(Vernant1990)
Nesta segunda versão do mito, reconhece-se a estrutura de pensamento que serve de modelo a toda a física jônia. Cornford dá esquematicamente a seguinte análise: 1.°) no começo, há um estado de indistinção onde nada aparece; 2.°) desta unidade primordial emergem, por segregação, pares de opostos, quente e frio, seco e úmido, que vão diferenciar no espaço quatro províncias: o céu de fogo, o ar frio, a terra seca, o mar úmido; 3.°) os opostos unem-se e interferem, cada um (…)
Excertos de obras literárias, cênicas e gráficas, além de crítica literária, com foco no imaginal mitográfico, lendário e fantástico.
Matérias mais recentes
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Vernant – Mito como modelo da física jônica
26 de junho, por Murilo Cardoso de Castro -
Vernant – Do Mito à Razão (I): O Mito Grego
26 de junho, por Murilo Cardoso de Castro(Vernant1990)
No decurso dos últimos cinquenta anos, a confiança do Ocidente neste monopólio da razão foi todavia abalada. A crise da física e da ciência contemporâneas minou os fundamentos — que se julgavam definitivos — da lógica clássica. O contato com as grandes civilizações espiritualmente diferentes da nossa, como a da Índia e a da China, rompeu os quadros do humanismo tradicional. O Ocidente já não pode hoje considerar o seu pensamento como sendo o pensamento, nem saudar na aurora (…) -
Vernant – Do Mito à Razão (III): Filosofia, Política, Moeda e Ser
26 de junho, por Murilo Cardoso de Castro(Vernant1990)
A solidariedade que constatamos entre o nascimento do filósofo e o aparecimento do cidadão não é para nos surpreender. Na verdade, a cidade realiza no plano das formas sociais, esta separação da natureza e da sociedade que pressupõe, no plano das formas mentais, o exercício de um pensamento racional. Com a Cidade, a ordem política destacou-se da organização cósmica; aparece como uma instituição humana que é objeto de uma indagação inquieta, de uma discussão apaixonada. Neste (…) -
Nuvem do Desconhecido Huxley
25 de junhoAldous Huxley — Nuvem do Desconhecido Retirado do livro "Eminência Parda", Globo, 1943
Benet de Canfield era um homem ilustrado e, como tal, lera não apenas o Areopagita, mas todos os místicos importantes da Idade Média e do século XVI, a quem os escritos do Pseudo-Dionísio tinham servido de inspiração e, confortadora garantia da ortodoxia adotada. Todo artista nasce com certos talentos especificamente seus; mas tem de desenvolvê-los dentro dos quadros da tradição artística em vigor. O (…) -
Huxley Contemplação
25 de junho, por Murilo Cardoso de CastroAldous Huxley — A Filosofia Perene Contemplação, Ação e Utilidade Social Em todas as formulações históricas da Filosofia Perene é axiomático que o fim da vida humana é a contemplação, ou a direta e intuitiva consciência de Deus; que a ação é o meio para aquele fim; que a sociedade é boa, na medida em que torne a contemplação possível aos seus membros; e que a existência, pelo menos, de uma minoria de contemplativos é necessária para o bem-estar de qualquer sociedade. Na filosofia popular do (…)
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Huxley: dualité
25 de junho, por Murilo Cardoso de CastroOriginal
That this insight into the nature of things and the origin of good and evil is not confined exclusively to the saint, but is recognized obscurely by every human being, is proved by the very structure of our language. For language, as Richard Trench pointed out long ago, is often ‘wiser, not merely than the vulgar, but even than the wisest of those who speak it. Sometimes it locks up truths which were once well known, but have been forgotten. In other cases it holds the germs of (…) -
Wasserstrom (SWRR) – Corbin, Goethe
14 de junho, por Murilo Cardoso de CastroHenry Corbin — Goethe Excertos da tradução em português de Dimas David Santos Silva, do livro de Steven Wasserstrom, "Religion after Religion"
Todo o efêmero nada mais é que um símbolo Henry Corbin, versão de Goethe, 1969.
Goethe, muito mais do que seu predecessor Hamann, exerceu uma forte influência sobre Corbin e Eliade, e uma significativa, ainda que menor, influência sobre Scholem. Mais especificamente, todos os três acharam que seu segundo Fausto era um marco muito precioso. (…) -
Klimov (1997) – Milosz e Boehme
3 de junho, por Murilo Cardoso de CastroKlimov1997
Em muitos pontos, Boehme e Milosz poderiam ser comparados. Na Epístola a Storge, por exemplo, encontramos esta declaração, que nosso místico poderia ter usado como epígrafe de um de seus capítulos: "Onde nada está situado, não há passagem de um lugar para outro, Storge, mas apenas de um estado — e de um estado de amor — para outro". (Ars magna, Paris, André Silvaire, 1961, p. 28.) Para Boehme, a Criação divina é essencialmente Magia. Disso decorre o que André Breton compreendeu (…) -
Charbonnier (GACM) – Apresentação da obra de Milosz
31 de maio, por Murilo Cardoso de CastroGACM
Para criar novos espaços poéticos, dócil à sua estrela "que alguns têm por nascença, que ninguém jamais adquiriu — marca sublime dos grandes criadores em todos os ramos do belo", Milosz permaneceu unido ao Verbo, do qual era portador, para revelar ao mundo um reflexo da Sabedoria Divina. Extrair esse fogo sagrado de seu invólucro, transformá-lo em uma pedra preciosa digna da Jerusalém Celeste, transmiti-lo por meio das palavras — essa foi verdadeiramente a função que o poeta assumiu. (…) -
Northrop Frye (SS) – Universo mitológico
28 de maio, por Murilo Cardoso de CastroFryeSS
O universo mitológico tem dois aspectos. Em um aspecto, é a parte verbal da própria criação do homem, o que chamo de escritura secular; não há dificuldade quanto a esse aspecto. O outro é, tradicionalmente, uma revelação dada ao homem por Deus ou outros poderes além dele mesmo. Esses dois aspectos nos levam de volta à imaginação e à realidade de Wallace Stevens. A realidade, lembramos, é alteridade, a sensação de algo que não somos nós mesmos. Naturalmente pensamos no outro como a (…)