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Malba Tahan – Mil e Uma Noites
quinta-feira 26 de junho de 2025
É problema altamente controvertido a origem das Mil e uma noites.
Massudi, que viveu no século XI e foi um dos escritores mais viajados do seu tempo, afirmou que As mil e uma noites foram tiradas do livro persa Hezar Afsaneh [Mil histórias]. Esta última obra, segundo se afere de uma referência que a ela faz Firduzzi, no prefácio de Schanameh [Livro dos reis], é atribuída a um poeta persa, Rasti, que teria vivido na segunda metade do século X. E, assim, o erudito Massudi parece estar com a razão, pois as duas heroínas principais das Mil e uma noites, Sherazade e Dinazade, estão com seus nomes persas nas páginas famosas de Hezar Afsaneh.
Mas os persas, de acordo com a opinião de Clemente Huart, foram colher na Índia o enredo dos principais contos que figuram no famoso Hezar Afsaneh.
O orientalista e historiador alemão Gustavo Weill [1808-1889], que foi professor de línguas orientais em Heidelberg, afirma que os contos árabes das Mil e uma noites diferem totalmente das primitivas formas indiana e persa.
A difusão extrema desses contos no espaço e no tempo — universalidade e imortalidade — decorrem de condições que merecem ser frisadas. São fundamentalmente obra de imaginação e inocência.
O QUE CONTÉM AS MIL E UMA NOITES
O verdadeiro livro das Mil e uma noites, na sua forma completa, não é obra cuja leitura possa ser aconselhada para crianças ou adolescentes. É um livro profundamente contraindicado sobre vários aspectos, pois muitos dos seus contos foram imaginados com a finalidade exclusiva de divertir adultos.
Esse livro, que a saudosa poetisa Cecília Meireles considerava glorioso, encerra em suas páginas senões bem graves: erros e anacronismos.
Quando observado numa tradução, não escoimada da parte obscena, vamos encontrar na imensa cadeia das Mil e uma noites:
contos maravilhosos e de aventuras;
contos de amor e intrigas de namorados;
romances de viagens;
aventuras de cavalaria e guerra;
lendas fantásticas cheias de crueldades;
cenas de zombaria contra judeus e cristãos;
contos do gênero policial;
anedotas brejeiras e pornográficas;
episódios fantásticos e obscenos;
lutas religiosas;
parábolas e apólogos;
fábulas;
histórias de erudição [até com problemas de Matemática].
E todos os capítulos são enriquecidos por delicados trechos poéticos nos quais transparece a beleza, a suavidade e o encantamento dos versos árabes.
FONTES DAS MIL E UMA NOITES
Em muitos livros de histórias em série os árabes foram buscar inspiração para os seus contos maravilhosos. Poderíamos citar os seguintes:
Mahabharata, poema escrito em sânscrito;
Ramayana, poema indiano de origem muito remota;
Dasa-Koundra Tcharita [Aventuras de dois adolescentes]. Livro muito popular na Índia;
Katha-Sarit-Sagara [Oceano infindável de histórias]. Contos compilados por Samodéva;
Tutinameh [Contos de um papagaio]. Pequenos apólogos que se afastam muito dos bons princípios morais;
Contos de Nang-Tantrai [Contos da jovem rendeira]. Histórias da Índia antiga escritas sob a influência da religião bramânica;
Fábulas de Kalila e Dina, que foi traduzido para o português pelo professor Ragy Basile;
Hitopadexa [Instrução útil]. Coleção de fábulas e apólogos morais da Índia. Para este livro há uma excelente tradução de monsenhor Sebastião Salgado.

