FryeSS
O universo mitológico tem dois aspectos. Em um aspecto, é a parte verbal da própria criação do homem, o que chamo de escritura secular; não há dificuldade quanto a esse aspecto. O outro é, tradicionalmente, uma revelação dada ao homem por Deus ou outros poderes além dele mesmo. Esses dois aspectos nos levam de volta à imaginação e à realidade de Wallace Stevens. A realidade, lembramos, é alteridade, a sensação de algo que não somos nós mesmos. Naturalmente pensamos no outro como a (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Northrop Frye (SS) – Universo mitológico
28 de maio, por Murilo Cardoso de Castro -
Couliano (MDO) – Mitos Dualistas do Ocidente
27 de maio, por Murilo Cardoso de CastroICMDO
Atribuem-se por vezes aos "dualismos do Ocidente" alguns traços comuns: o anticosmismo, ou seja, a convicção de que este mundo é mau; o antissomatismo, a crença de que o corpo é mau; o encratismo, uma forma de ascetismo que chega à rejeição do matrimônio e da procriação. Na maioria dos casos, os dualistas parecem ser docetas, isto é, além das inúmeras diferenças doutrinais, parecem não acreditar na realidade da paixão e morte de Jesus Cristo na cruz. Por fim, alguns dualistas (…) -
Labarrière (P) – Dante, um mestre da figura
26 de maio, por Murilo Cardoso de CastroLabarrièreP
Ao iniciar esta série de aulas, sinto vontade de colocá-las sob a tutela ou, pelo menos, sob a égide — ou, mais simplesmente, sob o signo — de Dante Alighieri. Nada menos que isso. Este poeta do pensamento, este pensador da poiesis, é também, e talvez sobretudo, um mestre da figura. Não no sentido de opor o figurativo ao abstrato: o que há de mais “abstrato”, em certo sentido, do que essa geometria sagrada que distribui o mundo dos mortos em círculos de sombra e luz? A (…) -
Henri Borel – Amor (4)
26 de maio, por Murilo Cardoso de CastroBorelWW
Fui despertado por um leve ruído próximo. Um fruto caíra da árvore atrás de nós. Quando levantei o olhar, vi a luz da lua brilhando no céu acima de nós.
O Sábio sentou-se ao meu lado e, amorosamente, inclinou-se para mim.
"Estás muito cansado, meu rapaz — disse preocupado. É demasiado para ti, em tão pouco tempo. Estavas tão cansado que adormeceste. Dorme também o mar, vês, nenhuma ruga quebra sua calma plácida que imóvel absorve a luz sagrada em seus sonhos. Mas precisas (…) -
Henri Borel – Amor (3)
26 de maio, por Murilo Cardoso de CastroBorelWW
"O que significa essa tristeza difusa por toda a natureza? — perguntei. Não é toda a Terra que geme de dor no crepúsculo? E chora, com cores languidas, com os topos curvados das árvores, com as montanhas vigilantes. Quando a natureza sofredora brilha diante de seus olhos, os humanos são tomados por uma dor maravilhosa.
É como se a própria natureza expressasse seu desejo de Amor. E tudo se torna nostalgia, os mares, as montanhas, as nuvens."
E o Sábio disse: "É a mesma dor que (…) -
Henri Borel – Amor (2)
26 de maio, por Murilo Cardoso de CastroBorelWW
És ainda como um rio, que conhece apenas suas margens luminosas, inconsciente da força que o move, mas que depois, inevitavelmente, fluirá para o grande mar. Por que sentimos aquele desejo de felicidade, de felicidade humana, que dura um instante e depois se vai?
Chuang Tzu disse: ’A suprema felicidade não é felicidade.’
Não achas repreensível e insensato que as pessoas caiam à mercê de uma vontade que vacila em busca de um instante de felicidade, que se esvai no mesmo (…) -
Henri Borel – Amor (1)
26 de maio, por Murilo Cardoso de CastroBorelWW
Tornou a anoitecer. Sentamo-nos numa colina suave, íntima e serena, no grande silêncio daquele tempo solene.
As montanhas ao nosso redor jaziam em humilde devoção, como ajoelhadas, imóveis, sob o Céu, a receber a bênção da noite que lentamente descia. As árvores solitárias, espalhadas pelas colinas, permaneciam imóveis em atenta devoção.
O mar murmurava, vago e indefinido, perdido em sua própria imensidão. Havia paz no ar, e os sons, como preces, elevavam-se ao Céu.
O Sábio (…) -
Herman Hesse – Obra de Meyrink
24 de maio, por Murilo Cardoso de CastroGMCH Milhares de pessoas hoje fazem Gustav Meyrink pagar por seus sucessos fulminantes. Para começar, esse escritor foi deixado por vinte anos escrevendo seus pequenos contos divertidos, ácidos, frequentemente espirituosos, sem receber a menor atenção. Durante esses longos anos, Meyrink continuou trabalhando imperturbavelmente, fiel ao mesmo princípio: acertar as contas com os burgueses sem fazer concessões ao público. Quando, quase aos cinquenta anos, ele teve um enorme sucesso com O Golem, (…)
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Jorge-Luis Borges – Obra de Meyrink
24 de maio, por Murilo Cardoso de CastroGMCH
Em Genebra, por volta de 1916, sob a influência das obras vulcânicas de Carlyle, empreendi sozinho o estudo da língua alemã. Meu conhecimento prévio resumia-se a algumas declinações e conjugações. Consegui um pequeno dicionário inglês-alemão e ataquei, com uma temeridade que não parou de me surpreender, as páginas do Fausto de Goethe e da Crítica da Razão Pura de Kant. Pode-se imaginar o resultado. Não me deixei impressionar e adicionei a esses volumes de difícil acesso o Lyrisches (…) -
Meyrink (GMCH) – O Relojoeiro
24 de maio, por Murilo Cardoso de CastroGMCH
O Relojoeiro representa o caminho pessoal, a iniciação de Gustav Meyrink. Mas se ele permanece pessoal, de que adianta esclarecer e explicar esse caminho?
Para cada um, o caminho é diferente, mas o processo e os graus são os mesmos. É verdade que o conteúdo difere; mas, que é preciso percorrê-los e como eles se sucedem, todos vivificantes — esta exposição pode ajudar o leitor a esclarecer seu caminho pessoal e seu grau. Da mesma forma, também pode mostrar-lhe a chave, onde e como (…)