toda organização baseada na harmonia e felicidade universais. ’Não me surpreenderia nem um pouco’, diz o herói de ’Memórias do Subsolo’, ’se, de repente, inesperadamente, no meio de toda essa futura Razão universal, surgisse algum cavalheiro com uma fisionomia vulgar ou, melhor dizendo, retrógrada e debochada que, com os dois punhos nos quadris, nos dissesse: "E então! Senhores, não vamos reduzir de vez, com o (…) -
Dostoiévski e sua época (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski surge em outra época do mundo, em outro estágio da humanidade. Nele também o homem deixou de pertencer a essa ordem cósmica objetiva à qual pertencia o homem de Dante. Durante o período moderno, o homem tentou se fixar na superfície da terra, se encerrar em um universo puramente humano. Deus e o diabo, o céu e o inferno haviam sido definitivamente repelidos para a esfera do incognoscível, sem comunicação com o aqui-embaixo, até (…) -
Dostoiévski, sua concepção de homem e a de Dante e Shakespeare (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
É muito instrutivo comparar a concepção do homem em Dante, Shakespeare e Dostoiévski.
Para Dante, assim como para São Tomás de Aquino, o homem é uma parte orgânica da ordem objetiva do mundo, do cosmos divino. Ele é um dos degraus da hierarquia universal. Acima dele está o céu; abaixo, o inferno. Deus e o diabo são realidades que pertencem à ordem universal, impostas ao homem de fora. E os círculos do inferno, com seus tormentos (…) -
Dostoiévski, uma nova ciência do homem (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski é, antes de tudo, um grande antropologista, um experimentador da natureza humana. Ele descobre uma nova ciência do homem e aplica a ela um método de investigação até então desconhecido. A ciência artística – ou, se preferirmos, a arte científica de Dostoiévski – estuda a natureza humana em seus abismos sem fundo, em sua extensão sem [51] limites, expondo suas camadas mais profundas e mais ocultas. Trata-se de uma experiência (…)