Berdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Crime e Castigo foi concebido de forma diferente. O destino humano não se resolve ali na coletividade, na atmosfera ardente das relações humanas: é frente a frente consigo mesmo que Raskolnikov descobre os limites da natureza humana, é sobre sua própria natureza que ele faz suas experiências. O "tenebroso" Raskolnikov ainda não é um "enigmático" como Stavroguin ou Ivan. Ele representa um estágio menos avançado na estrada do arbítrio (…)
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Crítica Literária
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Dostoiévski – "Crime e Castigo" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de Castro -
Dostoiévski – "O Idiota" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
A concepção do Idiota opõe-se à do Adolescente e dos Demônios. Em O Idiota, a ação não se dirige para a figura central, o príncipe Míchkin, mas, ao contrário, parte dele em direção aos outros personagens. É Míchkin quem resolve o enigma de todos, especialmente o das duas mulheres, Aglaia e Nastácia Filíppovna. Ele as auxilia, repleto de pressentimentos proféticos e de clarividência intuitiva. As relações humanas são a única questão à qual (…) -
Dostoiévski – "Os Demônios" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
A mesma construção centralizadora é característica de "Os Demônios"; Stavroguin é um astro em torno do qual toda a ação gravita. Tudo tende para ele, como para um sol, tudo sai dele e retorna a ele. Chatov, Verhovenski, Kirilov, são tantos fragmentos da personalidade desagregada de Stavroguin, emanações dessa personalidade extraordinária, que se esgota ao se dispersar. O enigma de Stavroguin, o segredo de Stavroguin, tal é o tema de "Os (…) -
Dostoiévski – "O Adolescente" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Os romances de Dostoiévski são todos construídos em torno de uma figura central, seja porque os personagens secundários convergem para ela, ou porque, ao contrário, ela irradia em direção aos personagens secundários. Essa figura essencial sempre representa um enigma que todos se esforçam para desvendar. Aqui está, por exemplo, "O Adolescente", uma das obras mais notáveis e menos apreciadas de Dostoiévski. O livro inteiro gravita em torno (…) -
Tema central de Dostoiévski: o ser humano (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
A preocupação exclusiva de Dostoiévski, o único tema ao qual dedicou sua força criativa, é o homem e seu destino. Ele foi antropologista e antropocentrista a um grau indescritível. O problema do homem o absorveu até a frenesi, o devorou. A seus olhos, o homem não é um simples fenômeno natural, um fenômeno da mesma ordem que todos os outros, ainda que mais elevado: para ele, o homem é um microcosmo, o centro do ser, um sol ao redor do qual (…) -
Dostoiévski foi um realista? (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski foi um realista? Antes de elucidar essa questão, é preciso perguntar em [26] que medida uma arte original e grandiosa pode ser realista? Sem dúvida, o próprio Dostoiévski gostava de se intitular como tal e considerava que seu realismo era o próprio realismo da vida. Ele certamente não entendia essa palavra no sentido em que a crítica oficial a toma quando afirma a existência de uma escola realista cujo líder seria Gógol: nada (…) -
Dostoiévski (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski não foi apenas um grande artista, foi um grande pensador e um grande visionário: um dialético de gênio também, e o maior metafísico da Rússia. As ideias desempenham um papel preponderante em sua obra e sua admirável dialética ocupa um lugar igual ao de sua extraordinária psicologia. Essa dialética participa da própria natureza de sua arte: é através da arte que Dostoiévski penetra até seus fundamentos o mundo das ideias, e o (…) -
Dostoiévski – Os Demônios (3) (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
Num terceiro plano, que claramente era o de Dostoiévski, abordamos a mesma questão do ateísmo, mas de forma muito mais séria: o tema central em toda a obra de Dostoiévski não é a existência ou não de Deus, mas a possibilidade de o homem viver sem acreditar em Deus. Antes, porém, de discutirmos isso, devemos notar que essa questão leva dúvida à crença – não de fora, como faz a ciência (em que (…) -
Dostoiévski – Os Demônios (2) (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
No segundo plano, que de forma geral é o aceito, Os demônios é uma explicação ou profecia do que realmente aconteceu: o ateísmo provocaria a queda do regime czarista. O ateísmo erodiu um governo cuja autoridade se assentava “na graça de Deus” e que perdeu legitimidade quando os homens deixaram de acreditar em Deus. Chátov declara que “Para começar uma rebelião na Rússia, é preciso que se (…) -
Dostoiévski – Os Demônios (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
TODA OBRA-PRIMA PODE ser lida em vários planos, mas para que seja considerada uma obra-prima é preciso que todos os fios estejam organizados de maneira a formar uma unidade consistente em cada plano. Sobre Os demônios pode-se dizer que se trata, no plano inferior, e no entanto indispensável, de um roman-à-clef, em que tudo e todos podem ser verificados. A trama é retirada diretamente dos (…)